XX Conferência de Segurança Internacional do Forte discute inteligência artificial e autocracias no último dia do evento
Autoridades e palestrantes da XX Conferência do Forte (foto: Rafael Bacelar – Cine Poesias) DEBATES SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES NA ORDEM MUNDIAL REALIZADOS NO MAIOR FÓRUM DE SEGURANÇA INTERNACIONAL DA AMÉRICA LATINA FORAM ASSISTIDOS EM 30 PAÍSES DOS CINCO CONTINENTES |
Reflexões sobre as implicações da inteligência artificial na reorganização política internacional e sobre o impacto das autocracias neste equilíbrio de forças marcaram os debates da XX Conferência de Segurança Internacional do Forte na última sexta-feira, 2 de junho, no encerramento do evento. Realizada no Museu do Amanhã, no Rio de janeiro, a 20ª edição do maior fórum de segurança internacional da América Latina teve como tema “A Ordem Global em transformação: diante da Tempestade Perfeita”, uma referência a um conjunto de acontecimentos que vêm trazendo dificuldades às relações entre países e uma nova correlação de forças nos últimos anos. Iniciativa da Fundação Konrad Adenauer (KAS-Brasil) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) com apoio da Delegação da União Europeia no Brasil, o evento reúne autoridades, diplomatas, representantes das forças armadas e acadêmicos da América Latina e Europa para debater os desafios na busca por uma ordem internacional justa e pacífica. A edição de 2023, transmitida gratuitamente e em cinco línguas pela internet, teve mais de 2 mil inscritos de 30 países e, pela primeira vez, chegou aos cinco continentes. “Apesar das muitas interrogações, temos um consenso importante: diante da tempestade perfeita, a cooperação internacional e, em especial, a relação entre América Latina e Europa, tem um potencial enorme e relevante”, resumiu Anja Czymmeck, Diretora da KAS-Brasil, no encerramento do evento, logo após as falas de José Pio Borges, Presidente do CEBRI, e de Ignacio Ybáñez, Embaixador da Delegação da União Europeia. Inteligência Artificial e Rivalidades Sistêmicas na pauta do dia O primeiro painel da última sexta-feira, denominado “A Ordem Global em transformação na era da Inteligência Artificial: desafios e perspectivas”, teve como convidados Miriam Wimmer, Diretora da Autoridade Nacional de Proteção de Dados; Serap Güler, Deputada e Membro do Comitê de Defesa do Grupo Parlamentar da CDU/CSU no Parlamento Federal Alemão, e Juha Heikkilä, Conselheiro para Inteligência Artificial na Direção‑Geral das Redes de Comunicação, Conteúdos e Tecnologias da Comissão Europeia. Eles se mostraram convictos tanto sobre a necessidade de regulação do uso da inteligência artificial quanto sobre as dificuldades de colaboração multilateral nesse processo ainda incipiente dadas as diferentes perspectivas sobre o tema em cada país. “Já percebemos que é uma ilusão acreditar que conseguiremos garantir padrões únicos de regulação porque temos sistemas políticos diferentes. A declaração conjunta do G7 diz que a inteligência artificial deverá ser desenvolvida com base em valores democráticos, mas mesmo nas democracias há dificuldades de encontrar consensos sobre diversos assuntos. Por que seria diferente nesse caso? Talvez, devêssemos buscar padrões mínimos de responsabilidade tecnológica. Com uma boa regulação, poderemos aproveitar o que a inteligência artificial tem de melhor”, avaliou Serap Güler após breve exposição sobre o assunto feita pelo mediador Antônio Jorge Ramalho, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Segurança Internacional e Defesa Nacional. Já no provocativo painel “Rivalidade Sistêmica: autocracias versus democracias na segurança internacional?”, os palestrantes apresentaram diferentes visões sobre a abordagem política e diplomática frente à Rússia e à China em razão da guerra na Ucrânia. Participaram o ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero; a Vice-Presidente da Subcomissão para Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, Rasa Juknevičienė; e o Pesquisador Sênior do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Andrés Malamud. O professor da Universidade das Forças Armadas da Alemanha, Carlo Masala, foi o mediador dessa vez. Enquanto Rasa Juknevičienė defendeu o fornecimento de armas à Ucrânia, inclusive pelo Brasil, e disse que uma vitória russa seria uma ameaça às democracias, Rubens Ricupero ressaltou a importância de preservar o diálogo e de estabelecer uma convivência pacífica entre democracias e autocracias. “Essa dicotomia esconde disputas geopolíticas por poder que dificultam negociações multilaterais. Não haverá mais uma ordem global baseada em regras se houver uma 3ª Guerra Mundial”, disse o brasileiro. Multilateralidade e Guerra na Ucrânia foram temas do primeiro dia O primeiro dia da Conferência, na quinta-feira, 1 de junho, teve três painéis em que