Personalize as preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudá-lo a navegar com eficiência e executar determinadas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies em cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies categorizados como “Necessários” são armazenados no seu navegador, pois são essenciais para ativar as funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Necessary cookies are required to enable the basic features of this site, such as providing secure log-in or adjusting your consent preferences. These cookies do not store any personally identifiable data.

Não há cookies para exibir.

Functional cookies help perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collecting feedback, and other third-party features.

Não há cookies para exibir.

Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics such as the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.

Não há cookies para exibir.

Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.

Não há cookies para exibir.

Advertisement cookies are used to provide visitors with customized advertisements based on the pages you visited previously and to analyze the effectiveness of the ad campaigns.

Não há cookies para exibir.

Uma esperança chamada Greta

*Marcia Marques

O movimento mundial de jovens contra o aquecimento global teve mais um importante evento, a Greve Global pelo Clima. O movimento, iniciado pela jovem sueca Greta Thunberg em março deste ano, não parou mais e tem sido uma fagulha de esperança em tempos de negacionismo à ciência e ataques reiterados ao meio ambiente, incluindo o que se acompanha recentemente na Amazônia.

Quando Greta e seus seguidores ocuparam as ruas alertando sobre o aquecimento global, assumiram o protagonismo da maior ameaça da sustentabilidade do planeta. Um protesto local, que expandiu e tomou proporções globais, passou a ocupar as primeiras páginas dos jornais. Desde então, as sextas-feiras passaram a ser dias de mobilização que se multiplicaram em tweets, palestras, vídeos e entrevistas. Hoje, não é mais apenas a voz de Greta, mas a de milhões de jovens no mundo todo que clamam por mais cuidado com o planeta.

É animador observar uma jovem de apenas 16 anos liderar um movimento desta magnitude. Vale lembrar que as crianças e adolescentes, até pouco tempo atrás, consistiam numa parte invisível da sociedade. De miniaturas de seres adultos dos séculos XVII e XVIII (vide os quadros da família de Carlos IV, da Espanha, retratados por Goya) a figuras fragilizadas e “embalsamadas” por cueiros nas gerações de nossos avós, a compreensão da complexidade e inteligibilidade do universo infantil somente começaria a ocorrer no início do século XX. O que vemos hoje são jovens que, além da dimensão cognitiva, são dotados de uma inteligência emocional e senso de coletividade capazes de influenciar a humanidade no presente e futuro.

Ver jovens engajados pelo clima nos traz algumas reflexões que aquecem a alma em um momento de tantas turbulências. Um primeiro alento é ver que a ciência corre nas veias desta geração, contrapondo as visões carregadas de dogmatismo que invadiram parte do mundo contemporâneo. “Ouçam a ciência!”, gritam os jovens aos líderes mundiais, convidando-os a guiar suas ações pelos reiterados dados científicos que corroboram o aquecimento global.

A suposta surdez de líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro, que negam o problema do clima, certamente escondem interesses econômicos e escancaram a incapacidade de pensar formas alternativas para o crescimento. A geração de Greta, ao contrário, sabe que a informação científica é o melhor caminho para lidar com as certezas e incertezas do mundo. Interessante notar que este movimento surge exatamente na Suécia, país que aparece nas primeiras posições nos rankings de educação mundial. Sabemos que o conhecimento ilumina e faz dos cidadãos pessoas capazes de enxergar os problemas com discernimento. Não é coincidência que educação e ciência no Brasil têm sido tratadas com total irrelevância pelo atual governo, pois quem pensa e compreende a ciência é capaz de se posicionar corajosamente em defesa de um meio ambiente equilibrado e um crescimento econômico sustentável.

Também nos conforta ver que estes jovens assumiram um protagonismo no pacto por justiça entre gerações. Em grande medida, as ações que visam a sustentabilidade do planeta estão pautadas por um compromisso da geração atual em garantir recursos e meios de vida para as gerações futuras. Um exemplo deste compromisso é ilustrado pelo “Dia de sobrecarga da Terra” (organizado pela Global Footprint Network), que marca o momento no ano em que a presente geração esgota os recursos disponíveis para ela mesma, data esta que tem sido cada vez mais precoce. A pergunta que se coloca é: “É moralmente ético e socialmente justo que nós comprometamos os recursos e a própria vida das próximas gerações?”. Greta e seus amigos compreendem plenamente a dimensão da justiça e não se furtam de suas responsabilidades, ou seja, são reais guardiões do futuro. Mais do que isso, a geração de Greta cobra de nós, adultos, ações moralmente aceitáveis e nos convida a pensar num futuro em que as vidas de nossos descendentes e das outras espécies estão em jogo.

A greve pelo clima é também algo genuíno, saído de mentes de crianças e adolescentes de todo o mundo, desprovido de interesses econômicos, políticos ou de poder. Há muito tempo em que não vemos na sociedade ações globais concretas baseadas no altruísmo e no respeito ao próximo. A nova ordem econômica mundial e os avanços tecnológicos penetraram nas sociedades com tamanho poder, que as relações humanas se tornaram fluidas (a sociedade líquida de Zygmunt Bauman) e a preocupação com o outro passou a ser mero apêndice de vidas voltadas para a individualização do “eu”, as aparências e argumentos rasos. A preocupação com o meio ambiente e a consequente sustentabilidade planetária não podem sucumbir à sociedade líquida, pois perderiam a essência do chamado pela coletividade. As ações dos jovens pelo clima sinalizam para uma sociedade organizada, que faz uso da fluidez das redes sociais e mídia, não para propósitos de poder, mas para uma causa realmente relevante para todos.

Certamente, ninguém das gerações passadas, especialmente aquelas que se sucederam após a Revolução Industrial, imaginariam que, em pleno século XXI, precisaríamos da capacidade cognitiva e sensibilidade de uma criança para trazer para a mesa de discussão um tema da maior relevância para o futuro da humanidade: se este mundo não der certo, não tem outro e nós precisamos fazer alguma coisa. No dia de hoje, dizer que “criança é nosso futuro” deixou de ser uma mera frase de efeito para se tornar uma verdadeira esperança de um mundo melhor.

*Marcia Marques é professora titular da Universidade Federal do Paraná, vice-presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.