Fortaleza, 15 de março, exposição “Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922” Multiarte e Pinakotheke Cultural
A Multiarte e a Pinakotheke Cultural, em colaboração como Instituto Victor Brecheret, apresentam a exposição “Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922”, de 15 de março a 22 de abril de 2022, na Galeria Multiarte, em Fortaleza. Com aproximadamente 50 obras, oito delas integrantes do histórico evento no Theatro Municipal de São Paulo em 1922, a exposição destaca, em quatro módulos, raros e emblemáticos trabalhos de Victor Brecheret (1894-1955) e de outros artistas modernistas: Anita Malfatti (1889-1964), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Zina Aita (1900-1967), Helios Aristides Seelinger(1878-1965) e Tarsila do Amaral (1886-1973). Outras raridades são as esculturas em terracota “São Francisco com bandolim” (década de 1940) e “Cabeça feminina” (década de 1940), de Brecheret; o desenho “Cabeça de homem (verde)”, 1915-1916, de Anita Malfatti; e três desenhos que Di Cavalcanti fez entre 1917 e 1924 para seu lendário álbum de gravuras “Fantoches da meia-noite”: “Fantoche com baralho”, “Fantoche com leque” e “Fantoche no piano”.
Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922
Daisy Peccinini
“O protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização da Semana de 22 define-se por sua contribuição como importante precursor do evento. Brecheret é o elemento polarizador do grupo dos futuristas de São Paulo desde sua descoberta por eles em janeiro de 1920. A análise de suas obras expostas na Semana mostra a excelente formação na Itália junto a Arturo Dazzi e a importante influência de Ivan Meštrović. Os destaques da crítica italiana a suas esculturas, em mostras coletivas em 1916 e 1919, em Roma, comprovam as qualidades do jovem escultor, muito seguro e determinado em relação a sua arte, e são credenciais para que Brecheret seja uma bandeira de luta, um trunfo dos modernistas de São Paulo. O artista estava ausente do país, em Paris, desde julho de 1921, pensionado pelo governo paulista por cinco anos, mas presente com suas obras. Na verdade, era uma destacável contribuição, como importante precursor da Semana de 22. Tornara-se Brecheret o polo do grupo dos futuristas de São Paulo. Um trunfo dos modernistas. As peças modernas apresentadas materializavam os ideais e a nova sensibilidade que buscavam e que lutavam por implantar. Ali estava Gênio, Ângelus, Soror dolorosa, Ídolo, Victória, Regresso, Pietá, Cabeça de Mulher, Cabeça de Cristo, Sapho, Torso, Baixo relevo. Deve-se observar que somente Anita Malfatti e Brecheret expuseram doze obras, os demais artistas apresentaram um número menor de trabalhos.”
Brecheret e a Semana (REVISTA USP, São Paulo, n. 94, p. 39-48, Junho/Julho/Agosto 2012)
Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922
Daisy Peccinini
“O protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização da Semana de 22 define-se por sua contribuição como importante precursor do evento. Brecheret é o elemento polarizador do grupo dos futuristas de São Paulo desde sua descoberta por eles em janeiro de 1920. A análise de suas obras expostas na Semana mostra a excelente formação na Itália junto a Arturo Dazzi e a importante influência de Ivan Meštrović. Os destaques da crítica italiana a suas esculturas, em mostras coletivas em 1916 e 1919, em Roma, comprovam as qualidades do jovem escultor, muito seguro e determinado em relação a sua arte, e são credenciais para que Brecheret seja uma bandeira de luta, um trunfo dos modernistas de São Paulo. O artista estava ausente do país, em Paris, desde julho de 1921, pensionado pelo governo paulista por cinco anos, mas presente com suas obras. Na verdade, era uma destacável contribuição, como importante precursor da Semana de 22. Tornara-se Brecheret o polo do grupo dos futuristas de São Paulo. Um trunfo dos modernistas. As peças modernas apresentadas materializavam os ideais e a nova sensibilidade que buscavam e que lutavam por implantar. Ali estava Gênio, Ângelus, Soror dolorosa, Ídolo, Victória, Regresso, Pietá, Cabeça de Mulher, Cabeça de Cristo, Sapho, Torso, Baixo relevo. Deve-se observar que somente Anita Malfatti e Brecheret expuseram doze obras, os demais artistas apresentaram um número menor de trabalhos.”