foram debatidos os papéis da América Latina e da Europa no processo de transformação global. A necessidade de reconstrução das organizações multilaterais para torná-las mais eficazes na mediação de conflitos e no combate a ameaças autocráticas foi defendida pelos quatro participantes do debate de abertura: o Secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Carlos Márcio Cozendey; o Ministro da Defesa do Uruguai, Javier García Duchini; o Secretário-Geral Adjunto e Diretor Político do Serviço Europeu de Ação Externa, Enrique Mora; e o Presidente do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha, Bruno Kahl. No segundo painel, denominado “Organizações internacionais diante da tempestade perfeita: o longo caminho para a paz global”, os desafios à OTAN e aos organismos multilaterais trazidos pela a invasão russa à Ucrânia foram discutidos por Belén Martínez Carbonell, Diretora-Gerente da Agenda Global e Relações Multilaterais do Serviço Europeu de Ação Externa; Benedetta Berti, Chefe de Planejamento de Políticas no Escritório do Secretário-Geral da OTAN; Amena Yassine, Assessora do Ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil. As negociações em torno do acordo entre União Europeia e Mercosul, bem como sua relevância no conturbado cenário atual, foram o assunto do painel “Economia Global e parcerias estratégias em tempos de guerra”, que recebeu Veronique Lorenzo, Chefe da Divisão de América do Sul do Serviço Europeu de Ação Externa; Henning Speck, Conselheiro de Segurança Nacional do Grupo Parlamentar da CDU/CSU no Parlamento Federal Alemão. 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Sobre a Fundação Konrad Adenauer: A Fundação Konrad Adenauer (KAS) é uma fundação política alemã independente e sem fins lucrativos que atua nacional e internacionalmente em prol da paz, justiça e liberdade. Nossa missão principal é a defesa da democracia e o fomento da Economia Social de Mercado, com base nos valores da democracia cristã. Além disso, buscamos fortalecer as relações transatlânticas através da cooperação internacional e, para isso, possuímos mais de 107 representações em todo o mundo. Orientamos nosso trabalho em temas chaves como a Inovação, Representatividade e Participação, e Segurança. Atuamos no Brasil desde 1969 e concentramos as nossas atividades em quatro eixos temáticos: Educação Política, promovendo a participação dos cidadãos na política; Estado de Direito e Políticas Públicas, que forma multiplicadores sobre temas como Direitos Humanos e Democracia; Desenvolvimento Sustentável e Descentralização, onde promovemos encontros com lideranças locais e representantes políticos para promover a boa governança e a sustentabilidade; e Desafios Globais, onde estimulamos as relações não só entre a Europa e a América Latina, mas também entre Brasil e Alemanha, sob os prismas da cooperação e das relações internacionais. Sobre o Centro Brasileiro de Relações Internacionais: Fundado há 25 anos pelo Embaixador Luiz Felipe Lampreia, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) é o principal centro de pensamento e promoção da agenda internacional do país. A instituição prioriza a interdisciplinaridade, a pluralidade e a independência. O Conselho Curador e demais Conselhos do CEBRI são formados por renomados diplomatas, intelectuais e empresários. Estão associadas ao CEBRI cerca de 70 empresas e instituições de diversos segmentos. Os 14 núcleos de trabalho geram debates de alto nível, conteúdo de qualidade e subsídios à formulação de políticas públicas, em temas que impactam a agenda internacional do país. Liderados por especialistas e autoridades reconhecidas, os núcleos têm o objetivo de contribuir para a construção de uma agenda de desenvolvimento, formulação de políticas públicas e inserção internacional para o Brasil. Sobre a União Europeia: A Delegação da União Europeia no Brasil foi criada em 1984. É uma missão diplomática de pleno direito e trabalha em estreita colaboração com as missões diplomáticas dos Estados-Membros da UE no Brasil. A Delegação da UE promove as políticas da UE no Brasil, o que inclui apresentar e explicar as ações da UE ao governo brasileiro, autoridades, sociedade civil e público em geral. A Delegação da UE promove ainda a implementação da Parceria Estratégica UE-Brasil e trabalha para fortalecer as relações políticas e econômicas/comerciais com nossos parceiros brasileiros. A Delegação da UE também realiza um serviço ativo de diplomacia pública e informação, com o objetivo de informar os brasileiros sobre os desenvolvimentos atuais na União Europeia e aumentar a conscientização sobre os interesses e preocupações da UE. Os amplos programas de assistência e cooperação setorial da UE no Brasil abrangem áreas como meio ambiente, mudanças climáticas, direitos humanos, ciência e tecnologia e pesquisa e inovação. |