ALBERTO NEPOMUCENO. O Fundador da Música Brasileira

Por Antonio Roberto Barbosa Morais

Há, exatamente, cem anos, em 16 de outubro de 1920, o Brasil perdia um de seus maiores gênios da música erudita, no país, aos 56 anos de idade, no Rio de Janeiro: o Maestro cearense Alberto Nepomuceno, considerado o compositor da mais alta expressão do nacionalismo musical brasileiro. Há quem o identifique como o fundador da música brasileira nacionalista. Pois a sua contribuição foi significativa, principalmente, no domínio da canção para voz e piano, voz e orquestra. Evidente, que não podemos considerá-lo um nacionalista em toda a sua produção, pois se manifesta em muitas de suas composições traços marcantes de influência européia. Não devemos esquecer a sua formação ocidental. Mas, na realidade é o nosso iniciador de uma música brasileira, pois como nenhum outro músico, após retornar ao seu país, repensou uma estética musical que identificasse a realidade nacional. Na história da arte não há registro de mudança radical. A evolução não se processa linearmente. O seu avanço se concretizou em muitas de suas composições A Série Brasileira para orquestra, em quatro movimentos é exemplo típico da sua originalidade. A Alvorada na Serra, construída sobre a melodia folclórica do Sapo Jururu, segundo Kiefer (p.ll6), representa, como os demais movimentos, desta Série, uma visão romântico-realística de nossa terra.

Ardoroso defensor da nacionalidade em arte, combateu a melodia trabalhada em cima de textos poéticos em língua estrangeira, tão explorados em seu tempo, enfrentando resistência de um público ainda não acostumado a ouvir uma canção em texto vernáculo. No seu primeiro concerto, em 1895, são apresentadas quatro canções com versos em língua portuguesa: Ora, dize-me a verdade, Amo-te muito, Mater dolorosa e Tu és o sol. O fato causou polêmica na imprensa o que lhe inspirou esta frase: Não tem pátria um povo que não canta em sua língua.
Dando continuidade ao seu processo de brasilidade em música, trouxe para suas canções poesias de renomados poetas brasileiros como Juvenal Galeno, Machado de Assis, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Coelho Neto, etc., e muitas outras canções com versos de poetas brasileiros que revelam, melhor do que qualquer outra obra do autor, a capacidade de ternura, de pitoresco, ou até mesmo de força dramática, do seu estro. (Heitor, p.165). Situam-se, sem sombra de dúvida, entre o que há de melhor e de mais sentidamente brasileiro, no canto em português. (Idem). Portanto, é notadamente nas canções que se manifesta o sentimento nativista do autor cearense. Acredita-se que o seu contato com o compositor nacionalista Eduard Grieg, na Noruega, onde hospedou-se em sua residência, despertou-lhe as ideias de pautar uma música que identificasse com a natureza de nosso país.

Segundo Kiefer (p. 114), Nepomuceno foi o vulto mais importante na música brasileira durante o período de sua vida. Realizou um trabalho sério e fecundo como virtuose do piano e o órgão, como regente, professor e, sobretudo, como compositor. Foi pioneiro na pesquisa do folclore musical brasileiro e, mesmo, ainda condicionado às raízes estéticas da Europa, não se põe dúvida quanto ao seu estro nacionalista ao explorar temática que revela traços marcantes da nossa cultura. (Idem). A Sesta na Rede, ainda da Alvorada na Serra, em que o autor descreve a sensação de se estar numa rede, em balanço dolente e preguiçoso, após a sesta, é exemplo típico do seu regionalismo.

A sua produção é vasta, e compõe-se de: Música Orquestral, de Câmara, Dramática (óperas, opereta e episódio lírico), Instrumental, Músicas sacra e vocal. Sua música vocal abrange canto e piano, canto e orquestra, e coro. A ópera O Garatuja, baseada no romance título, de José de Alencar, ficou inacabada. Ainda como Diretor do Instituto Nacional de Música, na sua segunda gestão, oficializou a reforma do Hino Nacional Brasileiro na sua forma de execução e adaptação vocal.

