Tecnologia brasileira de hidrogênio verde a partir do etanol é referência mundial e destaque no Biofuture/BBEST
A Hytron, empresa que nasceu no Laboratório de Hidrogênio da Unicamp/Fapesp, vai apresentar no Biofuture/BBEST o ‘reformador de etanol’ para produção de hidrogênio em larga escala, voltada a carros elétricos em postos de combustíveis, diretamente onde se dá o consumo
Há dezoito anos o sonho de cinco alunos de pós-graduação da Unicamp de viabilizar a produção de hidrogênio globalmente a partir de fontes renováveis e limpas resultou na Hytron, uma empresa especializada no fornecimento de tecnologias para a produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis como etanol. Seu projeto de pesquisa e desenvolvimento – um ‘reformador de etanol’, também chamado de ‘transformador de hidrogênio verde’ – foi financiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Esta tecnologia é hoje um dos destaques do evento internacional de bioenergia Biofuture Summit II / Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020-21. A conferência conjunta — organizada pelo governo brasileiro, através do Itamaraty, que conduz a presidência da coalizão Plataforma para o Biofuturo, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com apoio da APEX-Brasil — reúne virtualmente representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países entre 24 e 26 de maio. Estão previstas mais de 150 sessões digitais em seus três dias de trabalho.
As soluções de descarbonização para contribuir com a diminuição do efeito estufa e do aquecimento global como as da Hytron têm sido apontadas como tecnologias viáveis para a substituição dos combustíveis e fontes de energia fósseis. O uso energético do hidrogênio (H2) não produz gases de efeito estufa como o metano e o gás carbono. Quando misturado com o oxigênio, a exemplo do que ocorre nas células a combustível (Fuel Cell), produz água, que volta para o meio ambiente em forma de vapor.
No caso do etanol usado na produção do hidrogênio, há uma grande vantagem, uma vez que o etanol pode ser transportado de forma eficiente e competitiva, viabilizando a produção descentralizada do hidrogênio que poderá ser produzido próximo ao consumidor. Melhor ainda: o uso do hidrogênio em células a combustível é bem mais eficiente, já que apenas 38 litros de etanol produzem hidrogênio suficiente para abastecer um carro elétrico com célula a combustível, garantindo-lhe uma autonomia de 750 quilômetros.
Vantagens do hidrogênio
“Nosso sonho e desafio era provar que o hidrogênio é uma solução viável. E conseguimos demonstrar que é possível usar o hidrogênio de forma descentralizada”, afirma o sócio-fundador e diretor Comercial da Hytron, Daniel Lopes. Ao longo de quase duas décadas de pesquisas, a Hytron desenvolveu sistemas de produção de hidrogênio a partir de insumos renováveis dentro de um contêiner. Esse contêiner pode ser instalado, por exemplo, nos postos de distribuição de combustíveis e produzir o HIDROGÊNIO localmente. As diversas soluções da Hytron permitem utilizar como insumo, além do etanol, outras fontes como o metano, o biometano e a eletrólise da água, adaptando-se aos recursos de cada região.
O etanol, no entanto, destaca-se como insumo para a tecnologia Hytron por ser um combustível que permite produzir hidrogênio de forma segura e rápida, além de estar presente na bomba de cerca de 48 mil postos de combustíveis em todo o País. “Nossa tecnologia produz um hidrogênio ultra puro, com até 99,9999% de pureza, neutralizando a emissão de carbono”, afirma Lopes.
Internacionalização
A tecnologia da Hytron despertou o interesse internacional. Em novembro de 2020, a empresa foi adquirida pelo grupo alemão Neuman & Esser (NEA), um dos líderes mundiais na fabricação de compressores de pistão e diafragma, que atua globalmente. Hoje a solução de produção de hidrogênio verde da Hytron complementa as ofertas de soluções NEA, incluindo a produção e purificação de HIDROGÊNIO em seu portfólio e a eleva a um patamar de fornecedora de soluções completas para este segmento.
Segundo Lopes, o hidrogênio como combustível para veículos movidos a célula de combustível já é uma realidade em países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão, levando a empresa a buscar a internacionalização. Nesse contexto, a associação com a NEA foi vista como natural. “Continuamos sendo uma empresa brasileira, que gera inovação no Brasil e exporta para outros países. Os sócios-fundadores da Hytron permanecem na administração do negócio e agora podemos oferecer soluções completas, incluindo compressão e armazenamento de hidrogênio”.
Escala na produção de hidrogênio
Um dos ganhos tecnológicos obtidos pela empresa, instalada em Sumaré (SP), na região de Campinas, está na escala de produção do hidrogênio. “Conseguimos viabilizar a geração distribuída, para produzir o hidrogênio diretamente onde é consumido”, conta ele. Para Lopes, o desafio agora é ter acesso a linhas de financiamento que viabilizem a aquisição dos equipamentos pelos clientes e, consequentemente, reduzam os custos de operação, promovendo a produção de hidrogênio a partir de etanol dentro das indústrias e futuramente nos postos de combustíveis, por exemplo”.
De acordo com o diretor da Hytron, o uso do hidrogênio como combustível para a mobilidade elétrica traz vantagens promissoras na redução de emissão dos gases de efeito estufa, eleva a eficiência dos automóveis e viabiliza maior autonomia com menor tempo de abastecimento, uma vez que um veículo elétrico abastecido com HIDROGÊNIO necessita apenas de 3 a 5 minutos para uma recarga completa. O motor elétrico desses veículos terá alternativas de armazenamento e de geração embarcada de eletricidade; dentre elas, com o uso de hidrogênio com células a combustível, do tipo PEM (Proton Exchange Membrane).
