Preservar a conquista da democracia e do Estado laico

(Por Antônio Matos)

Em 2024 teremos eleições municipais. Nesse contexto é preciso que os eleitores brasileiros tomem consciência das consequências de atitudes antidemocráticas durante o processo eleitoral de 2022, e reflitam sobre o engajamento religioso em campanhas eleitorais, que tem como principais protagonistas os pastores evangélicos midiáticos que se utilizaram de ações fundamentalistas para beneficiar a extrema direita nas eleições passadas. Embora derrotados, continuaram os movimentos antidemocráticos com a recusa de aceitar o resultado das eleições, notadamente porque estavam sob efeito de uma lavagem cerebral advinda dos políticos que usam a religião para se darem bem na política.

Ações como essas, de natureza política e pessoal, na verdade só confunde a disputa eleitoral, e fazem com que os fiéis se tornem escravos de uma narrativa que desconstrói valores e conquistas, tendo em vista que, no estado democrático, há de se perceber que essas duas vertentes devem andar separadas — a fé que sentimos subjetivamente e o estado do poder oriundo da disputa eleitoral.

Os últimos acontecimentos protagonizados entre as correntes evangélicas em que muitos fiéis foram presos em frente aos quartéis, em consequência dos atos do 8 de janeiro, deixaram uma lição: não se deve misturar religião com política. Deve, sim, escolher seu candidato sem usar o nome de Jesus e, principalmente, o de Deus em vão e em favor de candidato A ou B em processo eleitoral. Travou-se uma grande “guerra santa” na internet entre líderes religiosos evangélicos que fizeram apologia ao candidato derrotado, como se ele tivesse comportamento religioso, quando na verdade seus atos e omissões eram públicos, mas os fiéis cegos e iludidos pelas gravações de vídeos produzindo provas contra si  nas redes sociais, através de mentiras e deturpação da imagem de pessoas públicas e ataques às instituições, acreditaram nesses seres energúmenos que induziram essas pessoas ao erro e a pagar caro pelas suas atitudes.

Gente que estava protestando em frente aos quartéis não acreditava que cometia crimes, muitos deles cooptados pelos políticos de extrema direita, marchavam e se exibiam em vídeos, induzidos por determinados políticos que hoje respondem a inquérito junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que, por incrível que pareça, usavam o nome de Deus como escudo. Felizmente, esses sepulcros caiados foram desmascarados perante a opinião pública e boa parcela dos religiosos protestantes estão arrependidos por terem ingressado nessa barca furada.

Hoje estamos vendo o resultado do desgoverno anterior que fez de tudo para se reeleger. Existem ações na justiça investigando as interceptações dos ônibus no interior do país que impediam as pessoas de votar; a concessão do auxílio Brasil a pessoas que não reuniam condições para receber o benefício. Em verdade fizeram uma lavagem cerebral nesses fiéis que até hoje pagam caro pelas suas atitudes e tomadas de decisões que confrontaram o Estado e os tornaram réus perante a justiça brasileira.

Entendemos que as pessoas mais conservadoras são as que mais apelam aos dogmas  e crenças religiosos para fazer valer as suas pretensões políticas. Na sua maioria essas pessoas não reúnem condições reais para conduzir um processo político numa nação laica, conquistado com muito sacrifício e injustiças sociais que perduram até os dias de hoje.

Na sociedade existem normas e conceitos que regulam a vida social, econômica e política, independentemente de religião. Isto porque somos um país laico, um país em que a religião não interfere na República. Pelo menos é o que deveria acontecer, mesmo porque a nossa Constituição garante o direito do todo cidadão professar a sua fé sem ser importunado ou discriminado.

Se não houver um controle nessas atividades antidemocráticas, em que uma minoria de fanáticos religiosos tenta divinizar o processo eleitoral, por mais alguns anos veremos embates religiosos como assim acontecia nos países mulçumanos e na Irlanda do Norte.

É preciso preservar a conquista da democracia e do Estado laico.

A interferência da religião nos assuntos de Estado pode romper a igualdade e a liberdade assegurada pela Constituição de 1988, elaborada para proteger o cidadão brasileiro. Nesse caso urge a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer com que as coisas voltem à normalidade e aos seus devidos lugares.

Antônio José Matos de Oliveira é jornalista, escritor, administrador de empresas, diretor administrativo do Jornal do Comércio do Ceará e membro da Academia de Ciência, Letras e Artes de Columinjuba – ACLA Capistrano de Abreu.

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