PERCURSO
Filho de um organista, da Catedral de Fortaleza, Vitor Nepomuceno e Maria Virginia de Oliveira Paiva ( irmã do escritor, também cearense, Oliveira Paiva), Alberto Nepomuceno de Oliveira nasceu em Fortaleza, a 6 de julho de 1864,tendo iniciado seus primeiros estudos de música com o pai. Teve a sua formação em Recife, para onde se transferiu a família, mantendo aproximação com as manifestações de vanguarda que eclodiam à época, principalmente, na Faculdade de Direito, epicentro das ideias evolucionistas, tornando-se um defensor atuante das causas abolicionista e republicana e, cultivando relacionamento com Tobias Barreto, Clóvis Bevilacqua, Farias Brito, etc., mas sem dissociar-se dos estudos de música, assumindo, inclusive, a direção dos concertos do Clube Carlos Gomes, aos dezoito anos. Com a morte do pai, retorna ao Ceará com a família, conhecendo João Brígido e João Cordeiro, ativistas do movimento abolicionista, e passa a atuar em jornais defensores da causa, o que lhe valeu o indeferimento do custeio do governo imperial para prosseguir seus estudos de música na Europa.

Dando continuidade aos estudos, em 1885, resolve fixar residência, no Rio de Janeiro, ingressando no curso de piano do Clube Beethoven. A sua proficiência ao piano, encontra receptividade nos concertos de sociedades musicais, dividindo espaço com os renomados pianistas Artur Napoleão e J. White, sendo nomeado professor de piano do Clube Beethoven.
Após superar dificuldades, Brasil afora, em 1888 Alberto Nepomuceno concretiza seu sonho de aprofundar sua formação musical, na Europa. Em 1889, em Roma, Itália, cursou harmonia, com Eugenio Terziani, posteriormente com Cesare De Sanctis, e piano com Giovanni Sgambati; em Berlim, estudou composição com Henrich Von Herzogenberg; posteriormente, com Arno Kleffe; cursou composição, órgão e piano com H. Ehrlich; em Viena, estudou interpretação com Theodor Lechetitzky, conhecendo a pianista norueguesa, Walborg Bang, aluna de Grieg, que no futuro seria sua esposa; aprimorou os estudos de órgão, em Paris, na Schola Cantorum, com o professor Alexandre Guilmant, oportunidade em que manteve contato com Camillle Saint-Saens, Charles Bordes e Vicent, D’Indy. Em 1893 casa-se com Walborg, Bang, tendo quatro filhos; Viaja à Noruega, hospedando-se na casa de Grieg, compositor nacionalista norueguês.

Em 1895, regressa ao Rio de Janeiro onde desenvolve sequência de atividades que vão mostrar a sua expressividade e talento, não só em execução e apresentação de sua produção musical mas, trazendo para o palco obras de compositores brasileiros: Barroso Neto, Francisco Braga, Carlos Gomes, Henrique Oswald, Leopoldo Miguez, Araújo Viana; resgatando, inclusive, as obras do Padre José Maurício Nunes Garcia. Mas o destaque de seu trabalho foi o confronto para implantar uma música de essência brasileira, a começar pelas canções com poesias de poetas brasileiros, contrariando o crítico Oscar Guanabarino, ardoroso defensor do bel canto, em italiano. Como diretor do Instituto Nacional de Música desenvolveu projetos que credenciava a divulgação de música erudita brasileira. Por sua iniciativa, uma nova sede do Instituto foi projetada com salas de aulas e auditórios para concertos, estes inaugurados, somente, em 1922, após a sua morte. Em 1920, Alberto Nepomuceno teve a grata satisfação de assistir sob a regência de Richard Strauss o prelúdio de O Garatuja, peça orquestral de seu estro. Sua última composição foi a canção adaptada aos versos do poeta, também cearense, Juvenal Galeno, A Jangada, 1920.

A renúncia do Instituto, pela a incompreensão de seus Pares; a saúde debilitada, separação da esposa, dificuldades financeiras, descaso de uma política de apoio ao artista por parte do governo, foram fatores que desestabilizaram, ainda mais, o vigor físico do compositor cearense, amparado pela solicitude dos amigos. Faleceu na residência de Frederico Nascimento, para onde havia se transferido, sendo assistido até o derradeiro momento de seu desenlace, por Otávio Bevilacqua que testemunhou uma morte em que ele cantava, e cujo o último suspiro a voz enfraquecida declinara num rallentando quase imperceptível, às primeiras horas da manhã, de 16 de outubro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. HEITOR, Luiz. 150 Anos de música no Brasil ( 1800 – 1950 ). José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1956.
2. httpsIIpt. Wikipédia. Org.! wiki I Alberto – Nepomuceno#NACIONALISMO
3. KIEFER, Bruno. História da música brasileira. Ed. Movimento, 4 ed. `Porto Alegre, 1997.
4. MIGNONE, Francisco. Biblioteca educação e cultura. Música, V. 3. MEC-FENAME-Bloch, 1980
5. NIREZ. Miguel Ângelo de Azevedo

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