Especialistas acreditam no PIB em -9% por conta da pandemia

“O Boletim Focus estará sempre atrás da realidade. Eles estão mudando a conta gotas para tentar acalmar os mercados na medida do possível. Mas a verdade é que o PIB ficará entre -6% e -9%”

O Relatório de Mercado Focus desta segunda-feira, previu o PIB deste ano com um recuo de -4,11%Este já é o 13º corte consecutivo do Relatório. Segundo especialistas este recuo deve ser maior que o recuo de 3,8% na economia que aconteceu durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rouseff. Além disso, com o corte de 0,75% na Selic que aconteceu na última semana, levando-a a 3% ao ano, a expectativa é que ainda em 2020, a taxa esteja em 2,5%, renovando sua mínima histórica. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontecem a cada 45 dias para decidir sobre novos cortes ou não, deve acontecer entre os dias 16 e 17 de junho.

Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus, afirma que a expectativa ainda é conservadora e estima o recuo para -9%. “Quanto a previsão do PIB está sendo até conservadora, já tem casa colocando aí um recuo de 9% ao ano. E vai ficar muito próximo disso. Em países mais desenvolvidos que o Brasil, a expectativa de PIB é acima de 7% de queda, então para o Brasil vai nessa linha também”. Para Laatus, a expectativa sobre a Selic, é que o Copom faça mais um corte de 0,75%, seguindo a tendência da reunião anterior. “Agora a questão da Selic volta a ser levantada essa questão do corte, alguns acreditam até mesmo em um corte já direto de 0,75% na próxima reunião para 2,25%. A questão é que assim, tem espaço para isso”. O Estrategista-Chefe aponta que há abertura para que isso aconteça, já que a inflação está baixa. É um momento sem inflação, com a inflação baixa, no qual dá margem para o Banco Central cortar os juros até mais agressivamente até para 2%. Mas já começou o debate no mercado sobre juros 0 no Brasil, sobre se existir essa possibilidade como funcionaria isso”, explica.

Daniela Casabona, Sócia-Diretora da FB Wealth, aponta que o grande fator foi a incerteza do mercado financeiro durante a pandemia, o que segundo ela, tem se mostrado de certa forma, um impedimento para a recuperação econômica no país. “Com a incerteza do mercado em meio a uma pandemia, as expectativas para uma melhora acabaram não acontecendo e consequentemente afundaram o PIB”. Casabona afirma que mesmo com os cortes na Selic não são efetivos durante a crise decorrente da pandemia, já que com o desemprego, o poder de compra do consumidor fica cada vez mais limitado. “Com a esperança de melhorar o consumo, o Copom vem baixando a taxa de juros para facilitar a linha de crédito e consumo. Todavia, enquanto a situação de pandemia não estiver controlada, não veremos o impacto positivo desta taxa em patamares mais baixos. Ao contrário de consumir, as pessoas estão perdendo o poder de compra e seus empregos perante a dissipação da doença”.

Para Guto Ferreira, Analista Político-Econômico da Solomon’s Brain, o momento atual não é o ideal para mais cortes na Selic. “Sobre a Selic, nossa opinião permanece a mesma. Está errado. Era momento de manter ou subir juros, não baixar. Isso não está e nem vai incentivar o consumo”. Ferreira afirma que as expectativas colocadas no Relatório estão atrás da realidade esperada e visam não desesperar o mercado. Ferreira, todavia, afirma que o recuo deve ser bem maior. “O Boletim Focus estará sempre atrás da realidade. Eles estão mudando a conta gotas para tentar acalmar os mercados na medida do possível. Mas a verdade é que o PIB ficará entre -6% e -9%”, afirma.

Para o Economista-Chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, as expectativas baixas já consideram os impactos dos estímulos governamentais à economia. “O mercado reduziu as estimativas, tanto para a taxa de crescimento (contração) do PIB, como a Selic ao final de 2020. As estimativas para a taxa de crescimento recuaram para -4,11%, já considerando os impactos das medidas governamentais para estímulo da economia, que chegaram a 4,1% do PIB”. Silveira, acredita que os efeitos da quarentena na economia não podem ser compensados por medidas do governo. “O forte impacto da quarentena sobre a atividade econômica não conseguirá, portanto, ser compensada pela ação do governo”. O Economista-Chefe aponta que a Selic pode fechar o ano abaixo de 2%. “A taxa Selic, por sua vez, reage à queda da inflação esperada, que pode encerrar 2020 com 1,76%, bem, abaixo do piso da meta do BC”, conclui.

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