Brecheret e a Semana (REVISTA USP, São Paulo, n. 94, p. 39-48, Junho/Julho/Agosto 2012)
BIOGRAFIAS
VICTOR BRECHERET
Brecheret nasceu em 15 de dezembro de 1894, na cidade de Farnese, província de Viterbo, na Itália, e muito criança ficou órfão de pai e mãe, indo morar com os tios Augusto e Paulina Nanni. Desde pequeno adorava fazer bonecos de barro, que queimava no forno de sua casa. Num certo dia, enquanto caminhava pela rua, encontrou no chão uma revista com ilustrações fotográficas de obras de Auguste Rodin; a descoberta lhe deu inspiração para o que queria ser no futuro: escultor!
Aos 18 anos, começou a frequentar o curso do Liceu de Artes e Ofícios, tendo aulas de desenho, modelagem, entalhe em madeira. Durante o dia, trabalhava na fábrica de sapatos do tio, e à noite, ia ao curso. Após quase dois anos de estudos, um dos professores do Liceu chamou sua tia e lhe disse: “Senhora, nós não podemos mais ensinar nada para esse menino. Ele tem um talento fantástico. Se vocês pudessem levá-lo para Roma ou Paris, ele poderia aprender o que quer. Ele tem muito talento, eu acho que valeria a pena”. A família lhe comprou uma mala nova e uma passagem de navio para a Itália. Em Roma, começou como aprendiz de Arturo Dazzi, escultor clássico e famoso na arte italiana da época. Brecheret amassava o barro, fazia armações para blocos. Aprendeu com Dazzi anatomia humana e animal, a arte de esculpir e ainda a técnica e a maestria na escolha dos materiais. Além de desenhar, Brecheret também fazia suas próprias esculturas num cantinho do ateliê. Durante a noite, frequentava como ouvinte a Escola de Belas Artes. Aprendeu muito com a arte de escultores famosos: Bourdelle, Maillol, Rodin, Ivan Mestrôvic – e este último, iugoslavo, muito influenciou as linhas e o relevo de Brecheret. Sob o impacto de Rodin, o nosso artista se tornaria outro escultor: aprendeu uma nova maneira de conceber a forma, de jogar com a luz. E aos poucos, foi se aprofundando na direção da modernidade.
Em 1919, após 13 anos vivendo, aprendendo, criando e crescendo como artista, voltou ao Brasil. Pediu então a Ramos de Azevedo, diretor do Liceu, um ateliê e este conseguiu numa das salas do Palácio das Indústrias, ainda em construção. Brecheret esculpia solitariamente até que em 1920 foi descoberto por acaso pelos modernistas. Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Helios Seelinger e Menotti del Picchia tinham ido até lá para rir do novo artista que chegara àquele prédio e ficaram, de imediato, fascinados por sua arte. Havia chegado, então, o grande momento de Brecheret.
Naquele mesmo ano, participou do concurso para o Monumento às bandeiras, saindo-se vitorioso. Mas, ao invés de iniciar a construção da obra, por causa da falta de dinheiro do governo para executar o projeto, ganhou um “prêmio de consolação” para estudar em Paris.
Parte em 1921, deixando aqui as 12 peças que exporia na Semana de Arte Moderna de 1922. Ficaria na França, entre vindas e idas, por 15 anos. Neste longo período, expôs individuais em São Paulo e no Rio, participou dos Salões Franceses e ganhou inúmeros prêmios internacionais: com a obra “Sepultamento”, em 1923, no Salon d’Automne; menção honrosa em 1925 no Salon des Artistes Françaises; Cruz da Legião de Honra da França, no campo das Belas Artes, no Grau de Cavaleiro, em 1934. Foi sócio-fundador da Sociedade Pró-Arte Moderna, SPAM, em 1932.
Em 1936, finalmente, iniciou a construção do Monumento às bandeiras, e só o finalizaria em 1953. Brecheret administrava o seu tempo para executar outros trabalhos, fazendo também, neste período, “Graça I” e “Graça II” para a Galeria Prestes Maia, “Depois do Banho”, que se encontra no Largo do Arouche, “Monumento a Duque de Caxias”, no Parque Princesa Isabel. Em 1951, foi convidado para a I Bienal Internacional de São Paulo, ganhando o Prêmio Nacional de Escultura, com a obra “O Índio e a Suaçuapara”.
