Análise Boa Vista: varejo inicia o ano em alta, mas com grandes desafios pela frente
passando pelo serviço antifraude, até a eventual cobrança de inadimplentes
De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito subiu 3,8% entre os meses de dezembro e janeiro na comparação dos dados dessazonalizados. Neste período foi observado forte aumento segmento de “Tecidos, vestuário e calçados”, de 27,9%, embora ele tenha registrado queda de 6,5% na leitura anterior. As vendas também aumentaram nos segmentos de “Combustíveis e lubrificantes” (1,5%), “Super e hipermercados” (2,2%) e “Móveis e eletrodomésticos” (1,3%), enquanto o segmento de “Artigos farmacêuticos” operou em queda de 1,2%.
Na comparação interanual foi observada elevação de 2,6% e o resultado acumulado em 12 meses se manteve numa tendência de crescimento acelerado, passando de 1,0% para 1,3%. Contudo, esse ritmo tende a se perder e a curva de longo prazo do varejo deverá se aproximar em breve de um ponto de inflexão, como já está acontecendo com o indicador da Boa Vista de Movimento do Comércio, que entre os meses de janeiro e fevereiro viu o crescimento em 12 meses estacionar em 1,5%. Antes disso, o indicador antecipou o sentido das variações no mês e no ano para janeiro, uma vez que havia apontado alta de 1,2% na margem e de 1,0% em relação ao mês de janeiro de 2022, bem como a tendência de longo prazo, dado que o crescimento em 12 meses havia passado de 1,3% para 1,5% entre os meses de dezembro e janeiro.
“No mês essa alta contou com um efeito base importante, lembrando que em dezembro as vendas recuaram 2,8%, isso considerando o dado já revisado, e no ano o varejo contou com dois fatores principais. Primeiro, a queda na taxa de desemprego, que passou de 11,2% para 8,4% entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, e segundo, a melhora na renda, que em janeiro do ano passado estava em queda de 7,8% e em janeiro deste ano já havia voltado ao campo positivo, com alta de 0,2%” avalia o economista da Boa Vista, Flávio Calife.
“Mas nem tudo foi positivo, um ano atrás os juros já eram mais elevados, eles subiram ainda mais e isso deve ser um obstáculo aos segmentos mais dependentes do crédito, um obstáculo que, por ora, não deve ser superado no curto prazo. Além disso, a inadimplência das famílias subiu bastante, o endividamento e comprometimento de renda, embora estejam caindo aos poucos, ainda são elevados, e tudo isso deve fazer com que o consumidor seja mais cauteloso ao longo desse ano, priorizando itens de maior necessidade e contendo os gastos mesmo em datas comemorativas. O quadro, de modo geral, não é favorável ao consumo e o varejo pode vir a crescer menos em 2023, lembrando ainda que no final do ano passado a venda de combustíveis, que estavam mais baratos por conta da desoneração, cresceu bastante, com a volta da oneração em março, isso pode ser revertido”, conclui Calife.