ESG e lucro precisam andar juntos na visão de gestores
Como tendência ao papel social e ambiental das empresas e dos líderes, os investimentos com critérios de ESG têm ganhado muita força ultimamente. Entretanto, apesar da forte pressão para que enquadrem seus negócios de forma a contribuir mais ativamente para a sociedade e o meio ambiente, especialistas em gestão lembram que não se deve focar somente nesse tipo de propósito. Para eles, ESG e lucro precisam andar juntos.
“Apesar de toda boa intenção, de todo propósito, uma empresa não sobrevive sem resultado, sem performance, sem lucro”, opina Marcelo Miranda, CEO da Consolis Tecnyconta e conselheiro ABRH. Para ele, o ponto é combinar propósito com resultado. “Hoje, nossa sociedade muitas vezes polariza as discussões – ou você é A, ou você é B. No caso, ou a empresa é capitalista e busca o lucro acima de tudo, ou é uma empresa que tem propósito. Mas a riqueza da transformação que estamos vivendo é conseguir que os líderes e as corporações consigam trocar o OU pelo E”, diz.
Para Marcelo, essa combinação de performance e resultado é o que dará sustentabilidade a toda a transformação no longo prazo. “Se não existir esse elo, as empresas tentarão atingir padrões mínimos de ESG para conseguir recursos e seguir seus planos sem, de fato, se preocupar com a mudança no longo prazo”, diz. “Ou, como em muitas empresas, ESG seguirá fora da agenda principal de gestão”, completa.
Mudança de pensamento
Miranda explica que a mudança real vem quando a empresa se propõe a discutir o ESG em seu cerne, seu core business. E faça isso de forma que gere riqueza econômica. “Assim, tiramos o ESG de um departamento e trazemos de fato para a agenda principal da empresa, para o seu propósito de existir”.
“Sem essa conexão forte, teremos de um lado empresas fingindo, ou fazendo o mínimo pois são agora obrigadas pelo mercado, e de outro lado sonhadores que querem resolver todos os problemas do mundo por meio das empresas. Nem lá, nem cá. Não é exclusão, é inclusão”, pondera o executivo.
Fusão
Uma pesquisa da Morgan Stanley aponta que o retorno de investimentos sustentáveis não se diferencia do lucro dos modelos tradicionais. Além disso, investimentos sustentáveis podem oferecer menor risco de mercado. “Investimentos sustentáveis apresentam um downside deviation 20% menor que os fundos tradicionais”, cita o levantamento.
“A grande transformação que vivemos é exatamente nessa fusão: como que o dinheiro investido pode, de forma conjunta, trazer retorno e ser aplicado em empresas ou projetos que consigam apresentar uma contribuição positiva à sociedade e ao meio ambiente?”, questiona Marcelo Miranda.
Segundo ele, é possível perceber que muitas empresas têm feito um excelente trabalho de conectar propósito com mudança real. “É fácil? Não. Muito mais fácil é continuar fazendo as mesmas coisas que sempre se fez, pensando cada um só no próprio resultado”, critica. “Aqueles que realmente têm mergulhado em fazê-lo, têm conseguido excelentes resultados, mesmo com grandes dificuldades no processo, como é comum em toda grande transformação”, comenta.
“Mas não é filantropia, não é obrigação. É consciência. É criar negócios com produtos ou serviços realmente bons, com essência realmente válida e útil e que, assim, geram um efeito positivo em toda a cadeia que tocam e geram lucro. Não adianta só fazer o bem, pois um modelo apenas de poesia não se sustenta”, alerta. “O lucro não é inimigo”, conclui Marcelo Miranda.