A ressurreição do amor debaixo de um pé de Umbuzeiro

De repente uma luz em forma de raio como se fosse um arco-íris ilumina o pé de umbuzeiro e como um raio x passa pelo corpo de Rosinha curiosamente lhe trazendo a vida de volta em forma de uma Ave Bela.

Antônio Matos (*)
Vou contar uma história que de tão triste faz todo mundo chorar.

Antônio Matos, Jornalista, consultor de empresas e diretor administrativo do Jornal do Comércio do Ceará (JCCE), nasceu na cidade de Fortaleza, em 1958, filho do Coronel de Polícia do Ceará da primeira turma 1934, Antônio Alves de Oliveira e Luiza Bastos Bastos Matos, natural da cidade Pentecoste.

Antônio Matos nasceu numa época de grande seca que assolou o estado do Ceará. Quando nasceu Antônio Matos, parecia um girino de tão magro e raquítico que era. Todos pensavam que ele não ia resistir. Só a sua mãe que insistia em dizer, eu vou cuidar desse menino ele vai ser um grande jornalista do comércio.

Mas, com os cuidados da abnegada mãe Luiza, Matos sobreviveu até os dias de hoje deixando um legado por onde passou, principalmente pelo interior do estado, pois teve que acompanhar seu pai que exercia a função de delegado pelas cidades do hinterland cearense.

De uma família de cinco irmãos, Antônio Matos ficou órfão de mãe logo aos três anos: sua mãe pegou uma gripe e foi tomar uma injeção na Santa Casa de Misericórdia; como naquela época não havia seringa descartável, a sua mãe foi acometida pelo bacilo do tétano, chegando a falecer em 24 horas, deixando a família do Cel. Antônio Alves muito desolada.
O Coronel optou por entregar os meninos a outra mulher sua para criá-los e o impressionante é que essa mulher, Dona Adélia de Oliveira, já havia perdido cinco filhos, pois nasceram mortos. Mas, sendo uma mulher caridosa e muito religiosa aceitou criar como filho todos os cinco filhos do Cel. Antônio Alves.

O militar passava a maior parte do tempo viajando para as delegacias, porém, sempre levava consigo Antônio Matos.
Uma das façanhas contadas por todos é que na década de 70, lá para os lados da cidade de Alto Santo, Antônio Matos vinha de um forró, cujo cantador era João Bandeira, famoso na época, já fazia muito sucesso, quando chegando às proximidades do açude do Ema, Antônio Matos e os amigos se encontraram com uma onça faminta que de pronto atacou… Antônio Matos não contou pipoca se agarrou com a onça com um punhal na mão, foi uma luta que durou mais ou menos uma hora, contam os companheiros que ninguém chegava a ver nada de tanta poeira que subia da luta feroz travada entre Antônio Matos e a onça. Depois que a poeira baixou avistaram Matos deitado ao chão cheio de arranhões e a danada da onça morta com a língua pra fora. Foi inacreditável nunca havíamos visto coisa parecida! Foi um milagre!

Logo a notícia correu pelo baixo Jaguaribe e a população gritava Antônio macho – o Rei do sertão – matador de onça.
Retornando para Fortaleza, Antônio Matos foi matriculado no Colégio Jacinto Botelho, onde cursou o ensino fundamental, passando para o Colégio Liceu do Ceará, onde cursou o ensino médio, terminando o curso técnico de administração de empresas. Em seguida, entra no jornal Correio do Ceará como diagramador e, logo, passa para o jornal Tribuna do Ceará, dando visibilidade a sua trajetória como jornalista.

A saudade apertou e Antônio Matos, decide voltar ao sertão, sempre ao lado de seu pai, o valoroso Cel. Antônio Alves de Oliveira que faleceu, em 2015, aos 102 anos com uma extensa ficha de serviços prestados à gloriosa Polícia Militar do Estado do Ceará.

Nessas idas e vindas conheceu uma jovem muito bela chamada Rosinha e a apelidou de Ave Bela. Foi o grande amor da sua vida que o levou a se embrenhar no sertão do Piauí para conhecer o pai de Rosinha, o temido Cel. Ferreirinha – coronel de sertão – dono de muitas fazendas.

Quando o Cel. Ferreirinha soube do namoro de Matos com sua filha Rosinha, despeitado por que o pai dele era coronel fechado e ele de sertão, decidiu proibir o namoro de Rosinha.

Matos, num acesso de fúria e dominado pelo amor, pegou uma garrafa de cachaça Dandis, revoltado se armou com seu punhal, subiu no seu cavalo e enfrentou o Cel. Ferreirinha. Foi mais de uma hora de discussão, quando Antônio Matos jogou a cachaça na cara do Cel. Fer-reirinha e mandou ele se armar e disse que não gosta de bater em homem desarmado. Toda a família e a vizinhança ficaram arrepiadas diante de tanta valentia. Cel. Ferreirinha que não levava conversa pra casa correu pra pegar sua doze polegadas, o coração de Rosinha batia forte, o choro era demais com medo de perder seu amado jornalista.

