Por um triz

Por Reinaldo Oliveira*

Costumo caminhar por uma praça, a fim de rever alguns amigos e me atualizar dos fatos, logo após uma sessão de ginástica em uma academia. Adoro fazer isso; me dá prazer. Vejo mulheres lindas, loiras, ruivas, morenas, de corpos curvilíneos. Ah! Quando as encontro, fico em total excitação. Não consigo me controlar principalmente diante daquelas dotadas de atributos calipígios.

Outro dia desses, fitei uma loira fatal. Que loira! Aqueles cabelos ondulados, os olhos claros, a cútis, o corpo, então, dentro daquela vestimenta de academia, que me deixava ver suas intimidades. Louco fiquei e quis logo agarrá-la. E não é que era uma ex-namorada! Quanto mais ela se aproximava, mais eu me via envolto em paixão.

Quando trocamos amabilidades, ela disse estar casada; então perdi as esperanças. Mas que nada! Ela foi logo me dizendo que ainda se lembrava das poesias que eu lhe fizera no passado e que ninguém nunca mais havia ousado declamar-lhe um verso sequer. Aí gelei, vi que poderia tê-la de novo.

Segundo ela, o marido estava em viagem. Nem a procurava mais, estava com outra. Era como se fossem dois irmãos dentro de casa.

Inconformada, ela me pediu socorro, amparo, carinho e amor. Contou-me que havia sido freira e, não podendo fingir para Deus, resolveu abdicar de tamanho encargo, pois sentia uma forte atração pelo padre que diariamente celebrava missa em sua igreja predileta. Continuou dizendo que algum tempo depois conseguiu ser juíza federal; mas também jogou fora o penoso ofício, pois enriquecera ilicitamente. Não foi presa, porque tinha um bom advogado, porém seus colegas juízes acharam por bem lhe tirar o cargo.

Eu mais que depressa a levei a um lugar romântico, porque a noite ameaçava cair. Lá, ela se soltou ainda mais; foi logo me dando um beijo com os lábios bem umedecidos. Senti que aquilo me levaria a uma cama.

Entre tantos assuntos a convenci a ir comigo a um motel. A princípio, relutou, dizendo ser de família, como a mulher de César, casada e respeitada na sociedade. Em seguida, após três copos de cerveja e já quase embriagada, cedeu aos meus impulsos. Mas antes pediu que eu recitasse um poema que lhe havia feito tempos atrás.

Quando cheguei ao paraíso ao lado daquela mulher que já poderia ter sido minha, senti um furor carnal que brotava de seus olhos. Ela foi logo me dizendo que queria tomar banho na piscina daquela suíte.

O quarto em si já induzia ao amor. Tantas figuras em posições libidinosas me instigavam a tirar-lhe a roupa logo ali na entrada. Todavia me contive por alguns segundos. Tranquei a porta. Na sala oval de cor amarela e com espelhos por todos os lados, comecei a beijar-lhe a boca, desci para o pescoço e, em seguida, fui até o lóbulo.

De repente, o telefone toca. A funcionária do motel informava que havia alguém na linha que precisava urgentemente conversar com o homem do quarto, que era eu. Imediatamente, fiz-lhe ver que seria impossível que alguém soubesse de minha ida àquele local. Mesmo assim, autorizei a conexão.

Do telefone ecoava uma voz possante e determinada bradando que eu e minha loira meio europeia partiríamos dessa para outra, logo que cruzássemos a linha férrea. Não consegui apresentar argumentos. Percebia que, do outro lado da linha, havia alguém em completo desespero, em total descontrole.

Trêmulo e nervoso, dividi o assunto com minha amada que se pôs a rir, já sugerindo um outro encontro e no mesmo lugar.

Nem havia tirado a roupa, fui logo pegando a chave do carro, e ela parecia não se importar com a gravidade da crise que se adiantava. Simplesmente respondeu que, por lapso, não havia deixado o celular de última geração, com localizador pela internet, em casa. Tal ferramenta possibilitava ao marido – com apenas com um clique – localizá-la em qualquer lugar do planeta através do computador.

Riu de novo, deu-me um beijo no rosto e disse auf Wiedersehen, que significa “até logo!” em alemão, sugerindo que eu saísse sem ela.

 

* Bancário, contador, jornalista e professor de Inglês; conto escrito em 2006 e publicado pela primeira vez na revista Catatau.

 

 

 

 

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