Os 294 anos de Fortaleza. Tudo começou na Barra do Ceará

A passagem de Vicente Pinzón – Os primeiros europeus em 1613 Pero Coelho de Sousa na foz do Rio Ceará –A Influência indígena Aquiraz à frente como cidade – Schoonenborch, o marco inicial do desenvolvimento de Fortaleza e de sua história – Cultura urbana, econômica, cultural e religiosa. A política partidária que veio depois’’.

Texto: Zelito Magalhães
Pero Coelho de Sousa, vindo da Paraíba, em 1603, e com a intenção de conquistar as terras cearenses, mandou erigir uma fortificação que denominou-a de Fortim de São Tiago, na Barra do Rio Ceará, onde se localizaria mais tarde a cidade de Fortaleza. Estavam em seus planos a defesa do populacional a formar-se com o nome de Nova Lisboa. Entretanto, com o fracasso de sua expedição, prédio de levantamento precário foi destruído pela ação do tempo.
No ano de 1611, Martin Soares Moreno, que fora soldado de Pero Coelho, voltou à região e, para assegurar a posse portuguesa, ergueu no mesmo lugar do Forte de São Tiago, o de São Sebastião, numa homenagem ao Santo do dia (20 de janeiro de 1612). Em 163l, os holandeses tentaram tomar o Forte de São Tiago, com a ajuda dos índios potiguaras, não sendo bem recebidos no seu intento.
A segunda expedição dos holandeses chegou à enseada do Mucuripe no dia 2 de abril de 1649. Vinha chefiada por Matias Beck cuja parte militar estava confiada ao major Joris Garstman, que estivera nesta região, no posto de comandante da primeira invasão holandesa, em 1637. Voltando a insistirem em 1837, o Forte foi tomado com a ajuda dos referidos indígenas. Em 1644, o Fortim de São Sebastião foi destruído por nativos em rebelião, quando a maioria dos holandeses foi morta e a outra parte fugiu.

Matias Beck
No ano de 1649, ocorreu o segundo período do domínio holandês. Nova expedição foi organizada e, com a ajuda de indígenas, foi construído no monte Marajaitiba, às margens do Rio Pajeú, o Forte Schoonenborch. Este Forte foi considerado o marco inicial do desenvolvimento de Fortaleza e de sua história. Matias Beck era um militar da Colônia, que chegara ao Brasil em 1636, indo residir em Itamaracá, Pernambuco. Era religioso, pastor de uma igreja. Matias Beck, considerado fundador de Fortaleza.

Sobrado do comendador machado.

Rebatismo do Forte
Com a chegada dos batavos em 1654, com a entrada dos batavos novamente expulsos pelos lusos, a construção foi batizada com o nome: Forte de Nossa Senhora da Assunção. À época, Fortaleza era bem modesta e economicamente mantida pela pecuária e charque, atividade que levou os sertões cearenses no final do século ao desbravamento. Os produtos eram levados até para outras cidades vizinhas, o que colaborou consideravelmente para o crescimento da economia do estado.

Fortaleza elevada à Vila
Em 13 de abril de 1726, o povoado do Forte de Nossa Senhora da Assunção foi elevado à condição de Vila, tornando-se a segunda do estado. Aquiraz, à época, contava 114 anos de sua fundação. Criada em 13 de fevereiro de 1699 e instalada em 27 de junho de 1713, foi a capital do Ceará até o ano de 1726, quando transferida para Fortaleza.

Plano urbanístico e centro de exportação
Com a transformação da cidade em centro regional de exportação e com o aumento das navegações diretas à Europa, foi criado, no ano de 1812, o serviço alfandegário de Fortaleza. Silva Paulet desempenhou importante papel na evolução da cidade, erguendo em 1820, obras no local do que restou. Por exemplo, construiu a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e o Passeio Público, além de ter sido o autor do primeiro plano urbanístico da cidade. Fortaleza se agitou. Em 1824, com o movimento da Revolução do Equador, assistindo episódios sangrentos, como a execução do Padre Mororó e Pessoa Anta. Também naquele ano, vinha a lume a 1ª edição do Diário do Governo do Ceará, datado do dia primeiro de abril, sob a direção de Mororó.
A cidade foi tomada por outros períodos de desenvolvimento, destacando-se a criação do Liceu do Ceará e o Farol do Mucuripe (1845), Santa Casa de Misericórdia (1861) Seminário da Prainha (1864) Cadeia Pública (1870) além da Rede de Viação Cearense, do Porto de Fortaleza, construída na Ponte Metálica pelos ingleses.