Ao voltar, o temido Cel. Ferreirinha numa atitude de tamanha covardia vem com três capangas e ordena que eles partam pra cima de Antônio Matos, que lutou bravamente com os capangas do Coronel de sertão Ferreirinha, ferindo gravemente todos os três capangas logo na virilha que chegaram a falecer esvaindo-se em sangue, pois as punhaladas pegaram a veia femoral. Então, Matos dá umas tapas no Cel. Ferreirinha pega Rosinha e bota em cima do seu cavalo branco e foge para Paraíba com destino à cidade de Areias, lá eles pretendiam se casar.

O Cel. Ferreirinha começa uma inclemente caçada ordenando que os dois tinham que ser capturados vivos. Nesse ínterim, o Coronel adoece, obrigando Rosinha a retornar para cuidar do pai. Enquanto isso, Matos volta ao Ceará prometendo um dia ir buscar Rosinha e casar na igreja e, também, no ter- reiro da macumbeira Mãe Julinha, no estado da Bahia.

Matos vai direto para a Serra da Meruoca onde seu pai assumira a delegacia da cidade. O Cel. Antônio Alves reúne todo mundo e dá uma festa para comemorar o retorno do filho: manda matar 50 galinhas, 50 capotes, 10 carneiros, 10 porcos e 10 novilhas e contrata uma banda de forró, foi aí que presenciamos mais uma artimanha do Antônio Matos, que sai correndo para um dos quartos da fazenda e volta com uma sanfona de oito baixos, tocando belas melodias de Luis Gonzaga, Sivuca e Zé Garoto. O cabra tocava tanto que os bichos dançavam no terreiro.

De repente um homem tentava matar um dos porcos para o banquete; deu a primeira paulada na testa do porco e nada do porco morrer; foi aí que Matos, vendo aquilo, decidiu ir até lá e deu um murro tão forte e certeiro na testa do porco que o bicho caiu morto.
Todos ficaram impressionados, mas essa estória tem gente que até hoje não acredita e só acredita porque comeu da carne do porco na festa.

Com o passar do tempo, Matos com muita saudade de Rosinha retorna ao Piauí para rever a sua amada, chegando lá encontra Rosinha casada com um tal de Mané das Onças. A cidade toda fica em polvorosa temendo a reação de Antônio Matos (conhecido cabra macho do sertão). A cidade passou a adotar o toque de recolher com medo do que estava por vir.

Matos, bastante magoado com o casamento de Rosinha, todo dia enchia a cara de cachaça no bar da velha Fiinha, sempre no cair do sol. Bebendo muito, Matos decide tomar satisfação com Rosinha e marca um encontro debaixo de um pé de umbuzeiro, um lugar sagrado aonde eles costumavam fazer amor no passado.

Rosinha, chorando muito, contou que casou obrigada pelo o coronel seu pai, mas nunca tinha se deitado com Mané das Onças, embora a pressão fosse muito grande. Os dois não se aguentam e passam o dia inteiro fazendo amor debaixo do pé de umbuzeiro.

Foi quando chegou Mané das Onças armado com carabina e grita: – Cabra da peste, eu tô sendo corno antes de possuir minha mulher?- e atira três vezes em Antônio Matos.

Rosinha se mete na frente de Antônio Matos e leva os três tiros. Morre ali mesmo. Antônio Matos, chorando, pula em cima de Mané das Onças com o punhal na mão, arranca o coração e o fígado de Mané das Onças e joga para os cães comer. Aos prantos Antônio Matos eleva as mãos para o céu e roga aos seus inventores que devolvam o sopro de vida de Rosinha…

De repente uma luz em forma de raio como se fosse um arco-íris ilumina o pé de umbuzeiro e como um raio x passa pelo corpo de Rosinha curiosamente lhe trazendo a vida de volta em forma de uma Ave Bela. Matos, chorando muito, agradece aos seus inventores a ressurreição de Rosinha lá debaixo do pé de umbuzeiro.

Depois disso, eles dormem três dias e três noites. No quarto dia Rosinha em forma de Ave Bela voa para o infinito céu azul, deixando só as lembranças de um grande amor, esperando retornar ao seu corpo humano, que segundo os seus inventores ia demorar três gerações.

É por isso que Antônio Matos quando vê um pé de umbuzeiro vai às lágrimas e o seu coração nunca mais esqueceu a Ave Bela que voa até hoje pelo sertão nordestino, sendo a inspiração das suas belas poesias de amor.

Antônio José Matos de Oliveira é jornalista, escritor, consultor de empresas, diretor administrativo do Jornal do Comércio do Ceará (JCCE), e membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba – Acla Capistrano de Abreu.

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