Os projetos de Brecheret eram muitos, tinha forças inesgotáveis para produzir e criar. Sempre sério, dizia que o artista marca sua passagem nesta vida através dos monumentos que deixa para a posteridade. Estava certo. Faleceu em 1955, de infarte. Mas suas obras, espalhadas pela cidade de São Paulo, transmitem-nos o espírito, a genialidade e a grandiosidade deste escultor.
Fonte: IVB – Instituto Victor Brecheret
ANITA MALFATTI
(1889-1964)
Depois de três anos na Academia de Belas-artes em Berlim, de 1910 a 1913, foi aos Estados Unidos, ao final de 1914, para continuar seus estudos, já que a Europa se encontrava em guerra. Em Nova York, frequentou a Art Students League e a Independent School of Arts entre 1915 e 1916. De volta ao Brasil em 1917, realizou uma exposição cujo resultado desse período de experimentação pode ser visto. Deixou de utilizar o rótulo de “estudos” para afirmar-se como “pintora moderna”, já a partir do título Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti. As obras ali apresentadas revelaram uma nova abordagem da atividade da artista em relação ao período alemão, com um distanciamento cada vez maior do aspecto natural dos motivos, exibindo deformações acentuadas e cores fortes, contrastantes e expressivas, ainda pouco familiares ao ambiente artístico paulistano. Mostrava uma nova pintura, de difícil acesso, mesmo para os espíritos mais cultos do momento.
Na polêmica exposição apresentou 53 obras, entre elas, algumas que se tornaram clássicos, como A estudante russa (1915), Mulher de cabelo verde (1915-1916) e O homem amarelo (1917). A mostra foi um marco para a renovação das artes plásticas no país. A crítica do escritor Monteiro Lobato, sobre a arte expressionista, publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”, intitulada Paranoia ou mistificação? serviu de estopim para o Movimento Modernista no Brasil.
Nos anos 1920, abalada com as críticas, a pintora passa a residir em Paris. Depois de um ano longe da pintura, Anita voltou a ter aulas, quando estudou as técnicas da natureza-morta. Nessa época, conhece Tarsila do Amaral. Incentivada pelos amigos, participa da Semana de Arte Moderna.
Integra, ao lado de Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti De Picchia, o Grupo dos Cinco.
Em 1928, retornou ao Brasil e passou a ensinar desenho no Mackenzie College e na Associação Cívica Feminina, em São Paulo, atividade interrompida em 1933 e retomada em 1941. Participou da I Bienal de São Paulo em 1951, com sala especial em 1963. Faleceu em São Paulo, em 1964.
EMILIANO DI CAVALCANTI
(1897-1976)
O pintor, ilustrador e caricaturista carioca transferiu-se, em 1917, para São Paulo, onde realizou sua primeira individual e frequentou o curso de Direito, iniciado no Rio de Janeiro. Trabalhou intensamente na imprensa paulista dos anos 1920, tendo participado da Semana de Arte Moderna. Di Cavalcanti era uma figura proeminente na cena cultural de São Paulo e, em 1922, junto com os amigos Mário de Andrade e Oswald de Andrade, idealizou a Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal da cidade. Criou para o evento suas peças promocionais, como o catálogo e o programa. Além disso, expôs 11 telas.
Morou em Paris, Rio de Janeiro e Recife, realizando vários trabalhos para jornais da época. Em 1926, no Rio, fez a ilustração da capa do livro O losango cáqui, de Mário de Andrade. Tempos mais tarde, ilustrou livros de Vinicius de Morais e Jorge Amado. Entre os anos de 1936 e 1940, Di Cavalcanti voltou a morar na Europa, muito provavelmente fugindo das perseguições políticas, devido a seus ideais comunistas. Na Europa, expôs trabalhos em Bruxelas, Amsterdã, Paris e Londres e ainda pode conviver com artistas como Picasso e Matisse.
