ENTREVISTA – José Nagibe Pontes

“Momentos difíceis que devem ser superados com organização,competência e trabalho’’

O Jornal do Comércio do Ceará (JCC), entrevista nesta edição José Nagibe Pontes, fazendário e sindicalista membro associado da AAFEC (Associação dos Aposentados Fazendários Estaduais do Ceará) e Diretor Comercial do JCC, que fala da perspectiva de um novo período de radicalização repressora e redução de direitos, cortes de verbas para educação e de outras medidas definidas pelo atual governo Bolsonaro nos seus quatro meses de gestão.

A leitura que se faz após esse período inicial é de que o governo, pela falta de experiência política de seus componentes, ainda não se encontrou administrativamente nem tampouco revelou aptidão para os contatos políticos que a gestão exige junto aos representantes dos poderes Legislativo e Judiciário, causando assim um enorme descrédito na população brasileira, no corpo empresarial do país e no interesse internacional no mercado brasileiro.

 

Confira agora a entrevista de José Nagibe Pontes ao Jornal do Comércio do Ceará:

 

JCC – Qual o rumo do país e do movimento sindical nessa mudança política após as eleições de 2018 com a eleição de Bolsonaro e nesses quatro meses de governo?

José Nagibe Pontes – Analisando com responsabilidade e com bastante coerência aconselho ao movimento sindical recompor suas forças nesse momento tão difícil. Devemos, acima de tudo, combater unidos a privatização com veemência, principalmente das nossas principais empresas como o Banco do Brasil, Petrobras e Caixa Econômica.

Os efeitos da recessão e da reforma trabalhista que atingem o  movimento sindical hoje, demonstram a irresponsabilidade dos parlamentares que aprovaram tal absurdo, argumentando que a reforma trabalhista iria trazer milhões de empregos e diminuir a recessão. Vejam aí no que deu.

JCC – Como corrigir isso e quais as alternativas disponíveis?

José Nagibe Pontes – No geral os sindicatos têm dinâmicas diferentes.  Acredito que o melhor caminho seria o movimento recompor sua pauta e, através dos sucessivos erros do governo federal, lutar ao lado dos seus representantes no Congresso Nacional, criar uma agenda focada para gerar empregos alinhada, principalmente, aos partidos progressistas. O movimento sindical foi derrotado nas urnas, mas grande parcela da população já reconhece que foi um erro gravíssimo a eleição do capitão Bolsonaro. Eleito por influência das “fakenews” e de incoerentes grupos radicais da extrema-direita, associados aos fundamentalistas evangélicos patrocinados por instituições estrangeiras, notadamente norte-americanas, interessadas única e exclusivamente em destruir ou obstruir qualquer progresso para o Brasil e os brasileiros.

JCC – Como o Sr. analisa as recentes manifestações dos estudantes e professores, bem como dos gestores educacionais em relação aos cortes no orçamento da educação e das universidades públicas?

 José Nagibe Pontes – Positivas. Necessárias e oportunas. Só um governo incoerente e insensato é capaz de fazer o que esse governo está fazendo com seus educadores, estudantes, gestores e as instituições universitárias que são de importância magnânima para o desenvolvimento da Nação. Vejam a área de pesquisa que foi fortemente atacada por essas medidas irresponsáveis. O povo tem mais é que ir às ruas como nos movimentos das “Diretas Já”. A incoerência e a inconsequência é tamanha que os defensores de Bolsonaro, em suas manifestações de rua, atacam a educação acintosamente e as universidades, chegando a arrancar das fachadas das instituições superiores as faixas reivindicatórias de verbas federais.

JCC – O governo Bolsonaro com suas medidas provou que não governa para o povo e nem tão pouco para os brasileiros e trabalhadores, apenas para atender o mercado, como o Sr. vê isso?

José Nagibe Pontes – O que poderíamos esperar de um governo apoiado pelas grandes corporações nacionais e as elites americanas? Um governo de ultradireita em que, por suas más ações, é rejeitado no mundo inteiro. Um governo que se desentende entre seus próprios membros, inclusive com ataques e ingerência de um falso filósofo que vive nos EUA e é considerado “guru” do presidente e dos seus filhos, que ataca constantemente os militares que compõem o governo. Nada até agora foi feito por a nova gestão em benefício do país e dos brasileiros, a não ser a abertura total para os interesses dos Estados Unidos da América em detrimento da economia e da soberania nacionais. Ministros desconhecidos, sem expressão pública e com pouca representatividade, agindo como se o governo ainda estivesse em campanha.

JCC – A extinção do imposto sindical pode ter sido uma forma do governo enfraquecer os sindicatos, qual a sua opinião sobre o assunto?

