Um avanço promissor na oncologia foi publicado em novembro na revista Nature Communications. O estudo, intitulado “Multi-omics with dynamic network biomarker algorithm prefigures organ-specific metastasis of lung adenocarcinoma“, propõe um modelo inovador para prever metástases específicas do adenocarcinoma pulmonar, um dos tipos mais comuns de câncer de pulmão. A pesquisa integra dados biológicos de última geração com ferramentas computacionais avançadas, oferecendo novas perspectivas para personalizar tratamentos e melhorar a sobrevida dos pacientes.
“Embora ainda precise de validação clínica em estudos mais amplos, o potencial dessa metodologia é imenso. Ela oferece a possibilidade de criar tratamentos personalizados que bloqueiem a disseminação do câncer antes que ele atinja órgãos vitais”, afirma Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas.
A equipe de pesquisadores da Universidade Tongji, na China, recorreu a uma abordagem chamada multiômica, que une informações genéticas, proteicas e metabólicas para capturar uma visão abrangente das mudanças moleculares que ocorrem nas células tumorais. O núcleo desse trabalho é o algoritmo Dynamic Network Biomarker (DNB), que detecta alterações sutis nas redes moleculares que precedem a metástase.
O estudo analisou dados de lesões primárias de 18 pacientes utilizando sequenciamento de RNA de célula única (scRNA-seq) e realizou análises proteômicas em amostras de sangue de 117 pacientes com adenocarcinoma pulmonar, detectando 1492 proteínas relacionadas a processos metastáticos. Essas informações foram usadas para identificar estados pré-metastáticos e padrões moleculares exclusivos associados a metástases em órgãos como cérebro, fígado e ossos.“Essa capacidade de previsão pode se tornar marco no campo, pois abre a possibilidade de intervenções mais rápidas e precisas”, diz Carlos Gil.
O estudo identificou padrões moleculares exclusivos associados à metástase em diferentes órgãos. Por exemplo, enquanto um grupo de assinaturas apontava para o risco de disseminação ao cérebro, outro indicava maior probabilidade de metástase hepática. Esses insights ajudam a desvendar a lógica por trás das preferências metastáticas do tumor, um mistério que desafia médicos e cientistas há décadas.
Além disso, a abordagem multiômica revelou como diferentes fatores – genéticos e ambientais – interagem para determinar o comportamento do câncer. Isso não só permite compreender a complexidade do tumor, mas também fornece alvos específicos para terapias futuras.
“O estudo destaca como a integração de tecnologia e biologia molecular pode transformar a oncologia, trazendo soluções práticas para um dos maiores desafios: a metástase. Compreender os detalhes moleculares dos tumores abre caminho para tratamentos mais precisos e personalizados, que prometem um futuro mais eficiente e humano no cuidado oncológico,” afirma Carlos Gil Ferreira.