Mercado de Green Bonds precisa evoluir no país para captação de investimentos em infraestrutura, defende presidente da BMG Seguros

Para Jorge Sant’Anna, agentes envolvidos devem fomentar o desenvolvimento da transparência para avanço de títulos sustentáveis

O Brasil deu um passo importante com a Nova Lei de Licitações para atrair investimentos em infraestrutura, mas ainda precisa avançar na captação de recursos, via emissão de títulos sustentáveis, para conseguir suprir as necessidades do país, em especial, na área de saneamento.

“A grande dificuldade é como financiar. país. E o Brasil prevê o orçamento de algo em torno de R$ 20 bilhões no próximo ano. Então, As projeções até 2022 do governo apontam para R$ 200 bilhões de investimentos frente a uma necessidade que deveria ser de R$ 350 bilhões para mantermos a infraestrutura mínima do temos uma distância enorme e uma evolução regulatória importante que tivemos foi a Nova Lei de Licitações. A primeira lei de licitações no mercado americano é de 1894, estamos mais de 100 anos atrasados”, afirmou o diretor-presidente da BMG Seguros, Jorge Sant’Anna.

O executivo participou nesta semana do “Conexão Aon: Diálogos Sobre ESG e Riscos”, evento organizado pela Aon, em parceria com a B3. O tema do encontro online foi “(S) ESG, Riscos e Financiamento em infraestrutura e Saneamento”.

Jorge Sant’Anna falou do crescimento da emissão dos títulos sustentáveis no mundo, que já chegam perto de US$ 31 trilhões em ativos, com destaque para os Green Bonds. Segundo o executivo, o valor representa pouco mais de 30% do total de ativos sob gestão no mundo.

“Cada vez mais as nossas instituições financeiras e os investidores migram para esse mundo. Como o Brasil pode entrar nesse mundo. Primeiro, é preciso ter transparência. A grande vantagem do bond sustentável é que sou obrigado a certificar e reportar a evolução do meu projeto. Isso exige uma infraestrutura importante no Brasil, que já existe lá fora e começa a acontecer aqui”, disse.

O diretor-presidente da BMG Seguros destacou que o país precisa evoluir nas questões relacionadas à captação para avançar nos investimentos em infraestrutura. Na sua avaliação, nesse sentido, é necessário que os agentes envolvidos – BNDES, trades, as seguradoras e o mercado financeiro – atuem para fomentar o desenvolvimento da transparência no mercado de Green Bonds no Brasil.

“No ano passado, o total investido em debentures de infraestrutura era da ordem de R$ 24 bilhões, ou seja, um gap enorme. O Marco do Saneamento é fundamental, ele traz riscos importantes na execução, na redução de perdas, no impacto ambiental das próprias obras estruturais. O arcabouço estrutural para emitir o Green Bond não é trivial, mas precisa evoluir. Precisamos evoluir. Não estou querendo dar uma visão pessimista, mas uma visão pé no chão da evolução que precisamos fazer no país”, reforçou.

Jorge Sant’Anna avaliou ainda que a Nova Lei de Licitações foi uma das principais evoluções vistas no país dentro do conceito de governança, de ESG. Uma das novidades da legislação é a contratação, pela empresa ganhadora da licitação, de um seguro-garantia de até 30% para as obras de grande vulto.

“Muitos criticam porque ela só chegou aos 30%; na minha opinião, estamos dando um grande passo. É uma transformação do mercado porque, em primeiro lugar, permite investimentos. Se você não tem certeza de execução, não tem investidor privado que vai de fato entrar no projeto de maneira mais agressiva. Costumo dizer, parece agressivo, que o Brasil se transformou quase em um cemitério de obras paradas. Quem pagou foi o contribuinte. A partir da nova lei, quem vai pagar será o investidor privado”, afirmou.

O executivo também comentou os impactos da lei no mercado de seguros. Um novo componente para as seguradoras é como avaliar a capacidade de financiamento no decorrer do projeto. “A seguradora precisará ser estritamente técnica e capaz de entender se ela pode estar naquele jogo ou não. Poucas empresas vão ter capacidade tecnológica ou técnica para atuar nesse mercado. Daí as corretoras terão um papel fundamental nessa decisão, na análise e monitoramento de risco”, concluiu.

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