Fortaleza no ranking dos principais conjuntos vocais do país

Quatro Ases e Um Curinga – Trio Nagô – Ivanildo e seu Conjunto – Os Faraós – Os Brasas – Os Belgas
Os Besouros – Banda
O Peso – Boêmios Vocalistas
O bairro de Joaquim Távora lidera grandes artistas’’.

 

Texto/pesquisa: Zelito Magalhães

Como tudo começou
O primeiro conjunto musical a despontar foi o Quatro Ases e um Curinga, formado pelos irmãos Evenor Pontes de Medeiros, José Pontes e Permírio, mais André Batista Vieira e Esdras Falcão Guimarães. Ano de 1939. Tendo ido estudar no Rio de Janeiro, formaram com os demais o Conjunto, assim composto: Everton (violonista), José Pontes (violonista e cantor), Permírio (gaitista e cantor), André (pandeirista) e Esdras. O jornalista Demócrito Rocha deu o nome de batismo. Em 1941, o conjunto foi contratado pela Rádio Tupi, do Rio, e teve as suas primeiras gravações, em 1941, dentre essas, Ele disse que dá (Assis Valente), No Ceará é Assim e Viva Quem tem Bigode (1942), Eu vi um leão (Lauro Maia–1942), Trem de Ferro (idem–1943), Vozes das Secas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) foi das últimas gravações do grupo em 1953. Regressando ao Ceará, os irmãos Pontes de Medeiros criaram o ‘Bando Cearense’, apresentando-se no cast da pioneira Ceará Rádio Clube. Por aquela época, também pontificava na emissora pioneira Luciano Carneiro, também do bairro Joaquim Távora, que veio a falecer em desastre aéreo como jornalista, no ano de 1959.

Trio Nagô
Ano de 1950: Mário Alves, Evaldo Gouveia, Epaminondas de Souza integravam na Ceará Rádio Clube um elenco de cantores, entre os quais se incluíam Terezinha Holanda, os irmãos Hildeberto e Hildemar Torres, Gilberto Milfont, Solteiro e Julinho (acordeon). De início, foi criado pelos três um conjunto cujo nome artístico – Trio Iracema – foi bem aceito, por terem o compromisso de interpretarem músicas nordestinas. Por sugestão do diretor da Ceará Rádio Clube, Manuel Eduardo Pinheiro Campos, o conjunto foi rebatizado com o nome de Trio Nagô.
Em 1954, o Trio foi convidado para os festejos do Quarto Centenário da cidade de São Paulo como representante do Ceará, apresentando-se na Rádio Tupi. No mesmo ano, ruma para o Rio de Janeiro e assina contrato pela Rádio Nacional e pela gravadora Odeon. No mesmo ano gravaram o rasqueado Moça Bonita, de Alcyr Pires Vermelho e Gilvan Chaves, e a toada Prece ao Vento, de Alcyr Pires, Fernando Luiz e Gilvan Chaves. Dois meses depois, gravaram o samba – Prece ao Vento, de Valdemar Ressurreição e a toada Boiadeiro, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti. Ainda naquele ano de 1954, o Trio recebeu o Prêmio Roquete Pinto “O melhor conjunto vocal do Ano”. Em 1955, gravaram Tropeiro do Sul, de Graça Batista e Antônio Aguiar, e o fox-canção Iremos ao Cinema?, de Armando Cavalcanti, e o samba Vive Seu Mané Chorando, de Luiz Assunção, e a guarânia Morena do Paraguai, de Emílio Cavalcanti. Em seguida, o Trio retornou ao Ceará para acabar de cumprir o contrato com a Ceará Rádio Clube.

Retorno ao Rio
No ano de 1956, o Trio Nagô retorna ao Rio de Janeiro, sendo contratado pela Rádio Jornal do Brasil e pela gravadora RCA Victor. Grava: Dei ao Mar para Guardar, de Gilvan Chaves, e o rojão Dança de Caboclo, de Hekel Tavares; em seguida, a toada Soprando o Vento, de Fernando Cesar, e samba Acorrege. A Prenúncia, de Vicente Amar. No final do ano, lança a toada Natal Pobre, de Luiz Vieira. Excursiona pela Europa, como representante do Brasil na Festa do Conhaque e do Café, realizada na capital francesa. Em 1957, grava O Gemedor, baião, e o bolero Dúvida (Lo dudo) de C. Navarro em versão de Lourival Faissal; os sambas Laura, de João de Barros e Alacyr Pires, e Prece, de Marino Pinto e Vadico; Dô de Cotovelo, de José Renato /Menezinho Araújo, o samba Contra Senso, de Antonio Bruno. Em 1958, vieram a guarânia Cabecinha no ombro, de Paulo Borges, que se tornaria sucesso nacional, tendo no lado B o samba Cartão Postal, de Paulo Borges; Se Alguém Telefonar, de Jair Amorim e Pires Vermelho; o bolero Cachito, de Consuelo Velasquez; o samba Três Beijos, de Antônio Bruno, José Saccomam e Gaúcho, e o baião Mambo do Ceará, de Catulo de Paulo e Roberto Silveira. 1959: Balada de Amor, de Paulo Borges, e o samba Pior pra Você, de Evaldo Gouveia e Almeida Rego; dois boleros da dupla Jair Amorim e Evaldo Gouveia Beija-me Depois e Cantiga de Quem Está Só; Ave-Maria dos Namorados e Divino Pecado, de Rubens Marçal, o LP Ouvindo o Trio Nagô, gravado pela RCA Victor. No ano de 1960 o Trio se desfez com a saída de Mário Alves. Ainda houve uma tentativa de retorno com o ingresso de Manuel Batista, porém, sem sucesso. Mário Alves, que exercia a profissão de alfaiate, residia na Avenida Visconde do Rio Branco, 2440, onde se davam os ensaios do Trio.
Mário Alves e Epaminondas de Souza eram cearenses de Fortaleza, enquanto Evaldo Gouveia era de Orós. O primeiro faleceu em Fortaleza, no dia 28 de maio de 1998, o segundo no Rio de Janeiro, a 27 de outubro de 2004 e o terceiro nesta capital, em 29 de maio de 2020.