Em 1951, o artista participou da Bienal de São Paulo e, nos anos seguintes, ganhou o prêmio de melhor pintor brasileiro. Na Itália, recebeu o prêmio da mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Di Cavalcanti foi um dos primeiros pintores a abordar assuntos da cultura brasileira e temas sociais como o samba, os operários e as festas populares, por exemplo. Também abusou de temas que abordavam a sensualidade tropical do Brasil. Entre suas, estão: Pierrete (1922); Pierrot (1924); Samba (1925); Mangue (1929); Mulheres com frutas (1932); Músicos (1963); Rio de Janeiro noturno (1963); Mulatas e pombas (1966) e Baile popular (1972).
Di Cavalcanti faleceu em 1976 no Rio de Janeiro. No ano de seu centenário, em 1997, foram inauguradas exposições de sua obra no Rio de Janeiro (Centro Cultural Banco do Brasil, Museu de Arte Moderna e Museu Nacional de Belas Artes) e em São Paulo (Dan Galeria).
HELIOS SEELINGER
(1878-1965)
Nascido no Rio de Janeiro, foi pintor, desenhista e caricaturista. Formou-se na Escola Nacional de Belas Artes – Enba (1891 e 1896) e frequentou o ateliê dos irmãos Bernardelli: Henrique (1858-1936) e Rodolfo (1852-1931), que o orientam a estudar no exterior. Seelinger partiu para a Alemanha em 1896 e lá estudou de 1897 até 1900. Frequentou as Academias Azbe e de Munique, sendo aluno do pintor Franz von Stuck (1863-1928), por quem foi fortemente influenciado. Nesse período, Stuck também tem como alunos Vassily Kandinsky (1866-1944), Paul Klee (1879-1940) e Franz Marc (1880-1916), artistas com os quais Seelinger possivelmente convive. Incorporou aspectos da estética de Stuck, e seus trabalhos logo ganharam cunho alegórico, povoando-se de figuras do folclore alemão e da mitologia helênica – faunos, centauros e ondinas. Logo inseriu uma iconografia brasileira que se afinava com o espírito panteísta que tinha desenvolvido. Surgiram, então, seus quadros abordando as lendas indígenas brasileiras e as manifestações culturais populares, como o carnaval e a “macumba”, motes que ele explorou até o fim da vida.
Em 1902, já no Brasil, realiza uma exposição individual na redação da revista “O Malho”, com boa parte da produção realizada em Munique. A partir desse ano, participa das Exposições Gerais de Belas Artes e é premiado diversas vezes. Em 1903, conquista o prêmio de viagem ao exterior com o quadro Boêmia, no qual retrata intelectuais do meio carioca, como Gonzaga Duque (1863-1911), Fiúza Guimarães, Luís Edmundo (1878-1961), João do Rio (1881-1921) e Rodolfo Chambelland (1879-1967).
Na segunda viagem à Europa, orientado novamente por Bernardelli, fixa-se em Paris, aperfeiçoando-se com Jean-Paul Laurens (1838-1921). Com o fim da pensão, retorna algumas vezes à Europa até às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quando se estabelece definitivamente no Rio de Janeiro. Por volta de 1907, trabalha como assistente de Eliseu Visconti (1866-1944) em Paris. Em 1911, realiza pinturas decorativas para o Clube Naval, no Rio. Atua como ilustrador e caricaturista em publicações como “O Malho”, “Leitura para Todos”, “Careta” e “Fon-fon”, entre outras. É por vários anos funcionário do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), que em 1943 organiza exposição retrospectiva do artista. Faleceu no Rio de Janeiro em 1965.
VICENTE DO RÊGO MONTEIRO
(1899- 1970)
Pintor, desenhista, muralista, escultor e poeta. Os primeiros estudos de arte foram com sua irmã, Fédora, também pintora. De 1911 a 1914, residiu em Paris, onde frequentou a Académie Julian. Em 1914, retornou ao Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro. Em 1920, expôs aquarelas em São Paulo e ligou-se aos modernistas Anita Malfatti, Brecheret e Di Cavalcanti. Ainda em São Paulo, conheceu Pedro Alexandrino.
