“Veganos são hipócritas”
Foto: reprodução da internet
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Fala de Antônia Fontenelle escancara o perigoso jogo da desinformação |
No último dia 3 de julho, o programa Morning Show da Rádio Jovem Pan, realizou um debate intitulado “Carnívoros X Veganos”. Junto aos seis não veganos presentes, estava um único convidado vegano, Ricardo Laurino, Presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Ricardo Laurino precisou de muito jogo de cintura para lidar com perguntas e afirmações de quem aparentemente, pouco conhece o movimento vegano.
Um exemplo, dentre outros vários, foi a fala de Antônia Fontenelle que declarou que os veganos são hipócritas. Segundo a apresentadora: “O que não me cheira muito bem a coisa do vegano, é porque o vegano é hipócrita. Tem umas famosas aí, que se dizem veganas, que brigam pela causa, mas no carrinho delas, os bancos são todos de couro”. Ao questionar o que Ricardo pensava a respeito, o presidente da SVB, prontamente respondeu: “…eu acho que todo mundo, em algum momento, acaba passando por situações em que alguém pode falar “você foi hipócrita nisso e tal”. Eu não tenho o costume de apontar o dedo, acho que isso só leva a gente para um ambiente negativo. Eu fico muito feliz que cada vez mais as empresas estão lançando [carros com] couro sintético, … A questão aqui, como eu disse, e eu vou sempre reforçar, é que nós estamos em um contexto de sociedade que para onde você olha tem exploração animal e o movimento vegano traz esse questionamento pra mudarmos. Então, o que eu diria para essa garota que tem o carro com banco de couro é que ela escolha um que não tenha (couro animal) e faça escolhas que não tenham relação com exploração animal”. O cerne da questão em declarações como de Fontenelle, é que quando se faz um debate, espera-se uma discussão saudável que envolva diferentes perspectivas sobre um determinado assunto. É uma oportunidade de trocar ideias e argumentos entre os participantes. Mas, como presenciado por quem assistiu, os argumentos e questões levantadas pelos não veganos, acabaram mantendo o assunto em pontos simplórios e pouco estudados. Nesse contexto, surge a relevância (ou não) do papel dos formadores de opinião que, ao serem defrontados com o movimento vegano e seus pilares, escancaram a falta de conhecimento a respeito do tema. A polêmica não parou por aí. Durante o programa, foram expostas outras declarações inflamadas, todas prontamente respondidas por Laurino, desconstruindo mitos e mostrando a importância do veganismo. Enquanto alguns argumentavam que comer carne faz parte da evolução humana, Laurino destacou que vivemos em uma sociedade moderna, onde temos inúmeras opções e podemos fazer novas escolhas, independentemente do passado. Aliás, essa capacidade de escolher de forma crítica, levando em conta vários fatores, é a característica principal de nossa espécie, sempre frizado por Laurino “Omega 3 você não vai achar em vegetais, vai precisar suplementar se for vegano”. O debate também abordou o suposto déficit de ômega-3 em dietas veganas, mas Laurino desmentiu essa afirmação com veemência. Ele apontou que alimentos como a linhaça são ricos em ômega-3 e que é plenamente possível obtê-lo em uma dieta à base de vegetais. “Se soltar uma vaca na Savana o que vai acontecer com ela? Um leão vai matar. Faz parte da cadeia” Uma das declarações mais controversas foi a comparação entre o comportamento dos animais na natureza e a escolha ética dos seres humanos. Enquanto alguns argumentavam que matar animais é uma parte natural da cadeia alimentar, Laurino foi didático ao dizer que não devemos nos espelhar em leões ou qualquer outro predador, pois temos a capacidade de fazer escolhas éticas e respeitosas. É importante ressaltar que a Declaração de Cambridge de 2012, que, inclusive foi assinada por Stephen Hawking, reconheceu que os animais são seres sencientes, capazes de sofrer, sentir fome, frio, lutar por suas vidas e de se relacionarem entre si. Portanto, é um equívoco ignorar sua importância e tratá-los apenas como objetos de consumo. O debate mostrou claramente que a falta de informação e a disseminação de ideias superficiais podem minar o verdadeiro significado do veganismo. O debate revelou o jogo perigoso da desinformação apresentados por aqueles que defendiam o consumo de carne. Diante de tantas polêmicas é imprescindível refletir sobre o papel dos formadores de opinião e sua responsabilidade informar com maior conhecimento, ou, de forma humilde, apenas abrir espaço para entender melhor um assunto do qual não conhecem. Somente através de debates justos e construtivos é possível avançar na compreensão dos assuntos relevantes, como o veganismo, que engloba não apenas questões de saúde, mas também éticas e ambientais. |