Tiras da Niara se transformam em livretos
Desde que a personagem Niara foi criada em dezembro pelo cartunista Aroeira para auxiliar no entendimento da injustiça tributária no Brasil, a mascote da campanha Tributar os Super-Ricos foi ganhando simpatia país afora. Agora as tiras semanais, publicadas às sextas-feiras nas redes sociais da campanha, agora viraram livreto.
Várias das 70 entidades nacionais apoiadoras do movimento por justiça fiscal estão imprimindo as tiras reunidas e distribuindo os impressos a estudantes e população como forma de orientar sobre causas da desigualdade e temas voltados à cidadania.
Quem iniciou a tiragem foi o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) do Ceará que anexou a revista às cestas básicas distribuídas a famílias em vulnerabilidade. A Frente em Defesa do Serviço Público de Ribeirão Preto seguiu o exemplo e também doou alimentos com as histórias da Niara.
“É uma semente lançada contra a injustiça tributária. Seu formato lúdico e seu conteúdo, ao mesmo tempo simples e didático, combinados pelo traço genial do cartunista Aroeira, tem o potencial de atingir desde as crianças até uma ampla gama de adultos, mesmo os mais desprovidos de informação e educação formal”, resume Luis Fantacini, membro do Instituto Justiça Fiscal (IJF) e Auditores pela Democracia, organizações que integram a campanha.
Linguagem simples para temas complexos
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) reeditou as tirinhas da Niara impressas e entregou aos beneficiários de cestas básicas da entidade em Brasília. A mascote também já figura em camisetas de diferentes cores na capital federal, com a bandeira da taxação das grandes fortunas, como às produzidas pelo Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro/DF).
“A Niara e sua linguagem ajudam as pessoas a se familiarizar com esse tema. Falar de tributação é uma coisa muito distante, e a Niara com esse jeitinho jovial e encantador, tem a capacidade de simplificar as coisas, popularizar essa discussão. Mostra que qualquer um compreende o que é isso. Basta usar as palavras certas”, observa a vice-presidenta da CNTE, Rosilene Corrêa.
A volta da fome
Pesquisa recente demonstra que metade da população – 116 milhões de pessoas – não tem comida suficiente para garantir segurança alimentar.
O país é também o nono mais desigual do mundo e se multiplicam situações e fatos relacionados à profunda miséria que atinge grande parte da população. Por outro lado a concentração da riqueza resulta em 65 brasileiros entre os mais ricos do mundo pelo ranking da revista Forbes, onze deles entraram neste seleto grupo durante a pandemia.
Os assuntos tratados pela personagem contextualizam a extrema concentração de renda que faz o Brasil campeão do mundo nessa profunda injustiça.
Personagem de causas sociais
Para reunir os quadrinhos, em um único ambiente, foi criada uma aba no site do Instituto Justiça Fiscal agrupando todos os desenhos e agregando a nova tira a cada semana www.ijf.org.br/niara. O livreto está disponível tanto para ser enviado em formato PDF ou ser impresso.
Nestas 20 semanas de vida, Niara trouxe temas das variadas e complexas situações do país sempre com a perspectiva da injustiça fiscal. Entre eles a falta da vacina contra a Covid-19 para imunizar a população com rapidez; o Natal e o abismo dessa data para ricos e pobres; a volta do país ao Mapa da Fome; a diferença salarial entre homens e mulheres, o feminicídio e o maior impacto dos tributos sobre as mulheres abordados no mês que marca o Dia Internacional da Mulher; o golpe de 64, período de enriquecimento ilícito de parte das grandes fortunas, são alguns assuntos colocados a cada semana.
Projetos ainda não tramitam
A campanha Tributar os Super-Ricos é um movimento nacional para aprovar oito projetos que permitem arrecadar R$ 300 bilhões ao ano tributando apenas 0,3% mais ricos – 59 mil pessoas de um total de 210 milhões de brasileiros.
As propostas de alterações tributárias foram apresentadas ao Congresso Nacional em agosto de 2020, integrando a primeira etapa da campanha. A segunda etapa iniciou em outubro, quando mais de 70 organizações se engajaram na campanha para disseminar as propostas junto à sociedade e viabilizar sua aprovação.
Os projetos são de simples tramitação e apenas um necessita emenda à Constituição. A terceira etapa está em andamento para garantir que os projetos comecem a tramitar e sejam apreciados pelos parlamentares.
“É uma campanha para salvar vidas e recuperar a economia cobrando dos super-ricos que historicamente são isentos o pouco tributados”, resume a presidente do Instituto Justiça Fiscal, Maria Regina Paiva Duarte, uma das entidades que coordenam o movimento.