Em Fortaleza, escrita fortalece o ensino de todas as disciplinas

  • Professores utilizam a produção textual criativa para ensinar aos estudantes diferentes disciplinas como matemática, história, geografia e ciências;
  • Método praticado em escola de Fortaleza é objeto de estudo entre professores da Universidade da Califórnia

Os alunos da Escola Municipal de Tempo Integral Professor Álvaro Costa, de Fortaleza (CE), explicam o período histórico do Feudalismo por meio de um rap e simplificam o aprendizado das frações matemáticas com um “manual de instruções”. O método de ensinar por meio da escrita faz parte do projeto “Movimento Escrever para Aprender”, desenvolvido pela professora de português Karine Alves David em parceria com o pesquisador Clemilton Lopes Pinheiro.

A proposta do projeto, inspirado em estudo desenvolvido na Universidade da Califórnia (EUA), é trazer a contribuição da escrita às demais disciplinas do currículo escolar, explorando novas formas de aprendizagem.

“Os temas escolhidos para serem trabalhados são justamente os que os alunos apresentam maior dificuldade: história, geografia, matemática e ciências. O projeto foi desenhado para explorar tais assuntos com os alunos do 6º ao 8º ano, com o objetivo de estimular hábitos de pensamento e estudo”, explica Pinheiro.

O dispositivo, como os docentes preferem chamar o método, foi realizado com 90 estudantes da escola da capital cearense entre 2019 e 2021 e foi considerado muito promissor por promover o interesse dos alunos e auxiliar na recuperação da aprendizagem nos próximos anos. “Foi uma pesquisa aplicada que nos ajudou a experimentar um método que se demonstrou mais atrativo para os estudantes, em um momento que necessitamos de todo o engajamento”, avalia Pinheiro.

Para realizar a proposta do “Movimento Escrever para Aprender”, a escola teve que adaptar um ambiente para receber os estudantes e os professores responsáveis pela pesquisa aplicada. No local, os temas eram trabalhados em três etapas:

  • Contextualização: fase de orientação da tarefa em que se explora como será a atividade, o tema, o propósito e o destinatário do texto a ser produzido;
  • Planejamento: momento de aprofundamento nas orientações da fase anterior para propor um plano de texto;
  • Textualização:  momento de transpor as ideias organizadas no plano de texto e realizar a escrita.

A iniciativa exitosa tem um grande potencial de ser replicado, no entanto, o pesquisador reforça a necessidade da melhoria das condições materiais e humanas da escola interessada. “Sem o espaço e as condições apropriadas, o trabalho teria sido muito mais difícil, com grande comprometimento dos resultados”.

Lacuna na escrita

Com base na opinião de familiares dos estudantes, a pandemia da Covid-19 deixou lacunas nas aprendizagens das crianças, sendo a Língua Portuguesa uma das disciplinas nas quais os alunos precisam de maior apoio, com 70% de menção. Dados são da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada pelo Datafolha, a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) divulgado em fevereiro de 2022

Para Clemilton, a aplicação do dispositivo evitou com que houvesse perda na aprendizagem da língua portuguesa entre os estudantes. ”Pelo contrário, durante o período da pandemia houve evolução. Apesar do foco do projeto não ter sido o ensino da interpretação e produção textual em si, foi visível a melhora dos alunos também nas habilidades de leitura e, sobretudo, da escrita”.

Anos Finais

Com base na recuperação das aprendizagens que, no mês de dezembro, foi aprovada pelo governo do Ceará a universalização do tempo integral no Ensino Fundamental. A iniciativa irá atingir todas as 184 escolas públicas do estado e terá início justamente nos Anos Finais. A expectativa é que até 2026, todo o ciclo seja contemplado.

A coordenadora de Formação do Itaú Social, Claudia Sintoni, reforça a importância em desenvolver iniciativas que garantam o acolhimento de estudantes que estão nos anos finais do ensino fundamental. “Precisamos priorizar as políticas públicas nessa etapa tão sensível. Fortalecer a educação integral, estabelecer parcerias com organizações da sociedade civil, oferecer condições dignas para os professores e garantir uma transição tranquila do 5º para o 6º ano são algumas medidas importantes para melhorarmos a qualidade do aprendizado”.

Projeto

A experiência do projeto “Movimento Escrever para Aprender” foi tema da pesquisa “Escrever para Aprender: diagnose e dispositivo pedagógico para os anos finais do Ensino Fundamental”. O estudo recebeu apoio do Itaú Social e da Fundação Carlos Chagas por meio do Edital de Pesquisa Anos Finais do Ensino Fundamental.

A iniciativa foi inspirada no trabalho do professor da Universidade da Califórnia, Charles Bazerman. O método consiste em utilizar a escrita como meio de produção e compartilhamento de conhecimento, além de servir como instrumento de exercício à cidadania.

O edital selecionou 14 projetos com o objetivo de fomentar, apoiar e disseminar pesquisas que apontem recomendações para a construção de soluções e superação dos desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental, período escolar compreendido entre o 6º e o 9º ano.

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