Ensino do respeito às diferenças na educação básica pode evitar extremismos no futuro; escola desenvolve trabalho de orientação

O Brasil assistiu no último fim de semana a repercussão da morte do guarda municipal Marcelo Arruda, que foi assassinado durante sua festa de aniversário em Foz de Iguaçu (PR) na noite do sábado. O principal suspeito foi identificado como Jorge José da Rocha Guaranho, policial penal federal.

Segundo boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil do Paraná e testemunhas no local, Guaranho teria aparecido na festa – que tinha como tema o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acontecia na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi) – apontando uma arma ao mesmo tempo que gritava insultos aos presentes e palavras a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL), presidente e pré-candidato à reeleição.

O caso reacendeu a chama de um dos debates mais frequentes na sociedade brasileira atualmente: a violência, os danos da polarização e os extremismos na política. As necessidades de mudança muitas vezes são pautadas pela discussão da necessidade do ensino político e, até mesmo, atrelado a isso o respeito às diferenças, sejam elas de ideias, opções e o próprio voto.

Isso ainda é mais forte quando se aponta para o início da formação de cada indivíduo, que na educação básica. Será que não seria lá nessas primeiras salas de aula que tudo isso poderia começar a ser implementado na mentalidade de alunos e alunas? A escola Teia Multicultural é uma das que aposta nisso. De acordo com Lucas Briquez, que é educador e administrador da instituição e CEO da edutech Asas Educação, as escolas podem promover um ambiente mais sociável sem a necessidade de competições. Ele falou também que acredita que tal ambiente pode ser a chave inicial para essa mudança ao longo dos anos.

“O início de tudo deve ser o respeito. Nós buscamos sempre desenvolver atividades de colaboração, tarefas que não acabem com um vencedor e um perdedor e sim com todos os alunos desfrutando de ideias conjuntas que culminam na resolução de questões”, informou.

Lucas relembrou que já há algum tempo a escola busca promover interatividade entre alunos mais velhos e mais novos para que eles se adaptem às realidades distintas.

“Uma vez o mais velho convivendo com o mais novo, por exemplo, ele percebe que precisa ter um maior cuidado, precisa adaptar sua linguagem para se fazer entendido. Ao mesmo tempo que, quando do contrário, o mais novo também precisa ter uma série de cuidados. Colocar alunos para lidarem com faixas etárias distintas é uma boa forma de fornecer a possibilidade de aprenderem a lidar com diferenças, pois a maior diferença para uma criança é a etária”, completou.

Para ele, como já dito, uma criança que cresce com uma base de respeito às diferenças e com valores que compactuam com a “Não Violência”,  dificilmente ultrapassará limites como em casos como o de Foz do Iguaçu.

“Outro ponto interessante é buscar passar para todos que não existe nem certo e nem errado absoluto. Como tentamos exemplificar isso? É simples, ao trazer uma pergunta e um aluno expor a sua perspectiva, o mais indicado é tentar entendê-lo, validar sua opinião e construir através dela um caminho para que ele consiga compreender o que o educador quis trazer ao seu alcance”, informou.

Ainda sobre esses mecanismos de fomento a esse respeito, Lucas Briquez mencionou a necessidade de respeito às diversas etnias, culturas e até o tão necessário estímulo da aceitação de crenças religiosas. “Vale lembrar que nesse semestre, dentro dessa perspectiva, desenvolvemos um trabalho baseado em lendas indígenas, assim como já trabalhamos lendas africanas, indianas e européias”, relembrou.

Segundo Lucas, mesmo sem a existência da matéria política em si, ela é abordada em algumas habilidades de geografia como determina a base nacional comum curricular, “então ela é ensinada não só na nossa escola, mas em todas do país”.

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