Sob intensos bombardeios, situação de pacientes e equipe médica de MSF em Gaza é desesperadora

MSF reitera apelo urgente ao fim dos ataques contra hospitais, a um cessar-fogo imediato e à proteção de instalações médicas, pessoal médico e pacientes

Nas últimas 24 horas, os hospitais em Gaza têm estado sob bombardeios implacáveis. O complexo hospitalar de Al Shifa, a maior unidade de saúde onde a equipe de MSF ainda trabalha, foi atingido diversas vezes, inclusive nos departamentos de maternidade e ambulatório, resultando em múltiplas mortes e feridos. As hostilidades em torno do hospital não pararam. Equipes de MSF e centenas de pacientes ainda estão dentro do hospital Al Shifa. MSF reitera urgentemente o seu apelo ao fim dos ataques contra hospitais, a um cessar-fogo imediato e à proteção das instalações médicas, do pessoal médico e dos pacientes.

“Estamos sendo mortos aqui, por favor, faça alguma coisa”, escreveu esta manhã um enfermeiro de MSF do porão do hospital Al Shifa, onde ele e sua família estavam se abrigando dos incessantes bombardeios. “Quatro ou cinco famílias estão abrigadas agora no porão; o bombardeio está tão perto que meus filhos estão chorando e gritando de medo. ”

“A situação em Al Shifa é verdadeiramente catastrófica. Apelamos ao governo israelense para que cesse este ataque implacável ao sistema de saúde de Gaza. Nossa equipe e pacientes estão dentro do hospital Al Shifa, onde os bombardeios pesados não pararam desde ontem”, diz Ann Taylor, coordenadora-geral de MSF nos Territórios Palestinos.

O hospital Al Shifa é o principal complexo hospitalar da Faixa de Gaza, com 700 leitos, que presta atendimento emergencial e cirúrgico. Atualmente, não há outras instalações na Faixa capazes de admitir e tratar tantos pacientes com lesões complexas, por vezes fatais. Apesar dos ataques regulares e da escassez, a equipe conseguiu manter o hospital operacional. Ontem (10/11), o hospital Al Shifa ficou sem energia elétrica. As ambulâncias não podem mais se mover para recolher os feridos, e o bombardeio ininterrupto impede a evacuação de pacientes e profissionais. No momento em que este artigo foi escrito, nossa equipe estava testemunhando pessoas sendo baleadas enquanto tentavam fugir do hospital.

“Há muitos pacientes já operados e que não conseguem andar. Eles não podem ser evacuados”, disse o Dr. Mohammed Obeid, cirurgião de MSF no hospital Al Shifa. “Precisamos de uma ambulância para transportá-los, não temos ambulâncias para evacuar todos esses pacientes”.

“Não podemos sair porque de ontem de manhã até agora operamos cerca de 25 pacientes. Se eu não estiver aqui ou o outro cirurgião, quem cuidará dos pacientes?”, questiona Obeid. “Há um paciente que precisa de cirurgia, outro que já está dormindo [sob anestesia].”

MSF denuncia a sentença de morte de civis atualmente presos no hospital Al Shifa, assinada pelos militares israelenses. É necessário que haja um cessar-fogo urgente e incondicional por todas as partes em conflito; a ajuda humanitária tem de ser fornecida agora a toda a Faixa de Gaza.

MSF perdeu contato com um cirurgião que trabalha e se abriga no hospital Al-Quds com sua família. Outras instalações de saúde, incluindo o hospital Al Rantisi, que MSF também apoiou no passado, teriam sido cercadas por tanques israelenses.

Instamos os EUA, o Reino Unido, o Canadá, os Estados-membros da Liga dos Estados Árabes, os Estados-membros da Organização de Cooperação Islâmica e a União Europeia, que repetidamente apelaram ao respeito do Direito Internacional Humanitário (DIH), a tomarem medidas para garantir um cessar-fogo agora. Os horrores que se desenrolam diante dos nossos olhos em Gaza mostram claramente que os apelos à contenção e à adesão ao DIH foram ignorados. Trabalhar com o objetivo de alcançar um cessar-fogo é a forma mais eficaz de garantir a proteção dos civis.

Milhares de pessoas ficaram feridas desde 7 de outubro, muitas das quais estão em estado crítico e necessitarão de cirurgias complexas e tratamento prolongado durante semanas, senão meses. Isto só pode ser feito com um cessar-fogo total e o fornecimento incondicional de ajuda humanitária, incluindo o acesso a alimentos, combustível e água; a sobrevivência das pessoas em Gaza depende disso.

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