Coletivo que promove a dignidade menstrual de mulheres indígenas comemora 2 anos lançando a venda de seus absorventes de pano para mulheres de todo o Brasil

O coletivo Amaronai lança collab com a marca Korui (empresa de absorventes reutilizáveis) para promover dignidade menstrual, geração de renda e preservação do meio ambiente na Amazônia. Os absorventes de pano vendidos no site da Korui garantem a doação para mulheres indígenas da região do Rio Negro

Amaronai é uma iniciativa de dignidade menstrual na comunidade Assunção do Içana, no Alto Rio Negro, no Amazonas. O significado da palavra “Amaronai” é “filhas de Amaro”, que foi a primeira mulher Baniwa, uma mulher xamã que originou o povo desta etnia.

Como surgiu o coletivo Amaronai – https://amaronai.org/

Em 2019, as mulheres de Assunção do Içana conheceram os absorventes reutilizáveis e se encantaram, mas com o preço alto e a dificuldade na logística para entregar o produto na comunidade, nenhuma mulher conseguiu comprar. A parceria Amaronai + Korui começou a tomar forma quando, em 2020, com o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19, as mulheres da aldeia tiveram dificuldade de acesso aos absorventes descartáveis. Pensando em soluções viáveis para sanar este problema da comunidade indígena, Francy Baniwa e Julia Bernstein acionaram a Korui contando sobre a ideia e o desejo de colaborar com a marca para torná-la viável. A Korui embarcou no projeto, se comprometendo a garantir a transferência de tecnologia e o fornecimento das matérias-primas. Assim, um projeto autossustentável de produção de absorventes reutilizáveis por mulheres indígenas para venda a preço de custo para indígenas começava a ser construído – faltava o dinheiro para iniciar os trabalhos!

Foi então que, em 2022, o Fundo Indígena do Rio Negro acreditou no projeto e financiou as primeiras despesas para dar início à produção. A iniciativa funciona assim: A Korui vende os tecidos já cortados e mulheres do projeto costuram e gerenciam a ação na comunidade, com apoio e formação das parceiras não indígenas. Assim, os absorventes, produtos deste trabalho, são vendidos a preço de custo para mulheres indígenas da região. Por meio de parcerias e doações, muitos absorventes já viajaram para outras terras indígenas do Brasil. E, a partir de agora, os absorventes produzidos pelas mulheres de Assunção do Içana serão também vendidos para mulheres não indígenas de todo Brasil pelo site da Korui. “Com essa parceria, trouxemos nosso conhecimento ancestral aliado à tecnologia do tecido. A mulher se sente segura, além de proteger o próprio corpo. O impacto é enorme, teremos menos lixo, menos exposição espiritual e mais proteção do corpo feminino”, conta Francy Baniwa, líder indígena à frente do coletivo.

Mais sobre o coletivo Amaronai

Amaronai é uma iniciativa de promoção da dignidade menstrual, através da produção de absorventes de pano por mulheres indígenas do Alto Rio Negro para indígenas e não-indígenas do Brasil inteiro. A missão de Amaronai é promover soluções menstruais sustentáveis e saudáveis, atuando na preservação do meio ambiente e na geração de renda e autonomia para mulheres. A produção dos absorventes de pano Amaronai + Korui foi possível a partir da capacitação de costureiras do Alto Rio Negro realizada em parceria com a Korui.  O projeto já recebeu apoios do Fundo Casa Socioambiental, do fundo alemão Umverteilen! Stifung für eine, solidarische Welt, além de ter sido indicado ao prêmio internacional The Earthshot Prize.

Mais sobre a collab Amaronai + Korui

A collab entre Amaronai Korui é uma forma de levar os absorventes produzidos pelas mulheres baniwa no Rio Negro para pessoas de todo o Brasil, contribuindo para a redução do uso de absorventes descartáveis entre indígenas, em especial na região do Rio Negro. A cada três absorventes vendidos no site da Korui, um será doado para indígenas da região.

“Eu queria fazer um projeto com um absorvente que fosse de boa qualidade. Naturalmente, quis para essas mulheres o que eu queria para mim. Então fui no site da Korui, uma empresa que tem um posicionamento político alinhado com o que defendemos sobre dignidade menstrual. No site, vimos que a marca já tinha essa política de parceria, e a partir daí contei toda a história da situação das mulheres naquela aldeia indígena”, comenta Julia Bernstein, uma das fundadoras da Amaronai. Luisa Cardoso, fundadora e CEO da Korui, esteve em Assunção do Içana ensinando as mulheres baniwa a costura do absorvente. Os próximos passos estavam traçados: assim que possível, já com a estampa própria e o projeto mais estruturado, a collab seria lançada e os produtos vendidos no site da Korui.

As estampas produzidas pelas indígenas da comunidade de Assunção do Içana

As estampas dos absorventes foram produzidas pelas mulheres da aldeia em uma oficina de desenhos com pigmentos naturais comandada pela designer Julia Sá, do Estúdio Afluente. A designer reuniu raízes, pedaço de terra, marupá, caruru e cúrcuma, além de lápis e tinta para aquarela e desenhou com as mulheres indígenas o que seriam as estampas dos absorventes. Assim, nasceram três estampas diferentes – das quais apenas uma já foi lancada. Os desenhos, que fazem referência a elementos ligados à menstruação na tradição Baniwa, destacam a fruta Caruru que, segundo o mito, deu origem à menstruação de Amaro.

 

A história do Caruru, que conta a origem da menstruação – mitologia indígena da tribo Baniwa

O mito da cosmologia Baniwa explica a origem da menstruação. A história conta que Amaro, (a primeira mulher do povo, que era uma mulher xamã), viveu no período em que elas eram donas dos animais sagrados – ou seja, eram as xamãs de suas comunidades. Naquela época, as mulheres tinham vagina, mas não menstruavam. A forma que o demiurgo Nãpirikoli encontrou de roubar o conhecimento que pertencia a elas, foi as fazendo sangrar, jogando uma fruta de Caruru nessas mulheres. Assim, o segredo delas passou a estar contido na menstruação. “Caruru nasce na natureza por si só, ela não é cultivada, mas nativa. Comemos as folhas, mas as frutas são venenosas. Quando a fruta é amassada, ela sangra. O líquido dela é sangue puro. O mito diz que a única forma de paralisar Amaro e outras mulheres foi trazendo a menstruação pelo Caruru. Por isso é tão importante para as indígenas terem controle sobre o destino do seu sangue menstrual”, destaca Francy Baniwa.

Como funcionam as doações

Como forma de alcançar mais mulheres, a Amaronai criou um programa de doações que funciona assim: qualquer pessoa pode contribuir com um valor que vai garantir a doação de um certo número de absorventes para mulheres indígenas que não podem pagar. Essas doações são feitas pelo site do projeto, que também acaba de ser lançado. Além disso, a venda dos absorventes para mulheres não indígenas no site da Korui também fortalece as doações, já que a cada 3 absorventes vendidos no site, 1 é doado, sempre para mulheres indígenas.

 

https://amaronai.org/

https://www.instagram.com/_amaronai/

https://korui.com.br/

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