Violência no Sudão do Sul provoca dezenas de mortes, incluindo um membro da equipe de MSF

Organização condena ataques indiscriminados de grupos armados no condado de Leer

Uma onda de violência que eclodiu em 4 de abril de 2022 no Condado de Leer, no Sudão do Sul, resultou na morte de dezenas de civis, incluindo um membro da equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF). Este é o segundo membro da equipe de MSF a ser morto em Leer devido à extrema violência desde dezembro de 2021.

Peter Mathor Tap trabalhava com MSF desde 2007, inicialmente como Supervisor Sênior de Departamento no antigo hospital de MSF em Leer que foi destruído duas vezes durante a guerra civil, uma vez em 2014 e novamente em 2015. Mais recentemente, atuava como prestador de cuidados de enfermagem em uma das instalações de Cuidados de Saúde Comunitário de MSF. Durante combates ocorridos em 10 de abril, Peter foi baleado e morto enquanto estava de folga. Quando criança, Peter teve poliomielite, o que o deixou com uma deficiência e exigia que ele usasse uma bengala para conseguir andar. Isso afetou sua capacidade de fugir quando os agressores armados chegaram à área onde ele morava.

“Estamos chocados e profundamente tristes com a trágica morte de nosso colega Peter. Oferecemos nossas mais sinceras condolências a sua família e amigos”, disse Federica Franco, coordenadora-geral de MSF para o Sudão do Sul. “Condenamos veementemente a violência indiscriminada perpetrada por grupos armados que mataram e feriram muitos civis inocentes em Leer, incluindo os mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com deficiência”.

Desde o início dos últimos combates, a clínica de MSF na cidade de Leer recebeu mais de 30 pessoas com ferimentos à bala, bem como várias outras vítimas de traumas, incluindo sobreviventes de violência sexual. Com a insegurança que resultou na retirada de várias organizações humanitárias de Leer, a clínica de MSF permaneceu como uma das poucas instalações de saúde em pleno funcionamento em todo o condado e a única instalação que oferece cuidados de emergência avançados.

De acordo com avaliações iniciais dos incidentes, houve destruição em larga escala, principalmente em Adok, Pilleny, Thonyor e Touchria, onde inúmeras pessoas foram mortas, casas foram incendiadas e propriedades saqueadas. Como resultado, milhares de pessoas foram deslocadas à força, incluindo a equipe de MSF. Os deslocados estão com muito medo de voltar para casa, e como muitos deles perderam todos os seus pertences, eles têm pouco a que retornar. Muitas pessoas procuraram refúgio nos pântanos, onde enfrentam o risco de contrair doenças transmitidas pela água, como cólera e diarreia, assim como malária.

“Eles [agressores] estavam atirando e todos correram para a região do pântano porque estávamos fugindo para salvar nossas vidas. Pessoas foram mortas, incluindo mães, jovens e crianças pequenas”, afirmou Nyadeng*, uma idosa residente em Adok. “Quando saímos, descobrimos que a área estava queimada, eles pegaram as cabras, o gado e também saquearam [a propriedade]”.

Estes são tempos desafiadores para a população de Leer, que já experimentou um ciclo interminável de violência e múltiplos deslocamentos. Leer foi um dos condados mais afetados durante a guerra civil de 2013 a 2018, onde os combates brutais afetaram fortemente a comunidade. A onda mais recente de ataques nos últimos meses levou a mais mortes, destruição e deslocamentos forçados, bem como dificultou o acesso à assistência, agravando uma situação humanitária já terrível.

“Estivemos nos escondendo no mato por cinco dias. As pessoas estão ficando lá fora sem abrigo. Além disso, eles estão sofrendo devido à fome porque não têm comida”, disse John*, um membro local da equipe de MSF que está entre as pessoas deslocadas em Leer. “A situação é muito terrível. As pessoas aqui precisam de mais apoio”.

A violência também impediu a prestação de serviços médicos vitais às comunidades afetadas. Das seis instalações de saúde comunitária que MSF opera no condado de Leer, três não funcionam, pois uma foi parcialmente destruída e outras duas foram saqueadas durante os últimos ataques. Apesar disso, MSF continua a garantir que as pessoas possam ter acesso aos cuidados médicos extremamente necessários. A clínica de MSF em Leer e os três centros de saúde restantes continuam a operar. MSF também começou a organizar clínicas móveis nos principais locais de deslocamento.

O nível de atrocidades testemunhadas, o medo persistente de ser atacado e a destruição generalizada de instalações médicas estão afetando gravemente o acesso e busca por cuidados de saúde, visto que as pessoas estão relutantes em viajar para procurar tratamento”, disse Federica Franco. “Milhares de pessoas deslocadas precisam urgentemente de ajuda humanitária e assistência médica. Apelamos a todos os grupos armados para que respeitem o direito humanitário internacional e deixem imediatamente de visar civis e instalações de saúde”.

*Nomes alterados para proteção.

MSF começou a trabalhar em Leer, no estado de Unity, em 1989, em resposta a um sério surto de calazar entre as populações deslocadas. O tratamento da tuberculose foi adicionado aos programas da organização em 1993. Após a eclosão da guerra civil, o hospital de MSF em Leer foi saqueado, queimado e completamente destruído em 2014. Atualmente, MSF continua sendo uma das poucas organizações que prestam assistência médica à população de Leer. MSF está fornecendo a populações deslocadas e afetadas pela violência cuidados básicos de saúde descentralizados, serviços de saúde primários na cidade de Leer, incluindo atendimento de emergência, cuidados materno-infantis e assistência a sobreviventes de violência sexual e de gênero, bem como cuidados de saúde baseados na comunidade para locais de difícil acesso.

 

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