Brasil enfrenta seca histórica e Nordeste vive ano generoso de chuvas

O Brasil atravessa um momento crítico de seca, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, que enfrentam a estiagem mais rigorosa já registrada. Em contraste, o Ceará, por exemplo, está com mais de 50% de seus reservatórios abastecidos, e a nova estação chuvosa, prevista para daqui a cinco meses, traz otimismo para a continuidade desse cenário positivo.

Por Rogério Morais
O Brasil enfrenta uma das secas mais severas de sua história, afetando principalmente as regiões Centro-Oeste e Sudeste. A falta de chuvas, que se estende por meses, tem causado sérios impactos em diversas frentes, incluindo o abastecimento de água para o consumo humano, animal e industrial. Além disso, o período de estiagem está provocando uma escalada de incêndios florestais incontroláveis, que ameaçam o meio ambiente e a saúde pública. Este cenário desolador agrava a crise hídrica nessas regiões, onde rios e reservatórios encontram-se em níveis alarmantemente baixos.

No Sudeste, onde concentra-se a maior parte da atividade industrial do país, a falta de água já começa a afetar a produção em diversos setores, desde a agricultura até a indústria de bens de consumo. Além disso, as grandes capitais, como São Paulo e Belo Horizonte, enfrentam o desafio de garantir o abastecimento para milhões de pessoas, enquanto os incêndios avançam sobre áreas urbanas e rurais, exacerbando a situação. No Centro-Oeste, uma das regiões mais produtivas em termos agrícolas, a estiagem prolongada compromete a safra de grãos e a criação de gado, elevando os preços dos alimentos em todo o país.

Por outro lado, o Nordeste, tradicionalmente conhecido por sofrer com secas prolongadas, vive um cenário oposto em 2024. O estado do Ceará, que por muitos anos foi sinônimo de estiagem e dificuldade de abastecimento, está experimentando uma situação favorável. Com mais de 50% dos seus reservatórios de água abastecidos, o estado surpreende ao registrar um dos melhores períodos de armazenamento hídrico em décadas. Essa recuperação dos níveis dos reservatórios ocorre a poucos meses da próxima estação chuvosa, que se inicia em janeiro próximo, e traz esperanças de que o quadro positivo se mantenha.

Especialistas apontam que as condições climáticas no Nordeste em 2024 têm sido anômalas em relação à sua tradição de seca. O fenômeno climático conhecido como La Niña, que afeta diretamente o regime de chuvas no Brasil, pode estar contribuindo para essa mudança, trazendo um volume de precipitações acima da média para estados nordestinos, enquanto amplia a estiagem em outras regiões do país.

Essa diferença entre as regiões do Brasil reforça a importância de políticas públicas mais eficientes e de longo prazo para a gestão dos recursos hídricos. Enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste enfrentam uma crise de abastecimento, o Ceará e outros estados nordestinos mostram que, com planejamento adequado, é possível superar as dificuldades impostas pelas variações climáticas. No entanto, mesmo com essa bonança hídrica momentânea, especialistas alertam que o Nordeste não pode relaxar, sendo necessário continuar investindo em infraestrutura de armazenamento e distribuição de água para se prevenir contra futuros períodos de estiagem.

Destaque cearense
Nos últimos anos, o governo do Ceará tem adotado uma série de medidas estratégicas para minimizar os impactos de possíveis períodos de seca, com o objetivo de garantir o abastecimento de água e a sustentabilidade dos recursos hídricos. A gestão estadual, ciente da vulnerabilidade histórica da região ao fenômeno da estiagem, tem investido fortemente em infraestrutura hídrica, políticas de gestão eficiente e iniciativas de convivência com o semiárido.

Um dos principais pilares dessas ações é o Programa de Segurança Hídrica, que inclui a construção de novos açudes, a recuperação de reservatórios existentes e a perfuração de poços profundos em áreas críticas. Atualmente, o Ceará conta com mais de 50% de seus reservatórios abastecidos, uma marca significativa que reforça a importância do planejamento e da gestão sustentável das águas. Essa infraestrutura é essencial para garantir o fornecimento de água durante os períodos mais secos, além de assegurar o abastecimento de comunidades rurais e urbanas.

Outra iniciativa crucial é o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), uma obra de grande porte que visa integrar os recursos hídricos do estado, permitindo que a água do Rio São Francisco chegue a áreas mais necessitadas. Essa obra é uma das mais estratégicas no enfrentamento da seca, pois amplia a capacidade de distribuição de água para várias regiões cearenses, especialmente em tempos de chuvas escassas.

Além disso, o governo estadual tem apostado na dessalinização de água em áreas litorâneas e no uso de tecnologias para tratamento de água salobra em comunidades mais afastadas. Esses projetos inovadores são fundamentais para ampliar a oferta de água em regiões onde o recurso é limitado ou de difícil acesso.
No âmbito da gestão de bacias hidrográficas, o Ceará tem fortalecido a regulamentação do uso da água, com políticas de monitoramento e controle do consumo em setores como a agricultura e a indústria. A criação de incentivos para o uso consciente da água também tem sido uma ferramenta importante para reduzir o desperdício e promover a reutilização de água em processos industriais.

Ação do Governo Federal
Acompanhado por uma comitiva de ministros, o presidente Lula sobrevoou as áreas afetadas pela seca no Amazonas. Em Manaquiri, na Região Metropolitana de Manaus, ele visitou uma comunidade indígena e anunciou a retomada das obras de recuperação da BR-319, única ligação rodoviária entre Manaus e Porto Velho (Rondônia). A rodovia, especialmente no chamado Trecho do Meio, está há quase 30 anos intransitável.

“Não podemos deixar duas capitais isoladas, e faremos isso com a maior responsabilidade, governador. Queremos construir uma parceria verdadeira”, afirmou Lula. Em seguida, o presidente sobrevoou o município de Tefé e visitou as comunidades de São Sebastião do Curimatá e Campo Novo, no município de Alvarães. O governo federal levou 150 filtros de água para garantir o acesso a água potável em comunidades mais distantes no estado.

Segundo o Sistema de Monitoramento de Secas, grande parte do Amazonas está em situação de “seca extrema”, com áreas sob “seca grave”. Dados da Defesa Civil mostram que, em setembro, o nível do Rio Negro baixou dois metros em apenas nove dias. Além disso, o estado enfrenta queimadas em várias regiões, resultando em ondas de fumaça que se espalham por outras partes do país.

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