A ONG Visão Mundial realiza no início de março, em parceria com a ONG Passarela Alternativa, a doação de mil absorventes ecológicos e reutilizáveis para comunidades em situação de vulnerabilidade nas cidades de Nova Iguaçu (RJ), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Inhapi (AL). A entrega será feita em creches, igrejas, escolas e clubes dessas regiões em celebração ao Mês da Mulher. Os absorventes serão distribuídos em 200 kits com cinco unidades cada, contemplando um total 200 adolescentes.
Também serão distribuídos folders e exibidos vídeos educativos, com o objetivo de empoderar crianças e adolescentes em idade menstrual, além de conscientizar pais, jovens, professores e toda a sociedade sobre a importância de garotas em idade menstrual terem acesso a absorventes e, consequentemente, seus direitos básicos atendidos.
De acordo com a pesquisa “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdades e Violação de Direitos”, publicada no ano passado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 4 milhões de meninas que frequentam escolas no Brasil – ou 38,1% do total das estudantes – não têm banheiros, papel higiênico ou pia e sabão disponíveis nos ambientes de ensino.
Mais do que isso, 713 mil garotas não têm banheiro com chuveiro e vaso sanitário em suas casas, sendo que 80% destas são pretas e pardas.
Na avaliação da gerente de programas da ONG Visão Mundial, Andrea Freire, existe uma lacuna a ser preenchida em termos de políticas públicas voltadas para a independência menstrual de meninas, mulheres e pessoas que menstruam. “Começar esse trabalho de distribuição de absorventes e educação social é um primeiro passo, mas não o único. Precisamos falar mais abertamente desse problema e entender que a falta de acesso a absorventes, assim como de saneamento e higiene de maneira geral, impacta negativamente a vida de milhões de pessoas e aprofunda desigualdades”, afirma.
Andrea reforça que as ações da Visão Mundial terão foco na redução da evasão escolar, da desigualdade social, dos riscos à saúde íntima de meninas e mulheres e no apoio psicossocial ao público atendido pela iniciativa.
A pesquisa das agências da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta ainda que cerca de 3% das meninas de 10 a 19 anos que deixaram de fazer alguma atividade em suas rotinas (estudar, realizar afazeres domésticos, trabalhar e brincar) em razão de problemas de saúde apontam a questão menstrual como a causa.
O problema é maior entre as crianças e adolescentes negras: de um total de 1,24 milhão de meninas brasileiras que não têm à disposição papel higiênico nos banheiros das escolas, 66,1% são pretas/pardas. No mundo, segundo a Unicef, são 500 milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza menstrual.
Em outubro de 2021, o Executivo federal vetou um projeto de lei que obrigava a distribuição de absorventes íntimos a estudantes de baixa renda e outros grupos sociodemográficos, como pessoas em situação de rua e em cárcere. Prevista inicialmente para dezembro, a análise do veto pelo Congresso Nacional foi adiada para fevereiro deste ano, mas foi retirada da pauta da última sessão conjunta.
Para que o veto seja derrubado, é necessário que a maioria absoluta dos deputados (257) e dos senadores (41) vote pela rejeição.
O relatório da UNFPA e da Unicef mostra que, em média, a mulher brasileira tem sua primeira menstruação aos 13 anos, justamente em idade escolar, o que reforça a importância de se endereçar essa questão desde cedo na vida da população estudantil. “É extremamente necessário avançarmos nas discussões e nas ações para garantirmos o acesso de brasileiros e brasileiras a itens mínimos de higiene. Mais do que um benefício, trata-se do cumprimento de direitos humanos básicos”, diz Freire.
Os absorventes distribuídos pela Visão Mundial são produzidos por mulheres que passaram pelo sistema prisional e que integram os projetos da ONG Passarela Alternativa, que tem o propósito de impactar a vida de mulheres por meio da formação e da geração de renda, oferecendo cursos nas áreas de moda. Os chamados aBIOsorventes, são absorventes reutilizáveis que não geram lixo e são totalmente livres de componentes químicos. “São produtos que impactam e carregam afeto, histórias e oportunidades de recomeços, promovendo a dignidade humana através de uma justiça restaurativa e ambiental” afirma Karen Brandoles, fundadora da Passarela Alternativa.
Serviço
Inhapi (AL): 8/3, às 8h
Nova Iguaçu (RJ): 8/3, às 14h; e 9/3, às 9h30
Recife (PE): 8/3, às 10h e às 14h
Fortaleza (CE): 7, 8, 15 e 16/3, às 9h e às 14h.