96 anos de jornalismo: Associação Cearense de Imprensa
Histórico da entidade mater denominada
Associação dos jornalistas Cearenses
– O testemunho do líder Luis Sucupira
– A posse da primeira diretoria
– Ata da Sessão Preparatória
– A criação da Escola de Gazeteiros Padre Mororó
– Campanha para ereção do monumento ao
centenário de José de Alencar
– Locais onde esteve sediada a ACI
– Concurso Rainha da Imprensa
– Jornalistas que presidiram a entidade
– Sede própria – Criação do periódico ACI Informativo.
Texto de Zelito Magalhães
A história da Associação Cearense de Imprensa, que neste ano completa 96 anos de instalada, teve início com a reunião de alguns profissionais realizada a 14 de julho de 1925, na residência de Joaquim de Almeida Genu, à Rua General Sampaio, 123, nesta capital. A esse respeito, comenta Luís Cavalcante Sucupira (1901-1997): “Os jornalistas se sentiam desamparados, do ponto de vista de sua atividade funcional. Nesse tempo não havia sindicato. Resolvemos então fundar a Associação dos Jornalistas Cearenses, que mais tarde mudou para Associação Cearense de Imprensa. Seis jornalistas estavam presentes à reunião, no dia 14 de julho de 1925, como registra a ata de fundação. Cesar Teles de Magalhães foi o incentivador, o animador. Os outros eram Tancredo Moraes, Joaquim Genu, em cuja casa aconteciam as reuniões, um domingo por mês. Sá Leitão Júnior, Juarez Castelo Branco e eu, Luís Sucupira. Todos rapazes moços, mas trabalhadores ativos. Os outros, que hoje aparecem como fundadores, ou se fizeram representar ou apenas assinaram a ata que nós levamos de redação em redação. Esta é a verdadeira história da fundação da ACI.”
SESSÃO DE POSSE
No dia 5 de setembro seguinte, precisamente, às 19h 30 (sábado), realizou-se no Instituto Politécnico (salão da Fênix Caixeiral), sede da Associação dos Jornalistas Cearenses, a sessão solene de posse da sua primeira diretoria. Ao ato compareceram, além do representante da Presidência do Estado, vultos de relevo em nosso meio social, jornalistas e literatos. A sessão foi presidida pelo Dr. Jonas Miranda, secretário e representante do Desembargador Moreira da Rocha, ladeado pelo Barão de Studart, deputado Moreira de Azevedo, Sr. Ildefonso Albano, César Magalhães e Luís Sucupira. Foi orador oficial da cerimônia o jornalista Dr. Tancredo Moraes. Falaram, ainda, Sebastião Moreira, Gilberto Câmara e Jonas Miranda, que encerrou a sessão. Após a leitura da ata referente ao evento, foi empossada a diretoria, assim constituída: Presidente – César Teles de Magalhães, Vice-dito – Tancredo Moraes, 1º Secretário – 2º dito – Francisco Sabóia, Tesoureiro – Joaquim Genu, Bibliotecário – Lauro Reis Vidal, Membros do Conselho de Sindicância – Juarez Castelo Branco, J.J. Sá Leitão e Picâncio Filho. Tomou posse também no cargo de membro do gabinete jurídico da Associação o Dr. Sebastião Moreira de Azevedo, deputado estadual, que gentilmente se ofereceu para desempenhá-lo. César Teles de Magalhães, na simplicidade dos seus 17 anos, ainda não tinha se firmado na profissão. Em dezembro daquele ano é que aceitara o convite de A.C. Mendes para dirigir o noticiário local do “Correio do Ceará.”
ESCOLA PADRE MORORÓNa reunião do dia 21 de fevereiro daquele ano, foi debatido o assunto sobre a criação de uma escola para gazeteiros; mais duas outras reuniões seguintes, nos dias 2 e 26 de março, e numa terceira , em 6 de abril, era fundado o estabelecimento que recebeu a denominação de “Escola Padre Mororó”, numa homenagem ao primeiro jornalista cearense, o padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo, executado um século antes por sua participação no movimento revolucionário de 1824, no Nordeste. A escola paralisaria por dois anos, após o início das atividades, por falta de recursos. Contavam os jornalistas com a compreensão e a ajuda do prefeito Godofredo Maciel, de vez que fora este redator do “Unitário”, de João Brígido, e de outros jornais e revistas. Assegurava o chefe da edilidade a inclusão no orçamento municipal de uma subvenção de 1:200$00 para permitir que o curso voltasse a funcionar.
