Totem inteligente de entrega de lixo eletrônico ajuda a reduzir a poluição em cidades brasileiras
Projeto de Ponto de Entrega Voluntária (PEV) apoiado pela EMBRAPII promove descarte correto de material eletroeletrônico, alinhado à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) apoiou o desenvolvimento de uma tecnologia arrojada, que traz mais eficiência e segurança ao serviço de coleta de lixo eletrônico no país: um Ponto de Entrega Voluntária (PEV) inteligente. A máquina inovadora, desenvolvida pelos pesquisadores da Unidade EMBRAPII Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em parceria com a startup Weee.do, permite o monitoramento remoto da quantidade de resíduos eletrônicos coletada, por ser capaz de medir o peso e o volume dos materiais descartados.
Atualmente, existe um protótipo em fase de testes, para que possa ser replicável em escala comercial no futuro, com a expectativa de atender à crescente demanda de logística reversa do país. A solução, chamada de Smart Pev.do, contribui para que as empresas se adequem à Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada em 2010, e que integra o poder público, iniciativa privada e sociedade civil, estabelecendo diretrizes sobre o que fazer com os resíduos sólidos (materiais que podem ser reciclados) e os rejeitos (aquilo que não pode ser reaproveitado).
Conheça a tecnologia
A ideia do Smart Pev.do surgiu a partir de uma demanda da própria Weee.do, que já atuava no mercado de reciclagem em Santa Catarina com a oferta de PEVs tradicionais. No passado, a equipe tinha muita dificuldade em planejar a coleta, já que não era possível saber previamente quais pontos estavam cheios, o que tornava o processo mais demorado e custoso, como explica Mark Jacobowitz, diretor-executivo da startup. Foi a partir disso que surgiu a ideia de criar um PEV inteligente. O software desenvolvido para o projeto está conectado à nuvem e rastreia as informações dos descartes, o que facilita o acompanhamento da capacidade de “armazenagem” disponível nos pontos de coleta.
Um dos diferenciais do equipamento é ter um sistema de pesagem que permite identificar o momento em que for atingida sua capacidade máxima de armazenagem. “Assim, a Weee.do vai poder decidir se manda um caminhão, um carro ou uma caminhonete, ou um ou dois funcionários”, explicou o pesquisador da Unidade EMBRAPII Valdir Noll, que coordenou a pesquisa. No totem de coleta inteligente, que possui um painel interativo programado para facilitar o processo de doação, é possível descartar desde pilhas, cabos e fios em geral, peças de computadores e celulares, até um televisor de 40 polegadas, por exemplo.
O projeto da startup, além de inovador, também é mais seguro, se comparado com o PEV tradicional não inteligente, já que os resíduos do Smart Pev.do ficam em um espaço fechado. A porta da máquina só é aberta durante o momento da doação e na hora de recolhimento dos descartes. O material coletado por meio do projeto é transportado e enviado para triagem. Após essa etapa, é realizado um processamento para que possa ser reciclado. O sistema garante ainda o descarte correto de materiais considerados nocivos se descartados de forma comum, como pilhas, baterias, etc.
Jacobowitz conta que o apoio da EMBRAPII e do grupo de pesquisa credenciado foi essencial para superar os desafios e provar que a solução era tecnicamente viável. “A EMBRAPII ajudou fazendo esse processo de facilitação, com aporte financeiro, o que é muito importante para ajudar uma pequena empresa, ainda mais em um mercado emergente e novo. E tivemos o polo da EMBRAPII no IFSC, que entrou com os professores e a capacidade técnica de nos apoiar durante aproximadamente dois anos. Tudo isso foi fundamental para fazer a gente levar o projeto para frente”, ressaltou.
Lixo eletrônico é problema no mundo
O CEO da Weee.do afirma que, no futuro, o projeto pretende aumentar a taxa de recolhimento de materiais nos PEVs inteligentes. De acordo com o relatório Global E-waste Monitor 2020 da ONU, apenas 17,4% do lixo eletrônico do mundo foi coletado e reciclado em 2019. O documento afirma que esse tipo de material é o fluxo de lixo doméstico que mais cresce no mundo, devido ao crescente consumo de equipamentos eletroeletrônicos, que apresentam ciclos de vida curtos e poucas opções de reparo.
Em relatório apresentado em 2021 pela Green Eletron, gestora para logística reversa de equipamentos eletroeletrônicos, o Brasil descartou em 2019 mais de 2 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos e menos de 3% desse volume foi reciclado.