Organização pressiona G20 pelo fim do comércio de animais silvestres
Proteção Animal Mundial afirma que o banimento pode evitar futuras pandemias.
A atual pandemia de Covid-19 aumentou a preocupação com a interação entre humanos e animais silvestres. O comércio e a exploração dessas espécies se tornaram um grande negócio, que aumenta o risco de contaminações por pandemias zoonóticas e ameaça à saúde da população, a economia e a biodiversidade. Por isso, a Proteção Animal Mundial – organização não-governamental que atua em prol do bem-estar animal – lança uma campanha global que pede que os líderes do G20 trabalhem para a proibição permanente do comércio de animais silvestres no mundo.
“A atual pandemia de coronavírus é uma das piores crises que já enfrentamos, contudo se a interação entre humanos e animais silvestres continuar no nível que está, certamente novas e piores crises sanitárias virão. Cerca de 70% de todas as doenças transmitidas de animais para humanos têm origem nos silvestres. Por isso, o banimento de todo e qualquer comércio de animais silvestres é necessário e urgente”, afirma a diretora-executiva da Proteção Animal Mundial no Brasil, Helena Pavese.
As principais razões para a mercantilização em escala industrial da vida silvestre é a alta demanda pública por essas espécies, seja para alimentação, medicina tradicional, animais de estimação, entretenimento e acessórios de moda. De acordo com estimativas, o mercado de espécies silvestres rende, por ano, entre 7 e 23 bilhões de dólares.
Não é apenas pelo risco de uma doença zoonótica que a Proteção Animal Mundial pede o banimento imediato do comércio de animais silvestres. “Além dos riscos para a saúde humana, essa prática é cruel e perigosa, uma vez que, anualmente, milhões de animais são capturados. Essas espécies sofrem desde a captura, passando pelo transporte e comércio, até chegar ao público final. Além do óbvio dano aos animais e ao ecossistema, há ainda a total falta de higiene na manutenção desses animais que, por conta de todas essas mazelas, ficam mais suscetíveis a doenças e infecções que podem contaminar os seres humanos”, aponta Helena.
Em novembro deste ano, os líderes do G20 (grupo das 20 principais economias do mundo, do qual o Brasil faz parte) se reunirão em sua cúpula anual, na qual a pandemia do novo coronavírus terá um lugar central na discussão. A campanha da Proteção Animal Mundial pretende pressionar os maiores líderes globais para incluir na agenda a discussão pelo fim do comércio de animais silvestres, de uma vez por todas. Como parte do G20, o governo brasileiro tem o poder de influenciar as superpotências globais a tomarem a atitude necessária para proteger os animais, as pessoas e o planeta.
Conheça a campanha em: https://www.
Comércio cruel – Todos os anos, milhões de animais silvestres são capturados de seus habitats naturais para serem criados em péssimas condições no cativeiro. Onças, cobras, papagaios, iguanas, jabutis, passarinhos e uma infinidade de outras espécies são retiradas de seus pares, para ficarem trancafiados em gaiolas e servirem como bichos de estimação, sem conseguirem expressar seus comportamentos naturais, vivendo uma vida de extremo sofrimento. A exploração da biodiversidade do Brasil é intensiva, anualmente são registrados mais de 290 mil novos animais nos sistemas legalizados, e estimativas apontam para mais de 38 milhões de animais silvestres retirados ilegalmente da natureza.
O crescimento do turismo global intensificou o comércio de dezenas de milhares de animais silvestres, que são usados para entretenimento, aonde ficam aprisionados e sofrem abusos. Na Tailândia, aproximadamente 11 milhões de pessoas pagam anualmente para assistir aos elefantes realizarem truques, enquanto 46 milhões pagaram para ver golfinhos em delfinários (maioria dos casos) pelo menos uma vez nos últimos 4 anos. Em Manaus/AM, 94% das excursões oferecem a oportunidade de tocar ou segurar um animal silvestre para fotos, o que reforça o mesmo ciclo de captura, cativeiro e crueldade com os silvestres.
Há ainda a demanda de animais pela medicina tradicional, que tem consequências devastadoras para muitas espécies, com maior foco em ursos, que são escalfados e cultivados para terem sua bile arrancada. A crueldade e as más condições de confinamento deixam esses animais suscetíveis a doenças, que podem ser transferidas para pessoas próximas. Na América do Sul, um número crescente de onças-pintadas tem sido caçadas e mortas na Amazônia, para que partes de seus corpos sejam usadas para produzir “remédios” da medicina tradicional.
“Há anos, o comércio em escala industrial de animais silvestres gera alguns bilhões de dólares. Contudo, agora estamos todos pagando o preço por essa prática. Essa pandemia – que não é a primeira – não tem relação apenas com animais sendo vendidos para o deleite dos seres humanos. É muito maior que isso. Trata-se de ganância e mercantilização de espécies em todos os níveis. Se aprendemos alguma coisa com essa situação, é que precisamos deixar os animais selvagens onde eles pertencem, na natureza. Todos temos a responsabilidade de mudar nosso comportamento e atitudes em relação aos animais, que podem salvar as vidas de milhões de pessoas, animais e nossas economias”, finaliza Helena.