Um veículo movido à célula de combustível (a base de hidrogênio) é um gerador e armazenador de energia. O sistema de tração é elétrico e o design modular possibilita diversas configurações: híbrida, com mais ou menos bateria, e o plug-in, para conexão na rede elétrica externa. Além disso, veículos movidos por célula a combustível de hidrogênio têm zero emissão de poluentes e o seu tempo de abastecimento é inferior a 10% do que leva para carregar uma bateria, atualmente usada em carros elétricos tradicionais que utilizam apenas baterias.
Um mundo hidrogenado
Segundo o estudo Scaling-up do Hydrogen Council, publicado em 2017, para que o mundo alcance as metas da COP 21, em 2050, o hidrogênio representará 18% de toda a energia consumida mundialmente. Com isso, haverá a redução anual de 6G t de emissões de CO2 e a eliminação dos principais poluentes do ar como dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NO-X) e materiais particulados. O setor de transporte vai consumir 20 milhões de barris de petróleo por dia a menos, aumentando significativamente a segurança energética dos países. Como resultado, o crescimento econômico será baseado em um desenvolvimento sustentável, gerando uma receita de mais de US$ 2,5 trilhões por ano e empregando mais de 30 milhões de pessoas mundialmente. A infraestrutura de abastecimento de veículos a hidrogênio tem crescido mundialmente, principalmente nos Estados Unidos, Europa, Japão, China e Coreia do Sul. A estimativa é que existam hoje 1100 postos de HIDROGÊNIO e 5 mil até 2030.
*Hytron – Fundada em 2003, no Laboratório de Hidrogênio da Unicamp, com financiamento do PIPE da FAPESP. Localizada em Sumaré, região de Campinas, Interior de São Paulo, tem 15 funcionários.
**NEA (Neuman&Esser Group) – A empresa alemã atua no Brasil desde a década de 1970 especializada na produção de compressores e moinhos para o setor de gases. Fundada em 1830, mantém administração familiar e há 160 anos sob o comando dos Peters. Atua em 20 mercados mundiais, tem 28 empresas e 1100 funcionários. No Brasil, possui duas empresas, a NEA Brasil, em Belo Horizonte, Minas Gerais, e a Hytron, em Sumaré, Interior de São Paulo.
***Acordo de Paris – O Brasil assinou o Acordo de Paris em 2016, comprometendo-se a reduzir até 2025 suas emissões de gases de efeito estufa em até 37%, comparados aos níveis emitidos em 2005, estendendo essa meta para 43% até 2030. Seu principal objetivo é combater o aumento da temperatura provocada pelo aquecimento global. Na prática, significa impedir o aumento de 2º C na temperatura global em relação à era pré-industrial. O Acordo de Paris foi definido a partir de acordos que ocorreram durante a 21.ª sessão anual da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 21).
Sobre o Biofuture Summit II / BBest 2020-21: O Biofuture Summit é a principal conferência de debate e troca de experiências em políticas públicas promovida pela Plataforma para o Biofuturo. Para sua segunda edição, o Biofuture Summit — organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, que conduz a presidência da Biofuturo — juntou-se à quarta edição da conferência científica Brazilian Bioenergy Science and Technology (BBest) — organizada pelo Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP —, para realizar um evento conjunto trazendo à luz o que há de mais avançado em políticas, financiamento, tecnologias, e ciência relacionadas à bioenergia e à bioeconomia em suas diversas formas. Participam do evento representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países. A Biofuture Summit II/BBEST2020-21 será totalmente online e acontece entre os dias 24 e 26 de maio. Mais informações acesse https://bbest-biofuture.org/
Sobre a Plataforma para o Biofuturo: A Plataforma para o Biofuturo é uma iniciativa intergovernamental, da qual participam várias partes interessadas. Foi projetada para agir pelas mudanças climáticas e apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com uma coordenação internacional pela promoção da bioeconomia sustentável de baixo carbono. Foi lançada em Marrakesh nas negociações climáticas da COP 22, em novembro de 2016. Desde 1º de fevereiro de 2019, a Agência Internacional de Energia (IEA) é o Facilitador (Secretariado) da iniciativa. A Plataforma para o Biofuturo tem vinte países membros: Argentina, Brasil, Canadá, China, Dinamarca, Egito, Finlândia, França, Índia, Indonésia, Itália, Marrocos, Moçambique, Holanda, Paraguai, Filipinas, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e Uruguai. O governo brasileiro, por intermédio do Ministério de Relações Exteriores, preside a iniciativa desde seu lançamento. Como uma iniciativa da qual participam múltiplas partes interessadas, várias organizações internacionais, universidades e associações do setor privado também estão envolvidas e engajadas na condição de parceiros oficiais. Para obter mais informações, visite: www.biofutureplatform.org.
Sobre o BIOEN: o BIOEN, Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP, visa articular pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre entidades públicas e privadas, utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para avançar e aplicar o conhecimento nas áreas relacionadas à bioenergia no Brasil. As pesquisas abrangem desde a produção e processamento de biomassa até tecnologias de biocombustíveis, biorrefinarias, sustentabilidade e impactos – http://bioenfapesp.org
Sobre a Apex-Brasil: A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Para isso, a Apex-Brasil realiza ações diversificadas de promoção comercial que visam promover as exportações e valorizar os produtos e serviços brasileiros no exterior, como missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura produtiva brasileira entre outras plataformas de negócios que também têm por objetivo fortalecer a marca Brasil. A Agência também atua de forma coordenada com atores públicos e privados para atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil com foco em setores estratégicos para o desenvolvimento da competitividade das empresas brasileiras e do país. https://portal.apexbrasil.com.