Holofotes voltados à ciência em meio à pandemia
Por Omar Rodrigues*
Comunicar ciência é sempre um grande desafio, pois exige do profissional de comunicação trabalhar sob duplo rigor: o científico e o jornalístico – ambos calcados na necessidade de se investigar e apurar informações e dados até o ponto em que não haja mais dúvida sobre a veracidade do que é dito.
A informação científica de qualidade, que sempre foi de extrema importância, tornou-se ainda mais imprescindível no cenário provocado pela pandemia do novo coronavírus. Desde que a doença começou a se espalhar pelo mundo, temos visto uma profusão de notícias disseminadas nem sempre com o devido cuidado, em detrimento daquilo que deveria ser o objetivo de tudo o que deriva da produção científica: o esclarecimento da sociedade.
Para combater isso, criou-se no debate público uma movimentação em favor do fortalecimento da ciência. Veículos de mídia contam hoje com editorias criadas para informar exclusivamente sobre os diversos aspectos da pandemia, com pesquisadores como fontes em programas jornalísticos ao longo de toda a programação e com intensos debates em torno de assuntos antes restritos às rodas acadêmicas. Tudo para esclarecer a população em relação a uma doença que pegou todos de surpresa e causou grandes impactos sociais, culturais, econômicos e ambientais.
Aos poucos, a sociedade aumenta a percepção do valor da ciência e da importância das informações que ela produz. No início de maio, a Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência divulgou manifesto no qual ressalta que “divulgar pesquisas científicas ajuda a tornar as pessoas mais informadas sobre como a ciência e a tecnologia estão em nosso cotidiano. Trata-se também de inspirar crianças e jovens para um mundo onde o conhecimento abre portas”.
No âmbito da comunicação científica, a conservação do meio ambiente é um tema que pauta de forma recorrente grandes debates, tangenciando, inclusive, aspectos relevantes para se evitar novas pandemias, como a redução do desmatamento e o combate ao tráfico de animais silvestres. Neste caso, comunicar bem significa demonstrar à população a conexão entre a proteção da natureza e o bem-estar social, a saúde e o desenvolvimento sustentável. Parte essencial dos mais diversos projetos de pesquisa e preservação da biodiversidade, desenvolvidos ou apoiados por organizações que atuam há décadas com este propósito, está em comunicar o conhecimento e as conquistas para a sociedade, demonstrando a importância do nosso patrimônio natural.
De pouco adianta a produção científica se os resultados por ela obtidos não ajudam no esclarecimento das pessoas. Assim, comunicar ciência também faz parte da ciência. Em meio ambiente, reforçamos que “é preciso conhecer para preservar”. Significa dizer que somente a partir do momento em que as pessoas conhecem a biodiversidade, têm contato com a sua beleza, vivenciam experiências e entendem os riscos a que está sujeita é que terão ferramentas e motivações adequadas para preservá-la.
Sem dúvida, a crise do coronavírus criou uma oportunidade para a comunicação científica se fortalecer no mundo e no Brasil, principalmente por despertar maior respaldo da população em relação ao trabalho científico. Jornalistas e profissionais de comunicação corporativa, assim como empresas e outras organizações, têm agora um compromisso ainda mais forte em produzir conteúdo de qualidade, baseado em informações confiáveis e endossados por fontes especializadas. Esse é o caminho para que a comunicação científica se fortaleça e para que o esforço empenhado na validação da ciência durante a pandemia não sucumba com a disseminação de más práticas.
*Omar Rodrigues é gerente de Comunicação e Relações Institucionais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e gerente de Programas Sociais e Comunicação do Instituto Grupo Boticário