Meliponicultura agora é uma atividade agropecuária legalizada

O Governo do Estado do Ceará sancionou no último dia 11 de janeiro a lei Nº 17.896 que regulariza a criação, o manejo, o comércio e o transporte de abelhas de ferrão atrofiado no estado. A meliponicultura, como é conhecida a técnica que envolve esses insetos, passa, a partir dessa data, a ser considerada como atividade agropecuária legal que pode ser exercida com fins lucrativos.

Por meio da lei, os meliponicultores poderão ser registrados como produtores agropecuários. Isso irá aumentar os padrões técnicos e profissionais da área, bem como garantir que todo e qualquer produto proveniente da técnica seja comercializado conforme as exigências sanitárias do Ceará. Carlito Lima, agente de mobilização e especialista em meliponicultura da Associação Caatinga, afirma que a partir da criação da lei técnica será mais valorizada. “A meliponicultura vai ter um reconhecimento mais importante entre as atividades agropecuárias e mais instituições e empresas vão investir nesse ramo, o que é uma ótima oportunidade para os pequenos e médios produtores”, explica.

O que é meliponicultura?

Meliponicultura é o nome dado à criação racional de abelhas com ferrão atrofiado (popularmente conhecidas como “abelhas sem ferrão”). Rico em vitaminas e minerais, o mel proveniente dessa prática tem propriedades medicinais e é aproveitado pelos povos indígenas antes mesmo da colonização brasileira.

Por terem ferrões atrofiados, essas abelhas são dóceis, ou seja, não conseguem machucar os humanos. Dessa forma, a meliponicultura dispensa o uso de equipamentos de proteção e pode ser realizada até mesmo dentro de casa em áreas urbanas ou rurais.

Apesar de ser pouco difundida entre os cursos técnicos de nível médio e superior, a prática da meliponicultura é bastante promissora. A propagação das técnicas de manejo e criação de abelhas sem ferrão é parte estratégica para estimular a geração de renda e o manejo sustentável de recursos naturais, já que o mel produzido por esses insetos chega a ser comercializado por até R$200.

A meliponicultura ajuda na preservação ambiental

Grande parte das abelhas de ferrão atrofiado do Brasil são originárias da Caatinga e, por isso, têm uma importância fundamental para a flora da região, visto que elas estão mais adaptadas para polinizar as espécies nativas do Nordeste.

Por isso, o desenvolvimento da meliponicultura está diretamente correlacionado com a proteção das florestas do semiárido, uma vez que a abelha sem ferrão, para viver de forma saudável, necessita de uma grande quantidade de árvores nativas. Ou seja, o manejo dessas espécies tem relação direta com o combate aos efeitos do aquecimento global e com a manutenção dos serviços ecossistêmicos da Caatinga.

Por serem originárias da Caatinga, as colônias de abelhas sem ferrão são altamente dependentes da existência de árvores nativas que abrigam seus ninhos e as protegem de potenciais predadores. Assim sendo, estes insetos sofrem com a perda de hábitat natural e degradação do semiárido.

Atividades da Associação Caatinga

O projeto “No Clima da Caatinga”, que é realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, desenvolve a meliponicultura em comunidades sertanejas de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). As comunidades parceiras do projeto estão ao redor da Reserva Natural Serra das Almas, unidade de conservação de 6.285 hectares que é gerida pela Associação Caatinga desde 2000. Com isso, o objetivo do No Clima da Caatinga é promover a meliponicultura para conservar e proteger o bioma Caatinga, além de viabilizar renda extra para as famílias parceiras da instituição por meio da venda do mel produzido.

Durante a quarta fase de execução do “No Clima da Caatinga”, o projeto irá acompanhar 10 famílias parceiras que já desenvolvem a meliponicultura a fim de transformá-las em produtores agropecuários especializados no manejo da Jandaíra (Melipona subnitida), que é uma abelha sem ferrão nativa da Caatinga que corre risco de extinção.

Para Marlene Gonçalves, moradora da comunidade de Realejo (Crateús/CE) que é parceira do No Clima da Caatinga desde 2016 e possui sete enxames de abelha em casa, os insetos são como integrantes da família. “A criação de abelhas é uma coisa que eu amo de coração, cuido das minhas abelhas como se eu cuidasse das minhas crianças, eu quero bem demais às minhas abelhas”.

A Reserva Natural Serra das Almas possui um meliponário que abriga até 100 enxames de jandaíra. Por meio da execução do projeto, técnicos realizam capacitações de meliponicultura nas comunidades rurais que estão ao redor da reserva e, ao final do curso, a equipe distribui enxames de jandaíra para aqueles que demonstrarem interesse em começar a atividade.

Atualmente, o projeto No Clima da Caatinga contempla 80 famílias parceiras, já capacitou 341 pessoas e distribuiu 174 enxames de jandaíra.

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