Em 1921, viaja novamente a Paris, deixando aos cuidados do poeta Ronald de Carvalho oito obras que viriam a figurar na Semana de Arte Moderna, em 1922. A partir dos anos 1920, viveu em Paris e viajou por diversos países da Europa, em companhia de seu amigo, o sociólogo e escritor Gilberto Freyre. De volta ao Brasil em 1930, em companhia de Géo-Charles, trouxe a exposição da Escola de Paris, apresentando-a em Recife, no Teatro Santa Isabel; no Rio de Janeiro, no Palace Hotel; e em São Paulo, no Palacete Glória. Fixou-se novamente em Pernambuco por volta de 1932.
Com o Estado Novo, em 1938, foi nomeado diretor da Imprensa Oficial e professor de desenho do Ginásio Pernambucano. Alguns de seus filmes foram exibidos na França. Em 1939, editou junto com Edgar Fernandes, a “Revista Renovação”, dedicada à educação popular. Promoveu em Recife e em Paris congressos de poesia, com a colaboração dos poetas João Cabral de Me-
lo Neto, Ariano Suassuna, Carlos Moreira e Edson Régis. Em tais cidades publicou diversos livros de poesia. Sua obra integra importantes acervos de museus brasileiros e europeus.
Até os anos 1950, alternou residência entre Paris e o Brasil. Em 1957, foi contratado como professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Vicente do Rêgo Monteiro faleceu no Recife em 1970. Em 1971, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo montou uma retrospectiva de seu trabalho. Nova retrospectiva foi inaugurada em 1986 na Villa Géo-Charles, em Échirol-les (França). Em 1987 e 1994, Jean Boghici organizou duas exposições do artista em sua galeria, no Rio de Janeiro. Em 1997, o MAC-USP inaugurou nova mostra, sob a curadoria de Walter Zanini.
ZINA AITA
(1900-1967)
Tereza, chamada Terezina, depois simplesmente, Zina, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Estudou em Florença, entre 1914 e 1918, com Galileo Chini (1873-1956) na Accademia di Belle Arti di Firenze. Quando retorna ao Brasil, faz contato com Manuel Bandeira (1886-1968) e Ronald de Carvalho (1893-1935) e amizade com Anita Malfatti (1889-1964) e Mário de Andrade (1893-1945). Realiza a primeira individual em Belo Horizonte, em 1920, sendo considerada precursora do modernismo em Minas Gerais. Faz nova individual na livraria O Livro, em São Paulo, e participa da Semana de Arte Moderna, ambas de 1922. Nessa época, realiza ilustrações para a revista “Klaxon”. Sua produção é pouco conhecida, e grande parte de suas obras não tem data. Em tal período, aproxima-se do movimento Art Nouveau e do pós-impressionismo. Participa do 1o Salão da Primavera, no Rio de Janeiro, em 1923. Em 1924, muda-se para a Itália e reside em Nápoles, onde dirige uma fábrica de cerâmica. Nos seis anos seguintes, realiza estudos em Roma, Florença, Milão e Veneza.
Em 1990, o Museu de Arte da Pampulha (MAP) apresenta a mostra Zina Aita: 90 anos. Walter Zanini, na publicação de Jeanne Milde,, por ocasião desta mostra, diz o seguinte: “[…] Desde logo se delineara uma tendência decorativista em sua produção – fruto, é certo, do aprendizado com Chini – como indicam os títulos de três das oito obras exibidas na Semana de Arte Moderna: a de no 47, Paisagem decorativa, a de no 48, Máscaras siamesas e a de no 51, Painel decorativo”. O material apresentado dispersou-se, mas a pequena e conhecida cena de operários calçando uma rua, que subsistiu, documenta o uso de defasada técnica divisionista. Yan de Almeida Prado trouxe o testemunho de Zina Aita como expositora de 1922 que mais agradou ao público. É bem provável que, para isso, concorresse o lado decorativista da pintora, um traço característico de sua personalidade. Desse interesse que suscitou é evidência ainda a bem-sucedida mostra na livraria de Jacinto Silva. A artista faleceu em Nápoles, em 1967.
Módulo 1 – Brecheret e a Semana de Arte Moderna em diálogo com artistas que participaram da Semana de 1922.