MONUMENTO A ALENCAR
Gilberto Pessoa Torres Câmara presidiu a Associação Cearense de Imprensa durante três mandatos consecutivos (1926, 1928 e 1929), tendo renunciado ao quarto antes da posse, em 1930. No segundo mandato, lançou-se com um empreendimento que seria de grande vulto para a época: a ereção de um monumento ao notável escritor e jornalista cearense – José de Alencar, cujo primeiro centenário de nascimento se aproximava. ”O presidente da entidade – disse o historiador Geraldo Nobre, não tomou em consideração as críticas , inclusive de alguns de seus próprios companheiros, que preferiam ver defendidos os interesses da classe a verem realizados os objetivos iniciais, aparentemente postos de lado: a Escola de Gazeteiros, por exemplo, havia deixado de funcionar por falta de recursos, conquanto se esperasse que lhe fosse concedida uma subvenção pela Prefeitura Municipal de Fortaleza.”
Na reunião de 8 de janeiro de 1928, Gilberto Câmara apresentou à Diretoria o plano para a campanha que seria por ele cuidadosamente elaborada. O centenário de nascimento do autor de “Iracema” seria comemorado em 1º de maio de 1929; os dirigentes da ACI, empenhados na campanha, dispunham apenas de alguns meses para angariar a importância correspondente ao custo da obra e seu transporte até Fortaleza para a inauguração do monumento na data aprazada. Uma campanha foi imediatamente desencadeada na angariação de fundos, que mereceu, de pronto, o apoio de seus pares. Nenhuma instituição do Estado deixaria de dar sua contribuição ao empreendimento, à homenagem que se prestaria ao maior vulto das letras conterrâneas. Um “Livro de Ouro” foi mandado confeccionar para receber as assinaturas dos comerciantes e industriais que quisessem colaborar. No espaço de seis meses, a campanha arrecadou 40 contos de réis, importância considerável para a época, porém insuficiente para atender ao custeio do arrojado empreendimento. Não conseguindo arrecadar a importância desejada, Gilberto Câmara viajou ao Rio de Janeiro, com o apoio de representantes do Ceará junto ao presidente da Nação, Washington Luiz.
No dia 14 de agosto de 1928, foi autorizado na Câmara Alta um projeto autorizando o governo a conceder o auxílio de cinquenta contos de réis. Assim, o monumento foi mandado construir pelo escultor Humberto Cozzo, paulista de 28 anos de idade, que saiu vitorioso na concorrência com outros profissionais, sob o pseudônimo Criterium. Concluída a obra de arte no dia 14 de agosto de 1928, Cozo veio a Fortaleza acompanhado das peças que montaria para complementar o seu trabalho. Por aqueles dias, o prefeito de Fortaleza, Álvaro Weyne, havia assinado portaria, destinando para local da instalação do monumento a Praça Marquês de Herval, que passaria a ter nova denominação em homenagem ao autor de “Iracema”. O poeta Antônio Sales concluíra a letra do “Hino do Centenário de José de Alencar”, a pedido do maestro Euclides Silva Novo. O Diretor da Instrução Pública, Dr. Joaquim Moreira de Souza, autoriza o maestro a ensaiar o hino com três mil alunos de Grupos Escolares e Escolas Privadas da capital cearense. Esse número de vozes seria elevado com o concurso de estudantes secundários e superiores, subindo para quase oito mil figurantes. O jornal Gazeta de Notícias, de Antônio Drummond, cobriu o evento, que foi publicado na edição de 24 de abril.
ONDE ESTEVE SEDIADA
A ACI Desde a sua fundação em 1925, a Associação Cearense de Imprensa esteve sediada em diversos locais da capital, começando pela Rua General Sampaio, 123, residência de Joaquim de Almeida Genu, Instituto Politécnico, na Fênix Caixeiral (Praça Marquês do Herval, hoje Praça José de Alencar, como já foi dito); edifício do Clube Iracema, Salão de Leitura do Palace Hotel; Edifício Excelsior Hotel e Palácio do Comércio.Em sessão do dia 29 de julho de 1942, a Diretoria da Associação, sob a presidência de Alfeu Faria de Aboim, autorizou a compra do prédio à Rua Senador Pompeu, 1098, de propriedade do Sr. Isaias Domingos da Silveira, pela importância de 100 contos de réis. No dia 12 de agosto, ocorreu a lavratura do contrato de compra e venda no Cartório Pergentino Maia.