Igreja do Rosário primeira Igreja de Fortaleza

Movimento Abolicionista
Quatro anos antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áureia Nº 3.353, de 13 de maio de 1888, o Ceará libertava, a 25 de março de 1884, os seus escravos na Terra da Luz. O primeiro levante popular ocorreu na capital cearense, entre 27 e 31 de janeiro de 1881, protagonizado pelos jangadeiros liderados por Francisco José do Nascimento o ‘Chico da Matilde’, que ficou conhecido por Dragão do Mar, denominação de José do Patrocínio.
A Cearense Libertadora – O dia 8 de dezembro de 1880 assinalaria uma data de ouro para o calendário da história antiescravagista no Ceará – a criação da Sociedade Cearense Libertadora, composta da seguinte diretoria: Presidente – João Cordeiro; José Correia do Amaral – 1º Vice-presidente; Dr Frederico Borges – 2º Vice-presidente; Antônio Bezerra de Menezes; 1º Secretário- Antônio Dias Martins; 2º Secretário – José Teodorico de Castro.
O 25 de Março eis que é chegado: “Às quatro e meia da tarde efetuou-se a primeira marcha cívica, puxado à sua frente monumentoso carro alegórico, com suas nuvens de gaze e seda, conduzido por quatro cavalos ruços guiados à mão levando sobre o trono três lindas cearenses, simbolizando no esplendor do seu triunfo a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade”(transc.de Raimundo Girão, na simbologia maçônica. O historiador anti maçom Gustavo Barroso reconheceu que à sombra das acácias, o Ceará libertava seus escravos (acácia árvore símbolo da Maçonaria). Sem o 25 de março de 1884 do Ceará, não teria vindo o 13 de maio de 1888 da Princesa Isabel.

Assembleia Provincial do Ceará
As origens da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará remontam a 1835, quando no dia 7 de abril, o Senador José Martiniano Pereira de Alencar, que ocupava a Província do Ceará, abriu os trabalhos da Primeira Sessão do Poder Legislativo cearense. Cumpria-se naquele momento o Ato Adicional assinado pela Regência de 1834, que criava as Assembleias Legislativas Provinciais. Em sua primeira legislatura, a Assembleia era composta por 28 deputados e 7 suplentes e era localizada nas proximidades da Praça da Sé. O primeiro presidente do Poder foi o Capitão-Mor Joaquim José Barbosa
No ano de 1871, o Legislativo transferiu-se para o Passo da Assembleia, na Rua São Paulo, onde permaneceu por mais de um século.

Primeiras Igrejas de Fortaleza
Considerado o Templo mais antigo de Fortaleza, a Igreja do Rosário era uma simples casinha de taipa em 1730. Foi erguida por iniciativa de um escravo africano. Cinco anos depois, foi refeita em pedra e cal. No dia 27 de outubro de 1747, ocorreu a primeira festa dedicada à Padroeira, sendo cobrado pelos padres responsáveis pelos atos religiosos, a quantia de 10$000 (dez mi réis) pela missa e 7$00 (sete mil réis) pela música. Todos os anos vinham negros escravos nos bandos de congo dançar a Noite de Natal em frente à Igreja – Relato do historiador João Nogueira em “Fortaleza Velha”

Um fato da História
O historiador Mozart Soriano Aderaldo – “Variações em torno da Catedral” revela que a 16 de fevereiro de 1892, na revolta contra o Presidente Gal. José Clarindo de Queiroz, promovido por Floriano Peixoto e executado por alunos da Escola Militar, uma bala de canhão foi arremessada contra a estátua do General Tibúrcio, que caiu de pé do seu pedestal.

Praça do Ferreira

Os primeiros bondes a burro
Os primeiros bondes puxados por burros apareceram em Fortaleza no dia 25 de abril de 1880, num empreendimento do Cel. Tomé A. de Motta denomino Companhia Ferro Carril do Ceará. No início eram 25 bondes, cada um com capacidade para conduzir 25 passageiros, distribuídos em cinco bancos. Eran adornados com cortinas para proteger os passageiros do sol e da chuva.
Dirigido por um boleeiro e puxados por dois burros, trafegavam quase o dia inteiro das 6 da manhã às 9 da noite. Partiam da Praça do Ferreira para as diversas linhas. O último deixava a praça ao toque da corneta nos quartéis, que anunciava o recolher. O do Alagadiço saia às 8 horas. A estação do Bonde ficava na Rua Dr. João Moreira, ao lado do Passeio Público. No dia 19 de maio de 1947, circulou o último bonde elétrico em Fortaleza Era o fim de 34 anos de funcionamento. Os trilhos começaram a ser retirados em novembro de 1948.

A Empresa Telefônica
Com a “permissão” do Conselho de Intendência homologada pelo governo federal, definiu-se como firma concessionária para explorar o serviço telefônico em Fortaleza, a firma Pamplona, Irmão & Cia. O funcionamento da nova empresa ocorreu em tempo recorde, pois em setembro de 1891 foi inaugurado pelo então governador do Estado, General José Clarindo de Queiroz. Começou com sessenta aparelhos funcionando, e em novembro já eram cento e vinte telefones em uso. Cada assinante pagava dez mil réis (10$000) mensais. A direção da empresa ficou a cargo do sócio Confúcio Pamplona. Até 1898, a Empresa Telefônica esteve explorada por Pamplona, Irmão & Cia, exatamente quando chegou a possuir 305 assinantes. As dificuldades financeiras por que passou a empresa, forçaram seus proprietários a transferi-la para seus credores, em 20 de março de 1899

A Padaria Espiritual
Antônio Sales foi o inspirador e principal animador da original agremiação literária, idealizada nas cadeiras do Café Java e instalada solenemente às 19 horas de 30 de maio de 1892. Com endereço à rua Formosa (antiga Barão do Rio Branco) “ele a batizou, deu-lhe prestígio, traçou-lhe o programa de ação.

