Programa voltado à rede pública ajuda a solucionar alfabetização tardia no Nordeste do país

Número de crianças que não aprenderam a ler e escrever na idade correta explodiu durante pandemia

Letras que formam sílabas que, repetidas à exaustão, por sua vez, formam palavras. Muitas delas. Segundo o dicionário Houaiss, a língua portuguesa tem, atualmente, algo em torno de 400 mil palavras. É um universo disponível a todos os falantes do idioma, mas que exige duas habilidades fundamentais daqueles que desejam se comunicar também por meio de livros, documentos e outros registros: as habilidades da leitura e da escrita. O ideal, segundo a legislação atual, é que as crianças aprendam a ler e escrever até os seis ou sete anos de idade.

A realidade, porém, nem sempre está de acordo com o ideal. Apenas na região Nordeste do Brasil, 13,9% das pessoas com mais de 15 anos não sabem ler e escrever, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o órgão, 41% das crianças de até sete anos no país não estão alfabetizadas, o que representa 2,4 milhões de crianças. A taxa é a mais alta desde 2012, quando 28% das crianças nessa faixa etária não sabiam ler e escrever. Em comparação com 2019, o aumento foi de 65,6%. Mesmo as crianças que estão matriculadas e frequentando as aulas podem ter sofrido esse atraso, boa parte causado pela pandemia. Para a supervisora de avaliações do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rita Schane, a alfabetização a alfabetização no período e idade adequados é importante porque “as habilidades referentes aos processos de aquisição da leitura e da escrita são fundamentais  e necessárias ao longo dos anos iniciais do Ensino Fundamental e de todos os demais que estão por vir”.

Não se trata apenas de crianças que não sabem ler nem escrever, mas de uma série de dificuldades apresentadas nesses processos. Algumas delas lêem, mas não escrevem. Outras são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar o que estão lendo. Em outros casos, ainda, a criança é capaz de ler e escrever, mas os erros ortográficos e gramaticais são mais comuns do que deveriam. Equalizar o aprendizado dessas duas competências é um desafio complexo.

Solução que vem da escola pública

Uma das maiores dificuldades para alfabetizar crianças mais velhas é o fato de que os métodos são sempre pensados para os mais novos. Há muitos desenhos, atividades e propostas pensados para os pequenos que têm até sete anos. Então, quando uma criança de nove, dez ou 11 anos se depara com esse material, imediatamente ocorre um problema de interesse e identificação. “Crianças um pouco mais velhas não gostam e não se interessam pelas mesmas coisas que chamam a atenção das crianças mais novas. É preciso pensar uma solução especial para contornar esse problema, com uma proposta de ensino adequada a essa faixa etária que precisa se alfabetizar, ainda que tardiamente”, destaca Rita.

A melhor alternativa para mitigar o problema é adotar ferramentas especificamente pensadas para a alfabetização tardia. Presentes na rede pública municipal de mais de 290 cidades brasileiras, os profissionais do Aprende Brasil adquiriram uma experiência que permitiu a criação do programa Letrix, desenhado especialmente para crianças que não desenvolveram na totalidade essas duas habilidades no tempo adequado. Impulsionado também pela pandemia, o programa deu um salto no número de usuários. Enquanto, em 2021, pouco mais de 4 mil crianças usavam o Letrix, a prévia até março de 2022 já é de mais de 10,8 mil.

“O Letrix é um programa educacional que auxilia as crianças que não tiveram a oportunidade de se alfabetizar na idade indicada pela legislação. Essas crianças que chegam ao fim dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental sem ter desenvolvido completamente os processos de leitura e de escrita não podem ser ignoradas ou tratadas como as de seis e sete anos”, pontua a especialista. Por isso, a abordagem do programa respeita idade e a fase  de aprendizagem em que a criança se encontra, com atividades direcionadas para esse público. Fazem parte do Letrix ferramentas como livros didáticos para alunos e professores, avaliações, leitura guiada, orientações em vídeo e manual digital do professor.

“A ideia é democratizar o acesso às boas soluções educacionais e permitir que um número cada vez maior de crianças conclua os Anos Iniciais do Ensino Fundamental com uma base sólida para continuar se desenvolvendo ao longo de sua vida escolar”, finaliza Rita.

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