Anita Malfatti está representada nesta exposição com três obras. Duas pinturas – “Onda” participante da Semana de 1922, e “Marinha, Monhegan” – ; e também “Cabeça de homem (verde)”, realizada nos Estados Unidos, parte de uma grande coleção de desenhos e pasteis que executou na Independent School of Art.
- ANITA MALFATTI (1889-1964)
“Cabeça de homem (verde)”, circa 1915-1916, carvão e pastel, 61,5 x 46,5 cm
“Marinha, Monhegan” (1915), óleo sobre tela, 35,5 x 46 cm
“Onda”, circa 1915-1917, óleo sobre madeira, 26,7 x 36 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
Em conversa com Paulo Prado, Di Cavalcanti pleiteou a exposição que resultou na Semana de Arte Moderna, tomando como modelo o Festival de Deauville e outras semanas de elegância europeia na França. Além de idealizador, Di Cavalcanti foi o principal organi zador do evento, o coordenador das exposições, o criador das peças gráficas: programa e cartaz, responsável pela ida dos artistas do Rio, e ainda expôs doze de suas obras entre elas o desenho “Sem título”, representado ao lado.
Di Cavalcanti quando expõe pela primeira vez os “Fantoches da meia-noite” na Casa Editora O Livro, em São Paulo, em 1921. Ao lado do artista pode-se ver a pintura “Sem título reproduzida a seguir.
© Di Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
EMILIANO DI CAVALCANTI (1897-1976)
“Sem título” (1917-1922), aquarela, nanquim, grafite e pastel sobre papel, 26 x 20 cm
© Di Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
Álbum ilustrado por Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) “Fantoches da meia-noite”, 16 pranchas (reproduzidas na página ao lado). Editora Monteiro Lobato e Cia, São Paulo, 1921. Prefácio de Ribeiro Couto
© Di Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
“Fantoche com baralho” (1917-1924), nanquim sobre papel, 31, 3 x 24,2 cm
© DI Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
“Fantoche com leque” (1917-1924), nanquim sobre papel, 31, 5 x 24,2 cm
© Di Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
“Fantoche no piano” (1917-1924), nanquim sobre papel, 31, 8 x 24,5 cm
© DI Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
“Carnaval” (1917-1924), guache sobre papel, 25 x 41 cm
© Di Cavalcanti/ AUTVIS, Brasil, 2022
Helios Seelinger pintor com uma forte tendência modernista, embora não tenha exposto obras na Semana de Arte Moderna de 1922, foi um dos responsáveis pelo reconhecimento de Brecheret. As pinturas aqui apresentadas homenageiam esse extraordinário pintor, criticado por muitos, entre eles Gonzaga Duque (1863-1911). O crítico definiu a obra de Seelinger como “uma impulsiva tendência para a arte decorativa. […] Uma desenvoltura macabra de contorções grotescas como numa epilepsia de prazeres”. Segundo Duque, o artista “atinge a generalidades sociais, resume filosofias aplicadas de legendas que prescindem da frase escrita”.
- HELIOS ARISTIDES SEELINGER (1878-1965)
“Nu feminino” (1920), grafite e lápis de cor sobre papel, 19 x 6,3 cm, assinado, localizado e datado “Helios Rio-1920” no canto inferior direito
“Morte de Ophelia” (1920), óleo sobre tela, 71 x 84 cm
“Sátiro seduz a ninfa Syrinx com a flauta de Pan” (1924), óleo sobre tela, 48,5 x 52,5 cm
Vicente do Rego Monteiro acabou se aproximando dos modernistas e, em 1922, antes de retornar a Paris, deixou oito obras, entre óleos e aquarelas, para serem expostas na Semana de Arte Moderna. Duas delas, uma pintura e uma aquarela, estão aqui reproduzidas.
- VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970)
“Cabeças de negras” (1920), óleo sobre tela, 40,9 x 49,9 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
Vicente do Rego Monteiro, Theatro Trianon,
Rio de Janeiro, 1921
Lenda amazônica (1920), aquarela sobre papel, 32 x 11,5 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
Participa da Semana de Arte Moderna com oito obras, embora apenas “Homens trabalhando” foi listada no programa. As obras também deixaram evidente sua forte ligação com outro movimento artístico: o impressionismo. Zina levou o modernismo para Belo Horizonte, sua cidade natal. Zina terá sido para Minas Gerais o que Anita Malfatti foi para São Paulo: as principais faces do modernismo.