Mas recusou-lhe a presidência, entregando-a a Jovino Guedes” (comentário do historiador Wilson Bóia). Antônio Sales contentou-se como ser o seu primeiro padeiro-mor até 28 de outubro de 1896. Adotou o nome de Moacir Jurema.
A instituição criou o seu jornal de divulgação com o nome de “O Pão” cujo Nº 1 (é de 10 de julho de 1892) tendo o último de Nº 36, circulado em 21 de outubro de 1896 quando também fechou as portas.

Academia Cearense de Letras
O Silogeu foi fundado sob a direção de Tomás Pompeu de Sousa Brasil, a 15 de agosto de 1894, três antes da Academia Brasileira de Letras. Foi seu primeiro presidente (1894-1929) seguindo-se os demais: Antônio Ferreira Sales (1930-1937) Thomas Pompeu Sobrinho (1937-1951) Dolor Uchoa Barreira (1952-1954) Mário Rômulo Linhares (1955-1956) Raimundo Girão (1957-1958) Manoel Antônio de Andrade Furtado (1959-1960) Raimundo Renato de Almeida Braga(196l-1962) Antônio Martins Filho (1963-1964) Manuel Eduardo Pinheiro Campos (1965-1974) Cláudio Martins (1975-1992) Artur Eduardo Benevides (1993-2004) José Murilo de Carvalho Martins (2005-2008) Pedro Henrique Saraiva Leão (2009-2012) José Augusto Bezerra (2013-2016) Ubiratan Diniz Aguiar (2017-2018) e Angela Mª Rossas Mota Gutiérrez -2019
Antes do Prêmio oficializar-se como uma homenagem ao Patrono Osmundo Pontes, a Academia Cearense de Letras começou a selecionar obras de consagrados autores nos diversos gêneros para homenageá-los. O primeiro reconhecimento coube à imortal “Iracema”, de José de Alencar, no ano de 1903, e o último ao amigo Oswaldo Evandro Carneiro Martins.
O Prêmio Osmundo Pontes de Literatura foi criado por iniciativa de Cybele Valente Pontes, viúva de Osmundo, atendento ao pedido do marido. Sob a chancela da Academia Cearense de Letras. O primeiro concurso data do ano de 1995 e foi concedido na categoria de poesia a José Maria Mapurunga Filho com o título Mesopotâmia, e a Carlos Alberto Medeiros Nóbrega. Pela obra Poemas. 1996 – Concedidos a José Costa Matos com o romance O Rio Subterrâneo, e a Celina Fontenele Garcia, com o ensaio A Escrita Frankenstein de Pedro Nava. 1997 – Regine Limaverde com poesias O Limo e a Várzea, e Pedro Rodrigues Salgueiro com contos sob o título Brincar com Armas. 1998 – Natércia Campos com o romance A Casa, e Caterina Maria de Saboya Oliveira com o ensaio Visões de Fortaleza. 1999 – Giselda Medeiros Albuquerque, na categoria poesia com o trabalho Tempo de Espera, e Napoleão Pereira de Souza Júnior, com Nada Sincronizado (contos) 2000 -Raimundo Cavalcante dos Santos, com o romance Viventes da Baixa da Égua, e Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, com o ensaio O Enigma do Jano Caboclo. 2002 – Zelito Nunes Magalhães, com o ensaio O Romance Cearense, e Germano Silveira Vasconcelos, com o romance Muito Além da Neblina. 2003 – Carlos Augusto Viana, categoria poesia, A Báscula do Desejo, e José Maria Mapurunga Filho, com Contos de Andarilho. 2004 – Vera Lúcia Albuquerque de Morais, com o ensaio Entre Narciso e Eros: A Cons trução do Discurso Amoroso em José de Alencar, e Paulo Avelino Barbosa Silva, com o romance Não se Tropeça Diante do Rei. 2005 – Tércia Montenegro, categoria Poesia, sob o título Ausência. Fernando Antonio Siqueira Pinheiro, na mesma categoria, sob o título O Tatuador de Palavras. 2006 – Fernando França Câmara com O Diálogo Entre Literatura e Artes Plásticas em Exposição de Carlos Drummond de Andrade, e Ana Vládia Mourão Aires, com o ensaio Escritura do Tempo No Conto de Samuel Rawet. 2007 – José Telles, categoria poesia, sob o título: Silueta, e Carlos Roberto Nogueira Vasconcelos, Mundo dos vivos (contos). 2008 – Révia Herculano, romance Chão aberto com ajuda das pesquisas, acompanhamos até aqui lista dos premiados sabendo que outros escritores, como Claudene Oliveira Aragão, Raymundo Neto, Angela Maria Rossas Mota Gutiérrez prosseguiram com significativos em busca de tão honroso Prêmio Osmundo Pontes de Literatura.

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