“Saldo da eleição reflete a organização de grupos minoritários em defesa de seus direitos”, diz cientista político
Quantidade de candidatos pardos e pretos, mulheres e indígenas no Brasil no pleito de 2020 foi superior em comparação a quatro anos
Nas últimas eleições municipais, realizadas em novembro, a quantidade de candidatos pertencentes a grupos minoritários teve um aumento significativo em comparação ao processo eleitoral de 2016.
Para Doacir Gonçalves de Quadros, cientista político e professor do Centro Universitário Internacional Uninter, a expansão de determinados grupos pleiteando cargos públicos e eletivos representa uma mobilização em busca de terem seus direitos constitucionais reconhecidos e preservados, uma vez que são classes marginalizadas pelas políticas de governo.
“Esse movimento sinaliza a adesão a um caminho institucionalizado para comover a opinião pública, além de articular e negociar seus interesses nas casas legislativas”, opina. “A representação política partidária é uma via ‘necessária’ para os grupos minoritários defenderem seus interesses, mas ‘não é suficiente’. É necessário manter ativos outros canais de reinvindicação, como os movimentos sociais e grupos de pressão, todos instrumentos importantes e garantidos pelo Estado Democrático de Direito”, complementa.
De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de candidatos que se autodeclararam indígenas representou aumento de 29% em quatro anos. Quanto às mulheres, no pleito de 2020, elas representam 33,6% do total de candidaturas, superando o maior índice das últimas três eleições, que não passou de 32%.
Outro número considerável das eleições deste ano é a de candidatos pardos e pretos, que totalizou 49,9%, superando inclusive a quantidade de candidatos brancos (48,1%). Em relação às eleições municipais de 2016, o saldo de cidadãos que se autodeclararam pardos ou negros nos registros de candidatura fora de 47,7%.
Segundo Quadros, em parte, a candidatura de minorias significa uma reação à ascensão da direita conservadora no Brasil nas eleições presidenciais de 2018.
Por outro lado, comprova a capacidade de organização de grupos que espelham diversidade na luta por ideias semelhantes. Como exemplo de associações que estimulam mudanças na estrutura partidária, o cientista político cita o “Movimento Mulheres Negras Decidem”, que tem como objetivo ampliar o número de candidaturas negras.
Em sua opinião, quanto mais democrática for uma sociedade, mais plural será a sua organização política, afinal, em essência, é dever do Estado garantir a participação de todos os cidadãos, independentemente do gênero, idade, religião etc., nos processos eleitorais.
“Os resultados das urnas em 2020 mostram o eleitor brasileiro na retomada pela defesa de valores democráticos, como a manutenção da igualdade de voto, a defesa à liberdade de expressão, à liberdade de reunião dos diferentes grupos, etc. Sem dúvidas, é um avanço se comparado com as eleições de 2018”, conclui.