Os Magnatas
Corria o ano de 1966, quando alunos do Colégio Salesiano Dom Bosco formaram uma banda de rock, batizando-a de Os Magnatas. Sem recursos financeiros, os instrumentos de percussão foram ali mesmo fabricados pelo mestre de carpintaria do estabelecimento, senhor Francisco. Dentre os integrantes do grupo, estavam os alunos Raimundo Fagner e Luisinho Magalhães. A banda foi de curta duração.

Luisinho e Banda
Luisinho Magalhães iniciou-se na música nos meados dos anos 60, quando estudava no Colégio Salesiano Dom Bosco (Igreja da Piedade) onde era colega do Raimundo Fagner, futuro cantor. Foi quando formou o grupo Os Faraós, quarteto composto pelos irmãos Sebastião, Antônio Carlos, Vicente e o próprio. Anos depois, o quarteto oficializou-se com o nome Luisinho & Banda. Nos anos 2000, gravou um CD com repertório dos Fab Four.

Os Faraós
Alguns remanescentes de Os Magnatas criaram em 68 Os Faraós, entre os quais estava Luisinho Magalhães. Este resolveu assumir o grupo, levando à frente o empreendimento com inserção dos seguintes nomes: Pequim, Chico “Ronnie Von” e seus irmãos Antônio, Vicente e Sebastião Magalhães. Nos idos de 70, as festas do Clube Líbano Brasileiro passaram a ser animadas pelo Os Faraós, ao lado do grupo The Monkeys, sendo programa obrigatório da cidade, às sextas-feiras e sábados. Em 74, o conjunto deu uma parada enquanto adquiria instrumentos importados de última geração, como guitarras Gibson e Fender, violões Ovation e pedais de efeitos especiais, assumindo assim uma performance à altura dos grandes nomes internacionais. Ao longo de quase quatro décadas de carreira, o grupo passou por várias experiências que incluíam arranjos e mixagens em músicas de autoria do cabeça, Luisinho, com exceção dos instrumentos superpostos.


Banda O Peso
O cearense Luiz Carlos Porto, em companhia do parceiro Antônio Fernando, foram ao Rio de Janeiro, no ano de 1972, participar da sétima edição do VII Festival Internacional da Canção. Concorreram com a música O Pente No Rio, Luiz Carlos manteve contato com diversos músicos. Em 1974, o cearense fundou a banda O Peso, que ficou assim composta: Luiz Carlos (vocalista) Gabriel O’Meara (guitarrista americano radicado no Brasil), Carlos Scart (baixo) Carlos Graça
(bateria) e Constant Papineau (piano). A banda inicia o ano de 1975 apresentando-se no Hollywood Rock, pioneiro festival de rock realizado no Rio, evento que foi registrado no documentário Ritmo Alucinante. O mesmo ano, a banda assina contrato com a gravadora Polydor e lança o LP “Em busca do tempo perdido” no qual mesclava elementos do blue e do rock, e o compacto “Sou louco por você/ Me Chama de Amor”, pela mesma gravadora. Luiz Carlos Porto envolveu-se num acidente de moto (1980) que o obrigou afastar-se dos palcos. Seu retorno ao O Peso chegou a ser cogitado, mas o estado de saúde do artista impediu qualquer possibilidade disso acontecer.

As faixas de “Em busca do Tempo Perdido”:
1- Não sou louco por você, 2- Não fique triste, 3- Me chama de amor, 4- Só agora, 5- Eu não sei nada, 6- Blues, 7- Lucifer, 8- Boca louca (todas da autoria de Gabriel O’Meara/Luiz Carlos Porto), 9- Cabeça feita (Tibério Gaspar/Guilherme Lamounier) e 10- Em busca do tempo perdido (Gabriel O’Meara/Luiz Carlos Porto).

