NOTA OFICIAL – Entidades que representam a indústria do trigo se posicionam contra a possível liberação do trigo e da farinha transgênicos pelo Brasil
Em coletiva de imprensa, realizada na segunda-feira, 27/09, Abitrigo, ABIMAPI e ABIP reforçaram a posição do setor quanto ao assunto
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, está em fase de conclusão do parecer técnico quanto à solicitação de empresa argentina que pediu a liberação de importação de farinha de trigo transgênico no Brasil.
Frente a essa possibilidade, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo – Abitrigo, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados – ABIMAPI e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria – ABIP promoveram, na tarde desta segunda-feira, 27/09, uma coletiva de imprensa para enfatizar o posicionamento contrário do setor das indústrias quanto ao possível parecer positivo da CTNBio.
O trigo transgênico foi autorizado na Argentina por meio da Resolução 41/2020 da Secretaría de Alimentos, Bioeconomía y Desarrollo Regional del Ministerio de Agricultura, Ganadería y Pesca1 daquele país. No entanto, sua autorização foi condicionada à aprovação da importação e uso comercial pela comissão reguladora no Brasil, neste caso a Comissão Técnica.
De acordo com as entidades, o processo conduzido pela CTNBio é restrito a elementos técnicos e não são considerados aspectos mercadológicos e sociais, como o posicionamento de consumidores brasileiros, importadores de produtos brasileiros à base de trigo, comunidade científica internacional e mercado mundial.
Com forte oposição de setores empresariais (em especial da cadeia de produção do trigo), da sociedade civil e de consumidores brasileiros, a liberação no Brasil ainda incorre em inúmeros questionamentos e estudos insuficientes de avaliação sobre os impactos do trigo geneticamente modificado à saúde humana, animal e à biodiversidade, além de seus impactos socioeconômicos.
As entidades sempre apoiaram o progresso da pesquisa científica do trigo no Brasil, que prioriza a segurança alimentar nos seus desenvolvimentos, alinhada às demandas dos consumidores, sem relegar os necessários fatores de produtividade do campo. Este processo, capitaneado pela Embrapa e pela pesquisa privada, tem promovido grandes avanços na qualidade e produtividade do trigo, sem a necessidade da utilização da tecnologia de modificação genética.
Como Brasil e Argentina seriam os únicos países do mundo a aprovarem tal tecnologia, até o momento sem precedentes internacionais, o tema merece ser considerado em sua maior abrangência possível pelas autoridades brasileiras, dada à repercussão mundial que esta decisão trará, com desmembramentos sobre a imagem do país, imagem do Agronegócio, reflexos econômicos sobre a cadeia do trigo e reflexos sobre o consumo deste alimento considerado essencial quando se trata de segurança alimentar das nações.
Nesse cenário, os presidentes das entidades mencionadas acima reafirmaram, na coletiva, a posição contrária à comercialização, tanto da farinha como do trigo transgênicos no Brasil.
As Associações ainda sinalizaram que, se aprovado pela CTNBio, irão, junto a outras entidades ligadas ao trigo no país, fazer a solicitação para que o tema seja analisado pelo Conselho Nacional de Biossegurança, integrado por ministros dos ministérios interessados, que não se reúne há mais de 10 anos, para pronunciar-se em relação à conveniência e a oportunidade da liberação do trigo e da farinha transgênicos.
Novas origens do grão
O Brasil, mesmo sendo um grande produtor agrícola mundial, tem o trigo como o único grão importado. Atualmente, o país importa quase 60% de seu consumo interno, tendo como a principal origem desse montante a Argentina.
Em pesquisa interna promovida pela Abitrigo e também pela ABIMAPI, concluiu-se que as indústrias do trigo no Brasil são contrários à utilização de Trigo Geneticamente Modificado e a quase a totalidade dos moinhos está disposta a interromper suas compras de trigo argentino, caso se inicie a produção comercial naquele país e sua exportação para o Brasil.
Essa medida segue o compromisso da indústria de respeitar e pensar no consumidor, que busca, cada vez mais, a saudabilidade e que tem se posicionado contra o trigo transgênico.
As entidades seguem agora no aguardo da próxima reunião da Comissão, em outubro, quando a CTNBio possivelmente apresentará um parecer sobre a liberação comercial de trigo geneticamente modificado, no Brasil.