Patroas: mulheres representam 45% dos microempreendedores individuais no Nordeste

Programas incentivam a atuação feminina e são fundamentais para as empreendedoras

Reportagem: Gabriel Ferreira, Graziela França e Karina Dantas

Iniciar um negócio exige sempre muita coragem, mas não só isso, é preciso também muita dedicação. Para as mulheres, o desafio é ainda maior, já que comumente elas têm que conciliar o tempo entre o trabalho e a família, além da vida pessoal. Na região Nordeste, 45,1% dos Microempreendedores Individuais (MEIs) são mulheres, o que mostra a importância do empreendedorismo feminino para o desenvolvimento econômico e social da região e para a renda familiar.

De acordo com dados coletados pela Agência Tatu, junto ao Ministério da Fazenda, os principais segmentos onde mulheres atuam como microempreendedoras individuais são no comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios (12.6%) e no ramo de serviços, como cabeleireiras (10%). Veja a seguir a distribuição das empreendedoras por estado da região.

Número de MEIs do sexo feminino no Nordeste

Dados do Ministério da Fazenda extraídos em 30 de maio

PROGRAMAS INCENTIVAM E APOIAM MULHERES EMPRESÁRIAS

Programas públicos que incentivam a atuação feminina em pequenos negócios se mostram fundamentais para as empreendedoras que precisam aprimorar seu trabalho. O Banco da Mulher Empreendedora de Maceió é um exemplo de iniciativa que busca impulsionar o empreendedorismo feminino.

Segundo a Prefeitura da capital alagoana, o auxílio concedido será entre R$ 1.200 a R$ 3.600, em parcela única, para que essas mulheres possam investir no seu negócio. O Valor recebido não precisará ser devolvido pelas contempladas. Além disso, elas participarão de um curso de Empreendedorismo, que será oferecido pelo Município em parceria com o Sebrae.

No primeiro edital do programa foram contempladas 833 mulheres maceioenses com os subsídios que ajudarão na compra de insumos e equipamentos para o empreendimento. Uma das beneficiárias é a artesã Andrea Karina, 50, mãe solo de dois meninos, que possui um ateliê na sala de jantar de casa com diversos produtos artesanais produzidos por ela.

Eu chorei de alegria, me tremia de tanta felicidade. [Com o auxílio] vou poder comprar meu material para trabalhar. Me emocionei porque me fez lembrar de tudo: o fato de eu não ter outra renda, de nunca ter conseguido algum auxílio, o que dificulta tirar o dinheiro que entra e transformar [em produto], porque eu tenho que fazer um milagre. A partir do momento que eu soube que eu ia ter esse dinheiro pra comprar material, embalagens e outras coisas, a emoção vai longe”, comenta emocionada Andrea.

Artesã Andrea Karina em seu ateliê de artesanatos. Foto: Jonathan Lins.

Outra beneficiária do Banco da Mulher, Rafaela Silva, 33, é designer de unhas e proprietária de um estúdio de beleza. Ela conta que sempre quis ter o próprio negócio, começou como autônoma há seis anos e no início fazia atendimento a domicílio, depois utilizou um quartinho da própria casa para atender, mas há um ano possui o próprio espaço.

“É uma ótima iniciativa. Eu me inscrevi e esse auxílio vai me ajudar a comprar mais insumos para o meu negócio, a melhorar o atendimento com outros maquinários, além de outras coisas que eu quero comprar, então foi muito importante. Eu amei ter sido uma das contempladas. E sei que isso vai ajudar muito outras pessoas que estão no início, e quem já tem o negócio, vai melhorar”, relata Rafaela.

Rafaela Silva é designer de unhas e proprietária de um estúdio de beleza.

Segundo Ana Paula Mendes, secretária da Mulher, Pessoas com Deficiência, Idosos e Cidadania (Semuc) de Maceió, o Banco da Mulher Empreendedora busca estimular a autonomia financeira e econômica de mulheres, além de combater a violência contra a mulher.

Muitas vezes o que impede que a mulher se liberte de uma situação de violência doméstica é a dependência financeira em seu agressor. Assim, o empreendedorismo feminino e a capacitação dessas mulheres se tornam ferramentas de combate à violência sofrida. Além da emancipação dessas mulheres, o fomento ao empreendedorismo feminino garante o estímulo ao comércio do município e a economia local”, afirma a secretária.

CAPACITAÇÃO APRIMORA O NEGÓCIO

Para ter um empreendimento não basta ser boa na área específica em que atua, é preciso se manter atualizada nas tendências do mercado e saber gerir o faturamento, logística, atendimento, entre outros detalhes fundamentais em uma empresa.

Realizar cursos de capacitação é essencial para manter o negócio sempre em alta. O Método Efeito Furacão, um programa criado em parceria entre o Sebrae Delas e a aceleradora B.Labs, busca capacitar mulheres por meio de workshops, painéis e palestras, acelerando negócios geridos por mulheres.

Ruth Reis, 40, tem seu próprio negócio de confecção de grinaldas e acessórios para noivas em Maceió. Ela foi uma das mulheres “furacanizadas” – uma forma de se referir às participantes da aceleração – e afirma que aprendeu muito durante o programa.

