Bares e restaurantes em favelas se organizam em busca de representatividade e melhores condições para empreender

Com objetivo de representar e desenvolver esses negócios, Abrasel avança com núcleos em quatro favelas brasileiras

Imagem de wirestock no Freepik

Cuidar da cozinha, pensar o cardápio, definir os preços, fazer boas compras com fornecedores, atender as mesas, negociar prazos, qualificar funcionários, fechar as contas. Essas e tantas outras tarefas fazem parte do cotidiano de quem empreende em bares, lanchonetes, restaurantes e padarias. Nas favelas brasileiras, não é diferente. Esses territórios abrigam 20% do total de empreendedores do setor de alimentação fora do lar, segundo dados do Data Favela. Com objetivo de aumentar a representatividade e melhorar o desenvolvimento destes negócios, empresários de quatro favelas em diferentes regiões do país se organizaram para fundar núcleos da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel): Dendê (Fortaleza/CE), Vergel do Lago (Maceió/AL), Aglomerado da Serra (Belo Horizonte/MG) e Bairro da Paz (Salvador/BA).

E a iniciativa vem dando bons resultados. O núcleo Abrasel no Vergel do Lago (AL) já conta com sete associados e, sob a liderança da empresária Ana Dayse, responsável pelo Espaço Ana Dayse Confeitaria, já realizou diversas ações de qualificação com foco nos empreendedores, realizadas em parceria com o Sebrae, além de benefícios como a entrega de maquininhas de pagamento da PagSeguro, taxas diferenciadas de vale refeição, entre outros. Recentemente, por meio de uma emenda municipal, teve início um programa de qualificação de mão de obra de funcionários, com foco em atendimento e cozinha. A previsão é que a primeira turma seja formada ainda em dezembro.

Para Alane Ferreira, também empresária e confeiteira no Vergel do Lago, a mudança veio na hora certa. “Quando o núcleo Abrasel chegou, estava pensando em vender tudo, desmotivada por trabalhar muito e não ter dinheiro para investir. Não é fácil, né? As mentorias têm me ajudado muito. Aprendi a fazer ficha técnica, a precificar e sei que o que já tivemos foi só o começo de uma longa jornada em nossas empresas. Estou voltando a sonhar com o que eu tinha deixado na gaveta”, afirma.

Há Brasil, Abrasel

No Aglomerado da Serra, maior favela de Minas Gerais, também conta com um núcleo Abrasel e 37 estabelecimentos associados. Sob a liderança de Alexandre Ribeiro, mais conhecido como Lecha, dono de um dos trailers que vendem espetinho e drinks na praça do Cardoso, os empresários começaram a se organizar em novembro de 2023. “Estando com a Abrasel a gente se sente mais forte. Hoje, temos um amparo jurídico, de informações e existe uma união entre os empreendedores para desenvolver melhor o setor”, avalia Lecha.

Também fundado recentemente, o núcleo no Bairro da Paz, em Salvador, reúne cinco empresários de diferentes segmentos – lanchonete, pizzaria, sorveteria. Sob liderança de Jair do Carmo, da Planeta Pizza. “Vindo mais para dentro do bairro, é questão de tempo para a Abrasel ‘tomar’ todo a periferia de Salvador. Como terceiro setor, creio que a Abrasel vai criar pontes que vão ser difícil de se de serem derrubadas”, comenta Jair.

Futuro

Para 2024, novos núcleos Abrasel nas favelas serão fundados; a expectativa é terminar o próximo ano com a presença em pelo menos 15 territórios. A iniciativa converge com a missão de representar e desenvolver o setor, contribuindo para simplificar o empreender e melhorar a qualidade de vida.

Para o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, é essencial que a Abrasel seja favela. “Há uma presença fortíssima do setor nesses territórios, tanto do lado de quem empreende ou trabalha quanto do lado de quem consome nos bares e restaurantes. Contribuir para a jornada de crescimento desses negócios é atuar para redução das desigualdades socioeconômicas e para o fortalecimento de uma classe média oriunda do pequeno negócio”, afirma Solmucci.

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