José Nagibe Pontes – Injustamente, todos nós sabemos que o principal objetivo de governos de direita radical, sempre foi a retirada de direitos trabalhistas, e o seu principal foco sempre foi a extinção do imposto sindical que é a peça motor que fortalece e mantém os sindicatos, principalmente os pequenos que hoje sofrem com suas receitas que não atendem suas necessidades.

JCC – Qual seria a forma de unir a classe dos trabalhadores: funcionários públicos, privados, terceirizados, policias de um modo geral na defesa da população brasileira?

José Nagibe Pontes – Uma greve geral organizada por todos os segmentos da sociedade, como falei anteriormente, um ato tipo as “Diretas Já”, o povo nas ruas contra o autoritarismo, a incompetência e a inércia do governo em conduzir os destinos da nação.

JCCE – Os brasileiros já enfrentaram anos difíceis e conseguiram superar as dificuldades. Como o senhor analisa esse quadro atual?

José Nagibe Pontes – O povo brasileiro é soberano, sofreu muito com diversas ditaduras e governos de direita autoritários e sempre se saiu bem. Confio na luta, na união e na força dos trabalhadores e do povo brasileiro para fazer o devido ajuste que a Nação está a exigir.

JCC- O governo do Ceará é hoje exemplo de Estado totalmente saneado do ponto de vista fiscal e educacional. Qual a relação dos sindicalistas cearenses com o governador Camilo Santana?

 José Nagibe Pontes – Acho que a relação do movimento sindical com o governo estadual é razoável. Do governo Tasso Jereissati pra cá o Ceará só tem avançado, pela escolha de gestores competentes com perfil de excelência, como o ex-governador e atual Senador da República Cid Gomes e o governador Camilo Santana, que tiveram o privilégio de compor em seus quadros competentes secretários. O deputado federal Mauro Filho é um deles, quando esteve à frente da Secretaria da Fazenda Estadual no governo Cid e Camilo, sucessivamente, conduziu a pasta de forma exemplar no trato das finanças públicas, sobressaindo-se com destaque nos debates e exposições sobre a economia brasileira. Na educação somos referência nacional, em meio a uma crise sem precedentes, sem falar que o Ceará não corre o risco de quebrar, pela seriedade e coerência na gestão da coisa pública.

JCC – Muitos dos eleitores de Bolsonaro hoje estão profundamente arrependidos. Qual o conselho que o Sr. daria, por sua larga experiência sindical e profissional, a esses eleitores que votaram impulsionados pelo ódio?

 José Nagibe Pontes – Em primeiro lugar pedir perdão a Deus e ao povo brasileiro. Depois levantar a cabeça e, sobretudo, fazer uma autocrítica, evitando não se deixar influenciar por usuário de redes sociais, muitos deles incompetentes e analfabetos políticos, movidos por desejos insensatos e odiosos, analisar melhor as notícias, buscar a veracidade dos fatos e, mais do que nunca, fugir das “fakenews”, procurando conhecer a fonte das matérias para depois tomar uma decisão.

JCC – O absurdo congelamento dos investimentos do Brasil por 20 anos aprovado pelo governo Temer, hoje prejudica os cofres públicos. O que o Sr. tem a dizer sobre isso?

José Nagibe Pontes – Claro que foi um erro e uma irresponsabilidade do Parlamento – Câmara dos Deputados e Senado Federal– de tamanha monta. Hoje, até quem foi a favor é contra, um exemplo de fato é o radialista e historiador Marcos Antonio Vilas que disse em rede nacional no programa Jovem Pan que foi a favor naquela época, mas hoje reconhece que foi um erro gravíssimo. Muitos economistas na época alertaram que o congelamento dos investimentos no Brasil por 20 anos era uma aventura perigosa. Mas todos nós sabemos que o governo Temer estava com um simples propósito, servir o grande capital e vender as nossas reservas do pré-sal para os americanos.

JCC – Para finalizar, como o Sr. vislumbra o futuro do Brasil?

José Nagibe Pontes – Primeiramente, é preciso que o povo brasileiro se conscientize do grave momento que o país atravessa por falta de um líder que reúna em torno de si a convergência da vontade e do interesse dos brasileiros e do empresariado nacional para, assim, reconstruir a destruição que está sendo feita pelo atual governo sem rumo, na tentativa de trazer ao seio da nação brasileira a esperança que agora está sendo perdida. Depois disso, escolher bem os gestores, em cada uma de suas competências, para recolocar o Brasil na trajetória de um país desenvolvido e focado no fortalecimento de sua economia e na melhoria da qualidade de vida de sua população.

 

 

 

 

 

 

 

 

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