RAINHA DA IMPRENSA
Foi da maior importância a reunião do dia 14 do mês de fevereiro de 1936, quando o presidente da ACI, Perboyre e Silva, conclamou os companheiros a intensificarem o trabalho que vinha sendo feito a favor da construção da “Casa do Jornalista”. Com esse objetivo, propôs a realização de uma “Semana da Imprensa” na Cidade da Criança (antigo Parque da Liberdade), sendo aprovado o período de 1º a 9 de maio, de cuja programação constaria, dentre outras atrações, um concurso para escolha da Rainha da Imprensa. Isto posto, em pleito bastante concorrido, foi eleita rainha a senhorita Hildegarda Paracampos Barreto, natural de Sobral, e princesas Dayse Salgado Flores e Heliete Studart da Fonseca. A coroação de S. M. foi marcada para a noite de 30 de maio daquele ano no Clube dos Diários, na Avenida João Pessoa. O jornal O Povo publicou (matéria de 1ª página) uma saudação assinada pelo escritor e poeta Martins d’Alvarez, que dizia: “A cidade está cheia de sangue azul. Até nós, os jornalistas, democratas por necessidade profissional, republicanos hereditários, eternos ruminantes da igualdade e liberdade, aderimos à monarquia. Elegemos nossa rainha. Bonita, que faz gosto. Alegre e inteligente. A rainha da imprensa Cearense”. A segunda Rainha eleita foi Margarida Holanda Xavier, de Fortaleza, coroada a 7 de agosto nos luxuosos salões do Ideal Clube. A terceira: Adelaide Nunes Paiva, carioca, cuja coroação realizou-se no Clube dos Diários a 12 de agosto de 1950. A quarta foi a paraense Climene Rayol Pinheiro, coroada na noite de 23 de maio de 1953, nos elegantes salões do Clube dos Diários (o liceista Zelito Magalhães compôs em sua homenagem o soneto “Formosura”, que foi publicado no seu jornalzinho “Voz Estudantil” e reproduzido pelo livro: ACI: 82 anos de lutas e glórias, que editou em 2007). A quinta Rainha foi a fortalezense Maria Mirza Alcântara, que declinou da coroação, com esta justificativa: “Quis apenas, de modo simbólico, colocar a minha pedra na construção da Casa dos Jornalistas”. Entrevistada em 2007 pelo autor desta reportagem, disse Mirza, no encerramento: “Aqui fica o registro da história desta Rainha sem coroa”. Sexta Rainha: Mirian Duarte Matos, fortalezense, foi coroada na noite de 27 de agosto de 1955, no Centro Massapeense. A sétima Rainha foi a acreana Nycia Fecury Pinheiro, cuja coroação deu-se na noite de 7 de dezembro de 1957, no Náutico Atlético Cearense. Oitava Rainha: Regina Lúcia Meyer, fortalezense. A coroação de S. M. ocorreu na noite de 18 de maio de 1960, no elegante Clube Líbano Brasileiro. Nona Rainha: Maria Luiza Chaves, fortalezense, tendo a festa de coroação da Rainha e das Princesas ocorrido na noite de 17 de fevereiro de 1962, no Clube Líbano Brasileiro. A décima Rainha da Imprensa foi a fortalezense Ariane Ancilon Cavalcante, tendo sua coroação ocorrido juntamente com as Princesas Regina Tavares e Ilia Freitas na “Festa das Flores”, promovida pelo Clube dos Diários, na noite de 30 de maio de 1964.A Câmara Municipal de Fortaleza aprovou, em agosto de 1948, o projeto que autorizava o prefeito Acrísio Moreira da Rocha a doar três casas de números 721 a 729, na Rua Floriano Peixoto para a construção do “Palácio da Imprensa”. Teve o apoio de todas as bancadas, cujos líderes eram os seguintes: Edmilson Barros de Oliveira (UDN), José Diogo da Silveira (PSD), Aldenor Nunes Freire (PTB) e José Júlio Cavalcante (PRP). Na tarde de 29 de setembro de 1950, jornalistas se reuniram para assistir a derrubada das três casas pela firma de José Amora Sá, vencedora da proposta de serviços.
PEDRA FUNDAMENTAL
Mediante aprovação da planta pelo prefeito Paulo Cabral de Araújo, no dia 13 de maio de 1952, foi lançada a pedra fundamental do edifício pelo presidente da entidade, jornalista Perboyre e Silva.
BANDEIRA SÍMBOLO
Na reunião de 15 de março de 1959, o sócio Antônio de Barros, intermediado pelo diretor Aquiles Arrais, sugeriu a instituição de uma bandeira para simbolizar a entidade. Compôs uma comissão para deliberar sobre o assunto composta por Clóvis Matos e Stênio Azevedo, bem como pelo diretor Aquiles Arrais. O assunto ficou pendente por algum tempo; somente no dia 29 de novembro de 1961, o diretor Mozart Aderaldo reavivou a ideia, sugerindo que as cores da bandeira fossem e preto e branco, tendo no centro uma pena e uma antena de rádio. Aprovada a proposta, Daniel Carneiro Job foi incumbido de providenciar o desenho e a confecção.
