Atlas retrata costa brasileira por meio da literatura
Nesta nova edição temos um olhar amplo sobre a nossa região litorânea que tem uma enorme importância histórica e foi cenário de muitas obras literárias. As interações entre nativos e colonizadores se deram pelo litoral e durante muito tempo as terras banhadas pelo Atlântico foram cenário de inícios de cidades e vilas, o que naturalmente fez surgirem histórias, então a partir da literatura do período conseguimos remontar e entender as configurações da costa brasileira no período em questão.
Não podemos falar sobre literatura e zona costeira do Brasil sem falar de Jorge Amado e o sul da Bahia, nem falar do sul da Bahia sem lembrar que o primeiro documento literário brasileiro foi a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita onde atualmente é Porto Seguro, um município baiano.
A história, a literatura e a geografia estão intimamente ligadas na configuração dos países e nada mais criativo e completo do que unir estes três pilares para entender como se deu o desenvolvimento do nosso país e como chegamos às configurações atuais de cidades, de cultura e até mesmo de sotaques.
Em um território próximo ao Ceará, tivemos ocupação na Costa do Engenho, no estado de Pernambuco onde houve uma estruturação da colonização portuguesa para a produção açucareira. Neste período temos uma maior produção de obras que retratam o Brasil escravocrata e o cotidiano de africanos traficados, como no romance de José Eduardo Agualusa, Rainha Ginga, que conta a história de Ngola Mbandi, uma rainha africana, e contextualiza as relações entre os reinos africanos e os confrontos entre portugueses e holandeses, além de mostrar por uma outra ótica as relações comerciais e o tráfico negreiro.
No Atlas também temos retratos de outros territórios nordestinos como São Luís, no Maranhão, onde ocorreram disputas territoriais entre portugueses e franceses e onde posteriormente tivemos o início das plantações de algodão. Em consequência disso, atualmente o Maranhão tem a maior concentração de comunidades quilombolas do país e tradições culturais afro, como o tambor de crioula e o bumba meu boi. Sua literatura teve como tema frequente o preconceito racial, ricamente retratado por Josué Montello na obra Os tambores de São Luís, em 1975.
Já na região de Salvador e Recôncavo Baiano, regiões que tiveram grande importância estratégica na defesa da costa e interiorização, além de ser o centro econômico da colônia, a literatura de Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro e Ana Miranda detalha os conflitos sociais, relações coloniais e comerciais.
Vale lembrar que o litoral brasileiro tem uma extensão de 7.367 km, e se contabilizarmos também suas reentrâncias teremos um total de 9.200 km, sendo um dos mais extensos do mundo. Por isso, não seria possível neste volume discorrer sobre toda a costa brasileira e por tal motivo a costa cearense ficou de fora.
Além disso, segundo aponta o historiador cearense Capistrano de Abreu, em 1930, houve dificuldade em promover a ocupação contínua no litoral cearense, pois as correntes marítimas e as ações do vento dificultavam esse fim. A construção de um fortim na costa onde hoje está Fortaleza aconteceu apenas para servir como ponto de apoio para as navegações que rumavam para a foz do Amazonas.
A coleção Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras possui ainda mais 3 volumes: Brasil Meridional (volume I) e Sertões brasileiros (volume II e III). Esse projeto une estudos geográficos, imagens de satélites, fotografias, e mapas com as ciências humanas e sua capacidade de nos levar a conhecer e entender universos diferentes, que vão desde aspectos culturais a como se dava a configuração local no período em que a obra se passa.
Todas as edições estão disponíveis para download gratuito na biblioteca do IBGE ou na versão física disponível para compra na loja do IBGE.