Por que as micro e pequenas empresas devem optar pelo crowdlending para turbinar seus negócios?

Por Alan Martins (*)

Não é novidade dizer que o micro e pequeno empresário brasileiro enfrenta muitas dificuldades para manter suas empresas competitivas e lucrativas. Para além da burocracia materializada no excesso de legislação, o acesso ao crédito é um dos grandes problemas enfrentados pelo setor. Mas isso começa a mudar com as fintechs, mais especificamente com o chamado crowdlending – empréstimo voltado para micro e pequenas empresas que são financiadas diretamente por pessoas dispostas a investir, no formato conhecido como P2P Lending.

No Brasil, a maneira mais fácil de obter crédito para micro e pequenos empreendimentos é por meio de financiamentos junto às instituições financeiras. É aí que começam os entraves. Muitas destas empresas, com destaque para os bancos privados, nem sempre oferecem linhas de crédito com prazos maiores e taxas menores, de maneira a não comprometer o capital dos negócios. O crowdlending visa, justamente, suprir esta lacuna.

Criado no Reino Unido em 2005, o modelo se espalhou rapidamente pelo mundo após a crise financeira de 2008. Os investidores decidem o valor a emprestar e a taxa de juro do empréstimo. A empresa paga a dívida através de prestações mensais ao longo do período acordado.

A China e os Estados Unidos, em conjunto com o Reino Unido, são atualmente os países que possuem o maior volume de investidores e de empréstimos. Por exemplo, a Lending Club, maior plataforma dos Estados Unidos, tem hoje 2,4 milhões de clientes e 35 milhões de dólares investidos.

Mas como funciona?

Para quem ainda está pouco familiarizado com o crowdlending, o sistema envolve investidores (credores) emprestando pequenas somas de dinheiro diretamente a um grande número de tomadores de empréstimo. Para isso, as plataformas crowdlending executam funções semelhantes às realizadas pelos bancos, o que inclui avaliação de risco e subscrição, além de pagamentos e procedimentos de recuperação em caso de inadimplência. É um negócio vantajoso para quem quer diversificar sua carteira de investimentos e facilita muito a vida do micro e pequeno empresário que busca crédito para o seu empreendimento, mas nem sempre encontra propostas favoráveis e condizentes com sua realidade.

Esse movimento de busca por fintechs e o crowdlending vem se consolidando principalmente porque os grandes bancos nacionais têm evitado novas concessões para empresas de menor porte sob a justificativa de haver altos níveis de informalidade, o que impacta negativamente a análise de crédito. No Banco do Brasil, por exemplo, a carteira para pequenas e médias empresas caiu 28,5% em 12 meses até março e 10,6% até dezembro de 2017. Já no Itaú Unibanco, a carteira total para micro, pequenas e médias empresas caiu 2,6% em um trimestre e 8,6% na comparação anual. E no Bradesco, a queda nessa linha foi de 6,6% em 12 meses.

Em sentido oposto, o Portal Statista divulgou dados sobre o crowdlending no Brasil que demonstram mercado positivo, tanto para investidores como para os tomadores de crédito pela modalidade. Em 2018, o valor da transação no segmento Crowdlending (Business) totalizou US$ 29 milhões. A estimativa é que o valor da transação apresente uma taxa de crescimento anual (CAGR 2018-2023) de 10,0%, resultando no valor total de US$ 46,5 milhões até 2023. O financiamento médio por campanha neste mesmo segmento foi de US$ 6.936 em 2018. A partir de uma perspectiva de comparação global, é mostrado que o maior valor de transação é alcançado na China (US$ 126.828 milhões em 2018).

Para quem vale à pena?

Diante dos dados e estimativa, não há dúvidas de que o crowdlending é bom para o investidor e para quem busca crédito para fazer seu negócio crescer. Mas o que é preciso para tomar um empréstimo nesta modalidade? Antes de responder a esta pergunta, é bom entender um pouco sobre o perfil do investidor, que nesta relação tem o papel de credor. Segundo pesquisa realizada pela FundingKnight, no Reino Unido, os investidores crowdlending têm algumas características comuns. A primeira delas é que 82% dos entrevistados que investiram ou consideram investir por crowdlending eram líderes empresariais ou tinham aspirações de administrar seus próprios negócios. Eles estavam aplicando seu conhecimento de negócios ou experiência na decisão de investir. Além disso, a pesquisa mostrou que alguns investidores estavam aplicando seu dinheiro com o desejo de, não apenas aumentar rendimentos, mas contribuir para o crescimento de negócios locais. Por fim, 41% disseram que só investiria em algo administrado por uma pessoa em quem pudessem confiar.

Assim, ao solicitar financiamento, é interessante ter em mente que muitos de seus possíveis investidores provavelmente já estiveram em sua posição anteriormente ou administram seus próprios negócios. Eles definitivamente querem sentir que estão fazendo uma contribuição valiosa para um empreendimento lucrativo e estimulante. Você precisará, portanto, mostrar porque sua empresa merece esse investimento.

Ter um plano de negócio bem feito conta pontos, pois permite manter as finanças da empresa em dia, um dos quesitos de análise para conseguir o financiamento. Por isso, é imperativo garantir que seu plano de negócios seja envolvente, abrangente e bem pensado. Muitos investidores buscam obter mais informações sobre você e sua empresa em redes sociais como Facebook, Twitter e LinkedIn. É interessante que você tenha um site bem estruturado com informações que sejam consistentes com o que você envia junto com a proposta de crédito, bem como redes sociais que divulguem ações e resultados. Parecem detalhes, mas cuidados como estes podem fazer toda a diferença na hora de conquistar o financiamento que precisa.

O ano de 2019 vai ser extremamente importante para a nossa economia já que um novo governo assume a presidência. Estamos todos torcendo para que suas diretrizes possam impactar positivamente nossas vidas e nossos negócios. Para quem é micro e pequena empresa, enquanto o mercado não estiver confiante, o crédito pelas vias tradicionais deve seguir restrito. Felizmente, as fintechs e o crowdlending têm muito potencial e há o interesse do mercado em fazê-los crescer.

(*) Alan Martins é fundador e CTO da TuTu Digital, plataforma de empréstimo 100% online voltada para micro e pequenas empresas que são financiadas diretamente por pessoas dispostas a investir, no formato P2P Lending

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