Em 1978, resolveu a Diretoria adotar uma nova bandeira, quando instituiu um concurso, com prêmio de 10 mil cruzeiros, para acadêmico na área de arquitetura. O concurso contou com a participação de 29 candidatos, saindo vitorioso o trabalho do acadêmico da UFC, Damião Lopes de Souza. Durante entrevista que concedeu à imprensa, naqueles dias, disse Damião: “O presente trabalho foi realizado sob inspiração do Barroco, movimento artístico dos fins do século XVI, que pregava contra o academismo rígido gerado pelo renascimento e divulgava as formas livres, o naturalismo, as cores vivas e os grandes contrastes da obra de arte” (O Povo, 26/10/1978)
OS PRESIDENTES DA ACI
1º – César Teles de Magalhães No ano de 1922, a profissão jornalística em Fortaleza era mal definida, quando fora criada a Associação de Imprensa, composta mais por proprietários e diretores de jornais que por redatores, noticiaristas e repórteres. Resolveu-se então fundar, em 14 de julho de 1925 uma outra entidade realmente de cunho profissional. Eleito seu presidente em 23 de agosto, César Teles Magalhães manteve a agremiação em atividade permanente. Permaneceu como presidente até 5 de setembro daquele ano.
2º – Gilberto Câmara
Exerceu o mandato de 23 de novembro de 1926, reelegendo-se em 1928.
3º – Aldo Prado
Exerceu temporariamente o mandato provisório, 1930.
4º – Teodoro Cabral
Assumiu a presidência em meses do ano de 1931, renunciou ao cargo em 30 de setembro de 1932 por ter que ir para o Rio de Janeiro.
5º – Kerginaldo Cavalcante de Albuquerque
Exerceu o mandato de 28 de novembro de 1932 a janeiro de 1933.
6º – João Perboyre e Silva
Presidiu a ACI nos períodos: 24 de abril de 1933 – 1 de janeiro de 1934 a 1 de janeiro de 1938 – 5 de setembro de 1947 – e até 10 de setembro de 1969.
7º – Alfeu Faria de Aboim
Presidiu de 3 de março de 1939 a 5 de setembro de 1944.
8° – Luís Cavalcante Sucupira
Presidiu de 5 de setembro de 1945 a 5 de setembro de 1946.
9º – Antonio Carlos Campos de Oliveira
Presidiu nos períodos de 10 de setembro de 1961 a 10 de setembro de 1975. 10º – J.C. Alencar Araripe
Presidente de 10 de setembro de 1977 a 10 de setembro de 1986 – 10 de setembro de 1992 a 10 de setembro de 1995.
11º – Antonio de Pádua Campos
Presidiu no período de 10 de setembro de 1986 a 10 de agosto de 1989.
12º – Ivonete Maia
Presidiu de 10 de setembro de 1989 a 10 de setembro de 1992.
13º – Stênio Azevedo.
Presidiu nos períodos: 10 de setembro de 1995 a 10 de setembro de 2001 – 12 de fevereiro de 2012 a 10 de setembro de 2013.
14° – Zelito Nunes Magalhães
Presidiu de 10 de setembro de 2004 a 10 de setembro de 2007.
15° – Paulo Tadeu
Eleito presidente para o mandato em 10 de setembro de 2007 a 20 de outubro de 2007, não chegou a assumir, motivado por complicações ocorridas durante as eleições referentes ao pleito. 16° – Nilton Almeida Presidiu de 14 de fevereiro 2012 a 10 de setembro de 2013.16° – Adísia Sá Presidiu no período de 10 de setembro de 2013 a 10 de setembro de 2016.17° – Salomão de Castro Presidiu nos períodos de 10 de setembro de 2016 a 10 de setembro de 2019, cujo mandato se estenderá até 14 de julho de 2022.
CRIAÇÃO DO ACI INFORMATIVO
Ao assumir a presidência da entidade jornalística, uma das primeiras providências de Zelito Magalhães foi a criação do periódico ACI Informativo, cujo número I circulou com a data – Outubro de 2004. Sem nenhuma intercalação, a última edição de número 35- veio a lume em agosto de 2007.
O periódico teve a colaboração da maioria dos membros diretores, trazendo assuntos não apenas administrativos, como também outros de interesse dos associados. Como não poderia deixar de ser, o Editorial escrito pelo presidente da ACI, constituía-se verdadeiro escudo em defesa dos assuntos pertinentes à classe jornalística.