Insegurança alimentar e as novas doenças

Por: Fernando Rizzolo – advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais.

Um grande problema do Brasil atual é o fato de ter que lidar com as novas doenças ao mesmo tempo em que o país atravessa uma situação de insegurança alimentar que atinge parcela significativa da população. Assim foi com a Covid-19, em consequência da qual mais de 620.000 pessoas morreram, grande parte em razão da precariedade no atendimento básico oferecido à época, que foi alvo de políticas ideológicas e outros problemas de gestão, principalmente pelo descaso por parte do governo no início da pandemia no tocante à estrutura de vacinação e atendimento.

O mapeamento do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil aponta que a pandemia agravou a fome no país, que soma atualmente 33,1 milhões de pessoas que não têm o que comer. Em comparação com 2020, são 14 milhões de brasileiros a mais em situação de insegurança alimentar grave em 2022, sendo as regiões do Norte e Nordeste as mais impactadas, segundo dados revelados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Ao analisarmos o número de cidadãos vulneráveis no contexto da Saúde Pública, não nos resta a menor dúvida de que estamos fragilizados em termos estruturais e impossibilitados de salvaguardar o atendimento médico através do SUS àqueles que não têm acesso aos planos de saúde. A fome, com efeito, propicia um aumento das doenças de base, além das que estão ainda afetando a população em geral, como a Covid-19 e, mais recentemente, a varíola dos macacos.

Em relação a essa última, a OMS decretou emergência de saúde, e o próprio Ministério da Saúde já confirma mais de 1369 casos da varíola dos macacos até o dia 1 de agosto de 2022. Só em São Paulo já temos 1031 infecções confirmadas, o que faz o estado liderar o “ranking”. O Rio de Janeiro aparece na sequência, com 169 registros. Desde maio o mundo enfrenta o maior surto do vírus fora da África. Segundo estudo publicado esta semana no New England Journal of Medicine, a doença provocou até agora cinco mortes e é transmitida principalmente pelo sexo, mas pode também ser transmitida por meio de qualquer tipo de contato físico. Como se não bastasse, a OMS alerta para um novo tipo de hepatite: a aguda, que causa inflamação do fígado.

Isto posto, resta-nos esperar a atenção devida à Saúde Pública no Brasil, mantendo todas as políticas já adotadas anteriormente, durante a pandemia de Covid-19, e ampliando os investimentos em saúde, valorização do SUS, melhoria na gestão dos estoques de vacinas, formação e valorização dos profissionais da saúde e, acima de tudo, o combate à miséria e a implementação de projetos visando minimizar a insegurança alimentar, ao mesmo tempo informando a população sobre as novas doenças e formas de preveni-las; afinal, mais importante do que as eleições que estão por vir é a saúde do povo brasileiro, neste momento de imensa vulnerabilidade imunológica e econômica.

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