Bom senso: política versus religião
Mais do que nunca é preciso que as autoridades religiosas, muito mais do que os políticos, abram seus olhos para esse fenômeno, e defendam a liberdade religiosa e política.
É preciso que as autoridades religiosas cobrem dos homens que vão assumir os poderes do Estado em 2023, o total cumprimento das normas que separam a política e a religião para que não retrocedam no tempo, tirando o direito e a liberdade de todos os homens e mulheres de, pelo menos, viver a verdadeira paz com Deus.
A questão política na prática religiosa é um tema que acompanha a humanidade há milênios e tem demonstrado, ao longo da história da humanidade, toda a sua imperfeição e desmando trágico para indivíduos e comunidades. Não é por menos que a sabedoria popular e a inteligência das pessoas entenderam que o Estado não deveria oficialmente interferir nesses assuntos que envolvem fé e crença.
A grande maioria das nações atualmente tem o laicismo como princípio político, inclusive adotando normas em suas constituições gerais, o que rejeita totalmente a influência das igrejas na esfera política, ou vice-versa. O Brasil, onde a larga maioria da sua população é adepta ao Cristianismo, é uma nação constitucionalmente laica.
Mas, nem sempre foi assim: o povo brasileiro com plena liberdade de cultos religiosos. Até o regime Imperial, as perseguições contra pessoas ou grupos religiosos, diferentes dos católicos, foram exemplares, fazendo que seus adeptos fossem punidos e até massacrados em via pública.
A Constituição Republicana de 1891 amparou o Estado laico, inclusive no ensino nas escolas. Isto significa que todas as pessoas têm livre escolha e liberdade total para praticar a religião que escolher e bem entender, mas sem prejudicar a escolha nem a decisão de outra pessoa. E é nesse ponto – livre sem prejudicar os demais – que se deve aqui fazer algumas observações sobre como essa norma, neste pleito de 2022, vem sendo ultrajada no Brasil.
As igrejas e/ou templos religiosos em nosso país passaram a ser verdadeiras arenas de conquistas eleitorais, como se isso não fosse um grave desrespeito à preferência religiosa de nossa gente, que se divide em Católicos e Evangélicos em quase 100%. Lideranças religiosas passaram a ser protagonistas de primeira linha no processo eleitoral, aliando-se ou divergindo dos próprios candidatos aos cargos eletivos, e isso durante os cultos, missas e demais celebrações religiosas. Passam por cima de toda a sensibilidade humana com agressividade oral e física, como se a política fosse o fim de tudo e a esperança eterna da humanidade.
Não se pode admitir que essa prática, que ganhou dimensões assustadoras, possa continuar no futuro. Usar a religião como muleta para propósitos políticos inconfessáveis, e até desonrosos, enganando o povo com propostas políticas duvidosas, é um atraso dos mais graves.
Mais do que nunca é preciso que as autoridades religiosas, muito mais do que os políticos, abram seus olhos para esse fenômeno, e defendam a liberdade religiosa e política, explicando e estabelecendo a diferença entre ambas, para evitar exemplos evidentes dessa falta de bom senso, como acontece no Irã, país religiosamente fundamentalista, onde uma mulher é presa, torturada e morta pelas autoridades policiais e repressivas, por não usar a “burka” ou por deixar seus cabelos ao vento, porque não pode exercer sua cidadania nem exercitar sua liberdade.
Acorda, Brasil!