Agronegócio brasileiro vive seu melhor momento econômico, mas precisa de cuidados
O setor bateu recorde de US$ 11,57 bilhões em exportações, um crescimento de 28,6%. Porém, perdas com o desmatamento na Amazônia podem chegar até R$ 5,7 bilhões
O agronegócio brasileiro vem mostrando sua força e impedindo maiores quedas sobre a economia do país. Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), no mês de março, o setor bateu recorde de US$ 11,57 bilhões em exportações, o que significa crescimento de 28,6% em comparação com 2020. A forte demanda da China foi a responsável por alavancar estes números, onde adquiriu US$ 5,05 bilhões de produtos, correspondente a 39,8% do total das exportações.
E não para por aí, as previsões para 2021 são ainda mais favoráveis. Segundo estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Brasil alcançará recordes na produção de grãos, com destaque para a soja e milho, com expectativa de alcançar 268,9 milhões de toneladas. Outra previsão positiva, é o crescimento de 3% no PIB do agro e de 4,2% do valor bruto da produção.
Para o coordenador do curso de Agronegócio do Centro Universitário Internacional Uninter, Alexandre Francisco de Andrade, algumas circunstâncias são responsáveis por este crescimento em 2021, uma delas é a forte atuação da tecnologia no campo. “A tecnologia se faz presente no setor agrícola com modernos sistemas de monitoramento meteorológico e agrometeorológico, máquinas autônomas que economizam tempo, custo de produção, análises de campo e solo, e usam Inteligência Artificial para uma agricultura de precisão”, explica o coordenador.
A influência da Amazônia
Porém, neste cenário nem tudo é favorável. As últimas pesquisas publicadas pela revista científica Nature Communications indicam uma crise climática e perda de biodiversidade com o desmatamento na região da Amazônia.
“Sabemos que o desmatamento desenfreado da floresta amazônica aumenta a emissão de gases do efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. A floresta tem a função de realizar a manutenção do processo biológico e climático, sem ela não haverá chuvas e isto afetará as plantações de produtos agropecuários, com estimativa de prejuízo de até R$ 5,7 bilhões ao ano”, afirma Andrade.
Ainda segundo o especialista, a solução é priorizar e reforçar a atuação das políticas públicas de preservação ambiental e avaliar a efetividade de suas implementações.
“As autoridades governamentais e entidades privadas já estão cientes deste risco. O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Brasileira (Prodes), fez um alerta no ano passado, mostrando dados de satélite que apresentaram um aumento de 34% na taxa de derrubada da floresta amazônica, estas análises apresentam uma precisão próximo a 95%. Temos que reduzir discursos e conversas, exigir mais ações e práticas. O desmatamento vai contra o compromisso legal, político e diplomático do nosso país e contra o Decreto 9.578/2018 da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)”, declara Andrade.
O desiquilíbrio sob a mesa do consumidor
É impossível não sentir no bolso o aumento expressivo no preço dos alimentos, principalmente os considerados a base da alimentação, como arroz, feijão, carne e óleo de soja. Segundo o professor Andrade, com o agronegócio mantendo-se regular nas exportações, a alta de preço nos principais commodities, os elevados preços dos insumos e matérias primas, e as condições climáticas não favoráveis, fica difícil manter o equilíbrio no preço para o consumidor final.
Um exemplo, é a safra 2020/21 de arroz que será 3,9% maior comparada ao ano anterior. Porém, o Brasil exportou mais do que o normal para atender a demanda externa, fazendo com que os preços internos subissem. “Com a oferta interna reduzida, frente a uma demanda alta do mercado internacional e sem uma política de estoque regulador, os preços sobem rapidamente para o consumidor final”, avalia.