- ZINA AITA (1900-1967)
“Ícaro” (1922), nanquim sobre papel, 20,5 x cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
“Sem título” (1923), aquarela e nanquim sobre papel colado em aglomerado, 23 x 23 cm
De Victor Brecheret, apresenta-se “Soror dolorosa”, circa 1919, encomenda do escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), que inspirou esta escultura exposta por Brecheret na Semana de Arte Moderna de 1922. E também “Ídolo” e “Vitória”, esta última raramente exposta.
Livro de horas de Soror Dolorosa, “A que morreu de amor”, 1920 de Guilherme de Almeida (1890-1960), ilustrado por José Wasth Rodrigues (1867-1939). Companhia Nacional, 1928
- VICTOR BRECHERET (1894-1955)
“Soror dolorosa”, circa 1919, bronze, 49 x 17 x 39 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
“Vitória” (1920), bronze, 72,5 x 11,5 x 14,5 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
“Ídolo”, circa 1919, bronze, 20 x 46 x 16 cm
Esta obra participou da exposição da Semana de Arte Moderna em 1922.
“Beijo” (1927-1929), mármore, 33 x 13 x 13 cm Crédito: Jaime Acioli
A influência de Constantin Brâncusi – a quem Brecheret conhecera em Paris por intermédio de Tarsila do Amaral – é percebida por meio da geometrização, polimentos, utilização dos volumes roliços e ovoides num caminho de simplificação e fechamento das formas. Ao mesmo tempo, o artista absorve soluções do art déco, muito em voga na Paris dos anos 1920.
“Beijo” é uma das obras em que a influência de Brâncusi é mais visível: os volumes cilíndricos, a junção dos corpos, a geometrização dos membros, a inserção de volumes extremamente geométricos e a base cilíndrica conferem ao todo um encerramento próprio. Por outro lado, há uma relação, ainda que discreta, com o diálogo entre os escultores cubistas e Jacques Lipchitz, no tratamento das mãos e na inserção de retângulos no conjunto.
Ana Paula Nascimento
Módulo 2 – O feminino na escultura de Victor Brecheret
“O contingente de esculturas femininas que Brecheret realizou durante sua vida, em variados materiais e diversas modalidades, em pequenas, médias e grandes dimensões, tem sua origem na impressão visual e tátil que o artista tinha dos corpos femininos.
Dentro da temática feminina, destaca-se neste módulo a escultura de Brecheret “Dama paulista” (Dona Olívia Guedes Penteado), uma versão em bronze, também existente em mármore, e ilustrada por um desenho da patrona das artes feito por Tarsila do Amaral.
A coleção modernista dessa paulista que foi um exemplo de cidadania, que soube apresentar o Brasil aos brasileiros, começou a ser formada a partir de sua relação com Tarsila e Oswald de Andrade. Em 1923, visitam juntos os principais ateliês de Paris. Acompanhada do casal, visitando os ateliês conhece Brecheret, que acabara de ser premiado no Salão de Outono. Estabelecem a partir daí uma relação de profunda amizade. Dona Olívia adquiriria várias de suas esculturas. Victor Brecheret é o artista brasileiro mais bem representado em sua coleção.
- TARSILA DO AMARAL (1886-1973)
“Retrato de Olivia Guedes Penteado” (1924), grafite sobre papel, 22,6 x 17,5 cm
Retrato póstumo de Olivia Guedes Penteado, grande incentivadora do artista. Ela é representada segundo uma evocação do banquete funéreo dos etruscos, sob a forma de uma bela mulher reclinada, em atitude elegante e graciosa, segurando um colar de pérolas.
“Dama paulista (Olívia Guedes Penteado)”, 1934, bronze, 47 x 77 x 33 cm
“Nu” (1932), bronze, 20 x 47 x 16 cm
“Depois do banho” (década de 1930), bronze, 40 x 95 x 22 cm
“Cabeça de Marisa” (1955), bronze, 31 x 19 x 32,5 cm
“Cabeça feminina” (década de 1940), terracota, 25 x 19,5 x 24 cm
Diana, divindade da mitologia romana, equivalente à Ártemis grega ligada à vida selvagem e à caça. A escultura Diana caçadora, a mais antiga das 17 obras de Brecheret instaladas em espaço público paulistano, foi instalada no interior do Theatro Municipal de Sao Paulo em 1922, mesmo ano em que o endereço sediou a Semana de Arte Moderna.
