Lançamento: com edição de Jarid Arraes, poemas narrativos de Maria Luiza Machado ganham terceiro livro

“Tantas que aqui passaram”, terceira obra da poeta baiana, tem como tema a solidão de mulheres plurais

“Ler Maria Luiza Machado me fez perceber que a solidão é construída e também coletiva, que estamos – e ao mesmo tempo não somos – sozinhas. […] Quando lemos os poemas com nomes tantos, de mulheres que em algum momento conhecemos ou vamos conhecer, também assistimos episódios e sentimentos de nossa própria vida.”

Monique Malcher, escritora e antropóloga paraense, que assina o posfácio do livro

A partir de um olhar pungente e detalhista, “Tantas que aqui passaram”, terceiro livro da escritora, poeta e editora baiana Maria Luiza Machado, conta, em forma de poemas narrativos, fragmentos e cenas que fazem parte da história de diferentes mulheres em algum momento presentes na vida da autora. Publicada pela sua editora, a Mormaço Editorial, a obra conta com parcerias de renome: a edição é da escritora, cordelista e poeta Jarid Arraes e o projeto gráfico é assinado pela poeta e ilustradora Isabela Sancho. Com 70 páginas, o novo livro pode ser adquirido pelo site da editora.

“Tantas que aqui passaram” foi concebido por meio de uma campanha de financiamento coletivo, via Catarse — a obra acabou sendo, também, uma das selecionadas pela Editora Urutau para publicação, em meio a mais de cem originais avaliados. Composto por 29 poemas, cada um deles revela a história de uma mulher.

“Toda mulher tem uma história que merece ser contada, nem que seja uma cena, um pequeno fragmento”, frisa a poeta, evidenciando a pluralidade e singularidade de cada cena versada. “Ao mesmo tempo que revela a história de uma única mulher, muitas outras podem se identificar com o mesmo poema. Alguns temas podem parecer, em um primeiro olhar, banais, mas se houver um bom disparo para a escrita, são capazes de se transformar em poesia.”

Influenciada por poesia contemporânea feita por mulheres, Maria Luiza dá continuidade, em sua nova obra, à escrita da poesia com personagens, aspecto já evidenciado em seu livro anterior, “Todos os nós” (Editora Penalux, 2019). O intuito é se desprender do “eu”, de suas próprias sensações, e embarcar em experiências de outras pessoas — em como elas são ou como poderiam ser.

“Eu me sinto mais confortável escrevendo sobre pessoas que existem, pegando algum fragmento sobre suas vidas e transformando-os em narrativas curtas, em versos”, expõe a autora. Entre suas inspirações, estão nomes como a própria Jarid Arraes, Camila Assad, Maíra Vasconcellos, Aline Bei e José Luís Peixoto. “Foi quando comecei a ler o que está sendo escrito hoje que consegui me encontrar como escritora, me intitular escritora e, sobretudo, poeta.”

A terceira obra revela a maturidade e uma maior familiaridade com a poesia. “Por muito tempo misturei verso e prosa no mesmo texto — algo que ainda faço, porém com menos frequência. Mas foi experimentando cada vez mais os versos que fui ganhando mais confiança”, comenta.

De acordo com Monique Malcher, escritora e antropóloga paraense, que assina o posfácio do livro, Maria Luiza cria imagens do que é particular para nos falar do que é gigante, tais como a sobrecarga de uma mãe, o desejo ou não-desejo de maternidade — nunca questionado, a solidão escolar, o não estar bem e dizer que sim, está tudo bem.

“Ler Maria Luiza Machado me fez perceber que a solidão é construída e também coletiva, que estamos — e ao mesmo tempo não somos — sozinhas. […] Quando lemos os poemas com nomes tantos, de mulheres que em algum momento conhecemos ou vamos conhecer, também assistimos episódios e sentimentos de nossa própria vida”, escreve Monique.

Despontando na cena independente nordestina

Nascida em Feira de Santana, no interior da Bahia, em 1995, Maria Luiza Machado mudou-se para Salvador, em 2014, onde vive há seis anos. Precoce, começou a escrever por volta dos nove anos, ainda na escola, e logo já foi vitoriosa em seu primeiro concurso de poemas. Voltou a escrever com afinco anos depois, já no final da adolescência.

Publicou seu primeiro livro em 2018, intitulado “Algumas histórias sobre a falta”, de forma independente. Após tiragem esgotada, o livro foi relançado em setembro do mesmo ano pela editora baiana Mondrongo. Em 2019, publicou em formato digital a antologia “Corpo que Queima”, que reuniu 41 poetas baianas de todo o estado. Idealizou, realizou a curadoria e organizou o livro, publicado primeiramente pela Appaloosa Books, e hoje disponível gratuitamente na internet. Seu segundo livro, “Todos os Nós”, foi publicado pela Editora Penalux, no final do mesmo ano.

Em 2020, Maria Luiza lançou a Editora Mormaço, por onde publica seu terceiro livro, o “Tantas que aqui passaram”, viabilizado via financiamento coletivo. A editora tem como proposta valorizar a pluralidade e dar visibilidade a autores independentes e estreantes no cenário editorial.

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