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A agricultura brasileira está conectada?

Pedro Abel Vieira, Antônio Marcio Buainain, Elisio Contini e Roberta Grundling

São 6 horas da manhã e o Sr. Roberto, produtor de uva em Padre Bernardo, município goiano, senta-se à mesa para o desjejum na própria fazenda. Entre um gole de café e a tapioca quentinha, utilizando o celular, confere, no site do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado de Hortigranjeiro, os preços da uva. Também lê relatórios sobre a evolução da colheita no Vale do São Francisco, a evolução da pandemia no Brasil e a desvalorização do Real. Preocupado com  os tempos difíceis, envia, pelo aplicativo WhatsApp, algumas fotos de uva Vitoria colhida em sua fazenda no dia anterior para o Sr. Saulo, atravessador de uvas sediado em Campinas/SP. Com a resposta imediata de Saulo, vende cinco toneladas de uva Vitoria com teor de açúcar mínimo de 19 graus Brix e embaladas em ‘cumbucas’ com 500 gramas cada, a serem entregues no dia seguinte em Belo Horizonte/MG.

Em seguida à confirmação da venda, Roberto envia mensagens pelo WhatsApp para André, o responsável pela embalagem e despacho da uva em sua fazenda. Ato contínuo, André seleciona as caixas necessárias para a colheita e reenvia a mensagem para Valdomiro, responsável pela colheita na fazenda. Valdomiro orienta as equipes de colheita, que tem início menos de uma hora após Roberto ter confirmado a venda. As informações são compartilhadas em tempo real com José, quem fará o transporte da mercadoria até Belo Horizonte.

Confirmada a colheita, Roberto acessa o APP do banco, emite a fatura contra Saulo e só então “inicia” o dia, que de fato começou muito antes. Tudo feito por celular. Pode parecer ficção, mas os fatos narrados, exceto os nomes dos personagens, são reais e vêm acontecendo com regularidade na fazenda do Sr. Roberto.

A agricultura conectada já é uma realidade no Brasil. Pode ser uma conexão “simples” pelo WhatsApp ou uma conexão sofisticada embarcada em máquinas. Independente da sofisticação, os impactos na produtividade e no bolso são reais.

A tecnologia, que parece ficção, é necessária para assegurar e ampliar o espaço do Brasil como potência agrícola global. Da porteira para dentro, o principal é elevar a produtividade, respeitando as crescentes exigências das sociedades que requerem alimento saudável e de qualidade, produzidos em sistemas transparentes, responsáveis e que respeitam os recursos naturais. Da porteira para fora, os desafios são ainda mais complexos, envolvem não apenas a logística como também instituições e políticas para sensibilizar os mercados e a sociedade de que a competitividade da agricultura não é espúria e está calcada na utilização sustentável dos recursos do país.

Neste contexto, a complexidade é crescente, mas os processos precisam ser operados de forma simples, transparente e sustentável. É na solução desta equação que entram as tecnologias associadas à agricultura conectada, também denominada por 4.0. São inúmeras as possibilidades para criação de startups ligada à Agricultura 4.0, incluindo mecanismos de rastreabilidade, que tanto contribuem para a utilização sustentável dos recursos naturais quanto empoderam o consumidor transformando-o, de fato, em “gestor” da cadeia de valor.

O problema é que esta agricultura não funciona sem infraestrutura adequada e a do Brasil ainda está no século passado. O déficit de infraestrutura é sem dúvida um obstáculo para a expansão da agricultura 4.0 no Brasil e corretamente tem sido o foco de preocupações do setor. A internet 5.0, desenvolvida pelo principal parceiro comercial do agro brasileiro, a China, é uma opção interessante, porém, a solução não será tão fácil quanto parece. A tecnologia 5 G, objeto de disputa acirrada entre EUA e China, já fez vítimas como a Inglaterra.

Também não é possível negligenciar o desafio relacionado à qualificação da força de trabalho requerida pela agricultura 4.0. A inevitável difusão dos novos sistemas produtivos pode contribuir para o desemprego recorde e inviabilizar um grande número de pequenos estabelecimentos de natureza familiar, que são responsáveis pela absorção de mais de 50% dos ocupados no setor.

Qualquer pessoa medianamente informada sabe que o Brasil não investe adequadamente em educação. Na verdade, falta uma política estruturada para orientar a juventude, em especial a rural, e viabilizar projetos e alternativas ao assalariamento ao final do Ensino Médio. Trata-se de um problema sério uma vez que os trabalhadores e produtores excluídos, em geral com baixa escolaridade, já não encontram espaço nem nas atividades no meio urbano, que tradicionalmente os absorveram, nem nas fronteiras de expansão. Importante considerar que a maior marginalização, não por acaso, ocorrerá na região nordeste do país.

A sociedade e o setor agrícola demandam ações efetivas não só para a adequação da infraestrutura e a qualificação da mão de obra requeridas pela agricultura 4.0, mas, também para a geração de negócios suficientes para abrigar a população que inevitavelmente será realocada pela revolução a caminho. Os desafios da Agricultura 4.0 transbordam a agropecuária chegando às relações internacionais. Porem, a agricultura brasileira é dinâmica o suficiente para solucionar essas questões, basta racionalidade. Mas parece que temos nos especializado em complicar o simples e dificultar o fácil e nesta brincadeira corremos sério risco de deixar passar mais uma boa oportunidade.

Pedro Abel Vieira, Elisio Contini e Roberta Grundling são pesquisadores da Embrapa e Antônio Marcio Buainain é professor do Instituto de Economia da Unicamp.

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