Ases de Iracema
Também no bairro de Joaquim Távora, entusiastas da música formaram um quinteto que foi batizado com o nome Ases de Iracema. Tratava-se de uma espécie de homenagem que prestariam a Luiz Medeiros, proprietário do “Serviço de Alto-falante Iracema”. Eram seus componentes: Zequinha, Paulo Lima, José Félix Souza Geraldo Barbosa e Olímpio. O quinteto chegou a apresentar-se na Ceará Rádio Clube com merecidos aplausos. Também brilhou na festa de inauguração da Rádio Iracema de Fortaleza, propriedade dos irmãos José Barreto e Flávio Parente, realizada na noite de 9 de outubro de 1948, na Praça José de Alencar, O Ases de Iracema interpretou a marchinha do compositor Lauro Maia que ocupava na época as paradas de sucesso:

É palma, palma, palma/ Pé, pé, pé, pé
Caranguejo só é peixe/ Na enchente da maré

Os Boêmios Vocalistas
Fundado no ano de 1952, o conjunto impressionou o público cearense logo nas suas primeiras apresentações. Recebendo o batismo de Os Boêmios Vocalistas compunha-se dos seguintes figurantes: Isaac (crooner), Mundinho (violão de 6 cordas), Paulo (violão tenor), Aloísio (pandeiro e tantã), Rodrigues (pandeiro e tantã) e Luiz (terceiro vocalista e afoxê). Logo foi convidado a se apresentar na Ceará Rádio Clube e na Rádio Iracema de Fortaleza. Em 1956, participou do filme “Tumulto de paixões” (Passion of wilderness) do polonês Zigmut Sulistrowski, que chegou a Fortaleza por aqueles dias do mês de outubro. Vários compositores candidataram-se com peças musicais para escolha daquela que seria interpretada pelos Boêmios Vocalistas. Foi eleita uma canção do maestro Antônio Gondim (autor da música do Hino de Fortaleza) da qual se extrai esta estrofe:

Encanto como este encanto
Em outras praias não há
Iparana é o doce encanto
Que Deus deixou no Ceará

Os Quem
Influenciado pelo conjunto norte-americano The Who, um grupo de cinco rapazes resolveu criar Os Quem. Eram eles: Fernando (crooner), Haroldo (guitarra), Salomão (baixo), Vicente (guitarra solo), Sebastião (guitarra) e Aprígio (bateria). Este conjunto substituiu Os Bezouros, criado em 1964 pelos irmãos Cardoso e outros rapazes do bairro. Os ensaios davam-se na casa de Clóvis Cardoso, na Rua Padre Antonino nº 174. Os Quem excursionaram pelos vizinhos Estados do Piauí e Maranhão. Participando do concurso Melhores Conjuntos do Norte-Nordeste, promovido pelo Clube Santa Cruz, em 1968, foi classificado em segundo lugar. Dissolveu-se em 1971.

Vilamar Damasceno
A 29 de julho de 1943 nascia em Fortaleza Vilamar Damasceno Diniz Leite. Fez os primeiros estudos na escolinha municipal na Rua Padre Antonino, onde morava que tinha como professora Altair Freitas, e na Escola Reunida Arraial Glória. Matriculou-se no Colégio Estadual Liceu do Ceará em 1957, onde cursou o ginasial. Estudou no curso de História da Faculdade Dom Aureliano Matos (Limoeiro do Norte) não chegando a concluir. Aos sete anos apresentava-se no programa “Clube Papai Noel”, da Ceará Rádio Clube. Gravou em 1966 o primeiro disco – “Meu Lamento”, Durante onze anos de carreira, produziu onze discos (seis compactos e 5 LPs) incluindo os sucessos “Pobre de mim”, de Reumar Barbosa; e “Não me abandones”, de Olavo de Barros. O último trabalho fonográfico “Adeus ao trovador” foi lançado em 1988, numa homenagem a Altemar Dutra. Valamar Damasceno faleceu no dia 5 de outubro de 1989, no Hospital São José, vítima de cirrose hepática.

Outros músicos
Ademisio Barreto Vieira (Fortaleza, 1902-1985) foi um dos fundadores do clube Náutico Atlético Cearense. Residia na Rua

Padre Antonino com Joaquim Tôrres no bairro Joaquim Távora. Tornou-se musicista quando já pai de família, tendo aprendido violino com os mestres Edgard Nunes e Pierre Chabloz. Manuel Magalhães (pai do autor desta reportagem) que também residia no bairro tocava bandolim. Como eram amigos, de quando em quando, os dois se encontravam, levando a efeito execuções de páginas musicais que iam do clássico ao popular.
José Beserra de Moura (1923-1994) residia na Rua Nogueira Acioly, 2106, tocava órgão, acompanhando as missas na Igreja da Piedade. Segundo a esposa Altair, ele chegou a compor vários arranjos musicais, cujas partituras foram extraviadas.
Toinho do violino como ficou conhecido o Antônio Cochrane Nogueira, nasceu na Avenida Visconde do Rio Branco, a 1º de fevereiro de 1940. Exibiu-se profissionalmente em algumas emissoras de rádio em Fortaleza. Animou, nos últimos anos, nos salões da conhecida Churrascaria Caravelas.

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