A perspicácia machadiana

Machado de Assis revela a inocência e a paixão de um de seus personagens mais marcantes, além de inserir no romance, Quincas Borba, o cientificismo e evolucionismo do século XIX

O romance “Quincas Borba” escrito por Machado de Assis, quebra de vez com o romantismo da época, marcando assim a produção realista na literatura brasileira para sempre. Ao contrário do que o título sugere, a obra não tem como personagem principal o filósofo Quincas Borba, mas sim Rubião, professor primário que se tornou enfermeiro e amigo herdando toda a riqueza após sua morte.

A escrita em terceira pessoa é retomada nesta obra, um estilo machadiano para dar mais ênfase na história de vida da personagem, tratando assim o filósofo como alguém ingênuo e provinciano, tendo como sua maior preocupação o que restaria de sua memória pós-morte, torcendo assim para que seu cachorro que possuía o mesmo nome morresse em segundo lugar.

Com seu novo cachorro e herança, Rubião sai do interior de Minhas Gerais rumo ao Rio de Janeiro, se aproximando cada vez mais de um casal em sua nova vida, e acaba se apaixonando pela esposa Sofia. O casal se aproveita de sua inocência e condição financeira, porém o recém-chegado logo percebe essa rejeição e aos poucos vai desenvolvendo uma demência, que termina por deixa-lo em um manicômio totalmente fora da realidade acreditando ser um imperador francês, fugindo assim do local com seu cachorro e morrendo aos poucos, dia após dia.

Machado retrata em sua obra apontamentos do cientificismo e evolucionismo da época, trazendo assim a ideia de um Darwinismo nas relações sociais em que sobrevive somente o mais forte e adaptado nas relações, sendo Rubião um retrato do então fracasso dessa possível evolução. O romance não é o mais conhecido do autor, mas se diferencia por deixar o narrador em terceira pessoa com a mesma importância de um em primeira pessoa, e com os questionamentos sobre a verdade próprio do discurso machadiano.

Por fim vale lembrar que os posicionamentos de Machado a respeito de suas obras foram inovadoras e quebraram a forma de se fazer literatura no Brasil. O autor se preocupa em retratar sua realidade da época, com todas as nuances que ela carrega e as complexidades dos homens, sempre carregado de uma filosofia positivista em evidência.

Quincas Borba é o vigésimo quarto título da coleção Biblioteca Luso-Brasileira. Com excelente receptividade do público, a coleção é especialmente pensada para os estudantes de ensino médio e vestibulandos, acrescentando a cada edição notas explicativas dos termos menos coloquiais.

Sobre a autor: Machado de Assis (1839-1908) foi jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras. Ocupou por mais de dez anos a presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis. Foi criado no morro do Livramento. Sem meios para cursos regulares, estudou como pôde e, em 1854, com 15 anos incompletos, publicou o primeiro trabalho literário, o soneto “À Ilma. Sra. D.P.J.A.”, no Periódico dos Pobres. Em 1856, entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz de tipógrafo. Em 1858, era revisor e colaborador no Correio Mercantil e, em 60, a convite de Quintino Bocaiúva, passou a pertencer à redação do Diário do Rio de Janeiro. Escrevia regularmente também para a revista O Espelho, onde estreou como crítico teatral, a Semana Ilustrada e o Jornal das Famílias, no qual publicou de preferência contos.

Ficha técnica:
Editora:
 Via Leitura
Assunto: Literatura
Preço: R$ 31,50
ISBN: 9788567097725
Edição: 1ª edição, 2019
Tamanho: 21×14
Número de páginas: 224

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