Estas limitações, em parte, não são tão ruins, pois permitem que ele crie o que bem entenda, sem parâmetros controladores por vezes falhos que poderiam considerar de cara uma ideia muito lucrativa como “inviável”.

Inventor vive numa frequência diferente, é um observador do mundo, de seus padrões, das pessoas, do comportamento, de eventos pelos quais poucos se interessam. Consegue, às vezes, em número e qualidade melhores do que qualquer outro, bolar soluções que atendam a necessidades específicas para as quais não foi criado um produto específico.

Fórmula e-mc²

Com muito custo, se perseverar, o inventor conseguirá por conta própria ou com a ajuda de terceiros elaborar um protótipo mais próximo daquilo que concebeu, e tentar proteger os seus direitos de patente no instituto competente por meio de um pedido de patente de sua criação. Esse processo leva de alguns meses a mais de uma década!

Só que essa aptidão e todo esse esforço costumam, por si, não fazer sentido nenhum para o mercado, nem para um investidor-anjo, e muitas vezes, nem para um empreendedor/empresário.  Investidores dificilmente entram em projetos que ainda não estejam no mercado – caso da maior parte dos produtos criados por inventores independentes –, porque a chance de escalar, retomar o dinheiro investido e ainda ganhar com a venda geral do produto diminui.

O decepcionante é que não se trata aqui de dizer se a ideia do inventor é boa ou não, lucrativa ou não.

Trata-se de faltar informações e análises necessárias para chegar a conclusões que apontem para algo promissor ou não. Com isso, patentes valiosas – se encaixadas num bom modelo de negócios – ficam engavetadas.

E o empreendedor nessa história?

Já o empreendedor é visto como “gente de atitude”, que sabe fazer um bom plano de negócios, criar valor por meio de um produto ou serviço e ganhar um bom dinheiro devido à sua visão comercial. E o investidor seria a pessoa que pode entrar com grana e com o marketing, com a implementação comercial em si.

Quanto maior o risco que considerar estar assumindo, maior será o retorno a ser reivindicado por esse investidor na negociação. E ambos – no Brasil isso parece bem real – acabam olhando para o inventor como um bobalhão de jaleco trabalhando no porão de sua casa, apaixonado por ideias e esquisitices, um ser mais teórico e curioso. Não é bem assim. São competências distintas, mas úteis para o negócio a ser criado.

O inventor pode criar, desenvolver algo e patentear – ainda que não entenda bulhufas de negócios – e o empreendedor/investidor pode entrar com a testagem, validação, criação de modelos de negócios lucrativos e, finalmente, com a parte fabril e comercial livre de concorrência para lançar o invento no mercado. Com isso, todos ganham!