“No ‘Furacanizadas’ você tem mentorias que acontecem toda semana durante três meses, e tem os presenciais também, que são feitos lá na sede do Sebrae. Eles te dão os livros, dão os kits, é bem interessante e engloba tudo de uma vez, a parte de marketing, a parte financeira, logística, tudo. Eu estava travada em termos de redes sociais e eles abriram novos caminhos, me deram novos canais para procurar e nomes de aplicativos gratuitos para estar utilizando. (…) Tudo isso eles explicam no curso e a gente tem que estar colocando em prática. Então gostei bastante”, explica Ruth.

Ruth Reis durante participação no programa de aceleração Método Efeito Furacão.

Para Ruth, o empreendedorismo surge, ainda, como forma de terapia, superação, em meio ao diagnóstico de câncer de mama em 2018. “Naquele momento a minha filha era modelo de cabelo de uma penteadeira bem famosa aqui em Alagoas, aí eu sempre tava indo com ela. E essa moça, a Paula Lucena, ela me falou da dificuldade que tinha de achar acessórios de noiva que fosse um valor acessível, bonito e com um acabamento bom. Eu sempre fiz bijuteria, nunca em grande quantidade, sempre para quem queria. Aí eu fui e entrei de cabeça, eu disse ‘mande para mim algumas inspirações que vou tentar fazer’, já que eu tinha essa habilidade manual”, conta.

Assim, enquanto a filha fazia os penteados, Ruth começou a fazer os acessórios. Ao perguntar se estavam aprovados, recebeu “amei” como resposta.

“Começou, na verdade, durante todo o tratamento, como uma forma de terapia porque eu comecei a fazer para dar para ela. E depois virou uma renda, porque com o tratamento fica difícil você estar trabalhando fora. E você trabalhando dentro de casa está no conforto e fazendo o que você gosta, né? Porque eu amo fazer trabalho manual”, completa Ruth, lembrando, que trancou o curso de Direito no oitavo período para se dedicar mais ao seu trabalho.

DADOS MOSTRAM CRESCIMENTO DO EMPREENDEDORISMO FEMININO 

O Brasil atingiu, no terceiro trimestre de 2022, o recorde de mulheres donas de negócio – empregadoras com ou sem CNPJ que possuem ou não empregados – , chegando ao número de 10.344.858, de acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse trimestre, as empreendedoras representaram 34,4% do total, enquanto os homens somaram 65,6%.

Número de homens e mulheres Donos de Negócio no Brasil

Dados são do terceiro trimestre dos últimos quatro anos.

Érica Pereira, gestora do Sebrae Delas de Alagoas, reforça as principais dificuldades encontradas pelas mulheres que desejam ter suas próprias empresas. “Quando empreendem, os principais desafios são conciliar família e negócio, famosa tripla jornada. As mulheres trabalham em média 14% a mais que os homens (segundo pesquisa Sebrae, 2022). Acessar créditos e financiamentos também é um grande desafio”, explica.

Segundo a gestora, o Sebrae vem atuando com o projeto de empreendedorismo pensando nessas necessidades, levando capacitações em formatos híbridos, online e, quando presencial, buscando acolher as mães empreendedoras com espaços kids.

Para as mulheres que desejam conhecer os serviços que o Sebrae tem especificamente para esse público, basta ir a um dos pontos de atendimento ou redes sociais da órgão, para entender como participar das capacitações específicas para o empreendedorismo feminino.

MAIS TEMPO PARA A VIDA PESSOAL

Para muitas, o empreendedorismo também é uma forma de ter mais flexibilidade e assim poder dedicar mais tempo à família e aos cuidados com a saúde, representando uma melhor qualidade de vida.

“Eu moro com dois filhos, de 18 e 21 anos. O meu filho mais novo foi diagnosticado com depressão e borderline, e o empreendedorismo me ajudou a não adoecer também. Com meu trabalho eu consigo fazer, interagir, sair de casa, consigo levar meus filhos pros eventos, enfim, hoje não consigo me ver sem ser empreendedora.

O empreendedorismo também me ajudou a acompanhar e estar perto do meu filho, que precisa da minha atenção”, relata a artesã Andrea Karina.

Artesã Andrea Karina utiliza sala de jantar de casa como ateliê. Foto: Jonathan Lins.

Para Rafaela Silva, ser dona de seu próprio negócio acabou com as burocracias e reclamações que ela tinha que lidar nas empresas.

“Todo negócio tem seus prós e contras, mas empreender para mim sempre foi uma vontade e foi muito bom, porque eu consigo fazer o meu horário. (…) Então ter meu próprio negócio com certeza me ajuda bastante nessa questão familiar”, conta Rafaela.

Poder acompanhar os filhos em atividades escolares e cuidar melhor da saúde deles também foi algo mencionado por Ruth Reis. “Eu tenho uma filha de 21 anos, que, inclusive, também teve câncer de mama, e poder estar em casa trabalhando e cuidando dela, nenhum outro trabalho vai me proporcionar. E eu tenho um pequenininho de 10 anos também, que eu sempre estou perto, estudando, dando o maior apoio, então o trabalho em casa para mim está sendo uma maravilha, na verdade, porque eu posso fazer tudo que eu não fazia antes. O empreendedorismo me proporciona esse conforto de poder estar em casa com os meus filhos e trabalhando”.

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