“Diana caçadora” (década de 1940), bronze, 50 x 84,5 x 26 cm
“Torso feminino” (década de 1930), bronze, 75 x 17 x 14 cm
Módulo 3 – Brecheret e a escultura religiosa
As obras de Brecheret, das décadas de 1940 e 1950, ajudam-nos a dimensionara importância, a pluralidade e sua constante produção religiosa. O escultor que, inicialmente, foi influenciado pelo Renouveau Catholique, uma das tendências da Escola de Paris nos anos 1920, não abandonou o tema durante toda a sua trajetória artística.
O escultor posa com a escultura São Francisco com bandolim.
“São Francisco com bandolim” (década de 1940), terracota, 47,5 x 18,5 x 13 cm
“Estudo de figuras religiosas” (década de 1940), nanquim sobre papel, 32 x 24 cm
“São Francisco com boizinho” (década de 1950), bronze, 47,5 x 18,5 x 13 cm
“Cristo crucificado” (década de 1940), bronze, 61 x 25 x 13,5 cm
“São Jerônimo” (década de 1950), bronze, 83 x 28 x 28 cm
Módulo 4 – Brecheret e a escultura com temática indígena
No final dos anos 1940 dedica-se cada vez mais ao universo das formas primitivas da cultura indígena do país.
“A fase da arte indígena de Brecheret durou as duas últimas décadas de sua vida e teve uma solidez, maturidade e qualidade que devem ser reconhecidas atualmente, como já foi em prêmios de Bienal Internacional de São Paulo, prêmio de escultura nacional na primeira Bienal de Sao Paulo, e salas especiais em bienais seguintes.”
Daisy Peccinini
Acalanto de Bartira de Guilherme de Almeida. Capa de Zamboni; vinhetas, de abertura e fechamento, por Brecheret e ornatos de Guidal.
“Acalanto de Bartira” (1954), bronze, 88 x 226 x 20 cm
“Cavalinhos” (1936-1937), bronze, 20 x 51 x 14 cm
“Três graças” (1940), bronze, 38 x 24 x 24 cm
“A barca” (1940), bronze, 27 x 105 x 30 cm
“Virgem indígena” (década de 1950), bronze, 70 x 20 x 18 cm
Nas suas pesquisas de arte indígena, do final dos anos 1940 até 1955, Brecheret realizou uma série muito rica de peças femininas, ligada aos povos nativos, com forte dominância do arquétipo mulher-mãe associada à terra, à natureza, geradora de filhos, matriz de povos. Figuras fortes, atuais, como “Mãe Índia” que reproduzimos ao lado.
Brecheret no ateliê do Parque Ibirapuera, posando ao lado dos gessos modelos para entalhe em granito do Monumento às bandeiras, meados da década de 1940.
“Mãe índia” (1954), bronze, 64 x 17 x 17 cm
“Nu frontal sombreado e estudos de cabeça masculina e nus femininos” (década de 1950), bico de pena sobre papel, 26,5 x 20 cm
“Estudo de nus femininos” (década de 1950), bico de pena sobre papel, 31 x 22 cm
“Nu dorsal com panejamento à frente” (década de 1940), bico de pena sobre papel, 30,5 x 21,5 cm
“Nu feminino” (década de 1950), bico de pena sobre papel, 30,9 x 22 cm
“Nu feminino” (década de 1950), bico de pena sobre papel, 31 x 21 cm
“Nu feminino” (década de 1950, bico de pena sobre papel, 31 x 21,2 cm
“Mulher inclinada e dois torsos nus” (década de 1940), bico de pena sobre papel, 30,5 x 22 cm
“Nu feminino com pássaro na mão” (década de 1940), bico de pena sobre papel, 31 x 22,3 cm
“Nu feminino” (década de 1940), bico de pena sobre papel, 30,7 x 22 cm
“Dorso feminino e cinco estudos de nus” (circa década de 1940), bico de pena sobre papel, 25,3 x 22 cm