Um Breve Ensaio sobre Leonor
(Por Reinaldo Oliveira)
O que devo dizer de Leonor, a obra? Como introduzi-la ao leitor, de tão curta que é? Em tão parcas palavras muito se disse dela. Dela, quem? A obra ou o personagem Leonor? Descubra. Ela, Leonor, o personagem – misteriosa, singela, adolescente, que amou e foi amada, que amadureceu o querido primo; sua mãe e Hermengarda.
O ambiente poético e selvagem que Edgar Allan Poe proporciona ao leitor me leva a crer numa paixão desenfreada entre Leonor e seu primo que, suponho, pelo falecimento de sua mãe, fora criado por sua tia, a mãe de Leonor. E ali entre rio de mar verde e pétreo e rio de águas tão claras, mas não tanto quanto os olhos de Leonor, que de tão claros absorviam os olhos do primo. E o seu coração.
E o que dizer do lugar? Um aprazível ambiente em que jazem elevadíssimas montanhas com chãos relvados e flores de todas as estirpes daquele lugar cujos odores envolventes aqueceram os corpos nus de Leonor e seu persistente primo no chão relvado das montanhas, em tantas noites quantos finais de tarde permitiam.
Foi assim, até que um dia Leonor se foi, e não para sempre. Mas no seu leito de partida, vejo o seu primo, contendo as lágrimas, não negar o que o coração dela quisera ouvir. Que nunca a esqueceria. Em troca, ela lhe diz que quando ele percebesse os ventos eróticos das tardes montanhosas, saberia que ali estava sua querida Leonor. E por fim, versejou, chamando-a de rosa, numa lembrança aos encontros amorosos de final de tarde, antes que aqueles lindos olhos se fossem:
Eternos anos de amor ele servia
Rosa, apenas a ela, loira bela;
Mas não servia a si, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Ao final de algum tempo, pedi que ele, o eterno apaixonado, se mudasse destas plagas para – digamos assim – lugar com outras selvagerias, estas não tão nobres; porém, recheadas de gente, a cidade.
Foi ali que ele se apaixonara de novo. Por uma tal Hermengarda, de cabelos negros e, às vezes, loiros, por força dos poderes da inovação. Mas ele precisava da aprovação de Leonor a quem jurara fidelidade por eternos anos. E Leonor, de algum lugar, se viu obrigada a vir, em forma de brisa, aquiescer tão alucinante e poética paixão que brotava de ambos os corações. E que já era amor, de tão rápido e de tão principiante. Dele, o seu eterno e amado primo; e dela, que também vinha de outras paragens, fugindo de relacionamento lógico e arquitetado, porém vazio…