Com feirinha, Encontro Povos do Mar oferece visibilidade para artesãos de comunidades tradicionais

Mostra de artesanato da 13ª edição do Encontro ocorre desde o último domingo, 18, e segue até a próxima quinta-feira, 22, com trabalhos provenientes de 25 municípios litorâneos

Foto: Jorge Barbosa

 

Cheiros intensos, cores chamativas, vozerio e música. Para além das sensações envolvidas, poucos tipos de evento podem oferecer tantas tendências econômicas como uma feirinha de produtos diversos. E a feira de artesanato do 13º Encontro Sesc Povos do Mar, que ocorre desde o último domingo, 18, e segue até a próxima quinta-feira, 22, possui muitos desses elementos, configurando-se em grande oportunidade para que artesãos, pescadores, marisqueiras, mestres da cultura e rendeiras mostrem e reverberem seu trabalho, para que alcancem novos limites. 

 

Parte dessa miscelânea cultural pode ser conferida pelos visitantes que têm ido ao Sesc Iparana Hotel Ecológico, local onde ficam estandes representando comunidades tradicionais de 25 municípios litorâneos cearenses. Esses “boxes” oferecem produtos variados, provenientes da inventividade e habilidades manuais oriundos dessa gente não menos diversa e de suas tradições singulares. 

 

Dados do Observatório Itaú, divulgados em abril deste ano, apontam que a Economia Criativa gerou R$ 11,2 bilhões durante o ano de 2020 no Ceará. Se o recorte incidir apenas nas atividades artesanais no ano de 2022, o montante movimentado em feiras, eventos e lojas dedicadas ao setor no Estado chegou a R$ 3,8 milhões, de acordo com a Central de Artesanato do Ceará (CeArt), beneficiando 12,7 mil pessoas que vivem dessa arte eminentemente transformadora. 

 

Com a ação intitulada “Feita à Mão”, um dos cinco eixos, que abrangem diversos aspectos das relações comunitárias envolvendo os povos tradicionais convidados a participar do Encontro, a organização do evento objetiva ampliar a visibilidade aos trabalhos manuais dessas famílias. Atividades que representam o ganha-pão de milhares de comunidades litorâneas pelo Estado e não raro se restringem à venda ambulante na beira da praia ou a encomendas restritas.

 

É o caso de Edimar Mendes, da cidade de Paraipaba, que “cata” madeiras e a partir delas cria peças. Ele tem um ateliê na beira da estrada, com uma pequena marcenaria e um depósito ao fundo do estabelecimento, do qual cuida junto com a esposa, Regina Silva. Ela, por sua vez, trabalha com Macramê Rústico – uma tecelagem manual, com fios trançados e atados por nós, formando desenhos. Uma arte complementando a outra.

 

Mendes contou à reportagem que madeiras de cerne branco são as mais valorizadas e com elas faz pirografia, uma técnica que se utiliza do fogo para desenhar rostos, cunhar frases de efeito e gravar nomes ao gosto do cliente. O artesão, descendente de indígenas, demonstrou satisfação com a liberdade criativa que experimentava na feira. “Para mim, o melhor evento que já participei. Já expus em vários lugares, mas aqui eu posso mostrar o que sou realmente. Posso trazer as peças que saem da minha cabeça mesmo: um índio, um pescador, uma poesia minha para colocar nas peças, e isso não tem preço”, festejou ele, que começou a trajetória artística sonhando em ser quadrinista e hoje ganha a vida recebendo encomendas de peças decorativas para restaurantes e pousadas pelo litoral.

 

Funcionalidade

Se Mendes prima pela não imposição de tipos ou estilos, Ediberto Borges de Castro, 39 anos, natural da Praia da Redonda, em Icapuí, prefere imprimir utilidade em suas peças. Sem prescindir da beleza e do design – e baseado em sua formação de marceneiro -, ele pratica o que chama de “Artesanato Funcional”, dando forma a porta-canetas, porta-copos, porta-toalhas e luminárias de madeira, quase todos como motivos relacionados às praias daquele município.

 

Pela segunda vez expondo na feira do Povos do Mar, ele informou que seu público-alvo também são os hotéis e pousadas de Icapuí. “Na última segunda-feira, era só sorrisos ao receber a reportagem. “Trabalhei 18 anos na indústria. Era operador de máquinas e bombas, de 2004 a 2022 e comecei a vender artesanato há oito anos, na Redonda, Ponta Grossa, Peroba e praias vizinhas. Até que uma amiga, dona de um restaurante da região, me indicou o evento no ano passado. Hoje, sou muito mais feliz”, avisou.

 

Colares e argila

“Ontem foi mais movimentado que nos outros anos”. Foi a forma lacônica, porém simpática, que Antonizete Alexandre Soares, representante do Povo Tapeba, de Caucaia, usou para fazer um balanço do dia de abertura do Encontro. Ela contabilizou 14 colares de contas vendidos no domingo, 18, dia da abertura do Povos do Mar. Para ela, se sua cultura, transposta nessas peças – que custam de R$ 25 a R$ 100 -, em produtos de argila, brincos, pulseiras e ervas medicinais, já é conhecida graças a eventos similares, em locais como o Centro Frei Humberto, a feirinha da Ceart e a Estação das Artes, em Fortaleza, o impulsionamento gerado pelo evento promovido pelo Sistema Fecomércio torna-se vital para suas vendas. “A clientela dos anos anteriores sempre volta e indica para amigos. Fico muito satisfeita em estar aqui”, testemunhou. 

 

Povos de Terreiro

A oportunidade em contar com uma estrutura que “este ano está ainda melhor”, também empolga Paulo Mandu, cujo estande representa o Povos de Terreiro de Umbanda. 

Pela terceira vez na feira como expositor no Povos do Mar, ele comercializa, com a ajuda da esposa, vestidos de algodão cru. “Fico muito feliz em expor nosso trabalho aqui, porque é tudo nosso, desde o tecido até a produção das peças, e isso dá visibilidade para a gente”, disse. Mandu faz parte da Associação Cultural Pai Luís de Aruanda, na Barra do Ceará, e mantém suas peças à venda no Galpão do Pequeno Empreendedor na Rua José Avelino.

 

Polo Artesanal de Cascavel 

Francisco Otávio Alves Dantas é habitante da comunidade de Moita Redonda. Pela quarta vez na feira do Povos do Mar, ele tem em seu estoque boleiros, luminárias e potes de barro, todos fruto de uma técnica ensinada pelo Mestre Muniz, criador do estilo, há mais de 30 anos e falecido em 2021. 

 

Na segunda-feira, 19, ele também comemorava as vendas do domingo, especialmente após os dois anos de ausência do evento. “Essa feira é como se fosse uma vitrine. Muito lojista vem para cá, vê o produto e vai na casa da gente. Isso gera renda para o ano inteiro, com o freguês indo buscar a mercadoria lá em casa”, relata Alves, citando a loja que mantém, dando vazão à produção de uma comunidade que possui 45 famílias de artesãos ceramistas vivendo do artesanato e hoje exporta suas peças para outros estados e para o exterior. 

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