Tempo de amor e flor para quem sabe salvaguardar afetos
Com o tema “Encontro Mestres do Mundo, tempo de amor e flor para quem sabe salvaguardar afetos” procuramos evidenciar as formas de vidas embutidas nas diversas expressões culturais que se projetam a partir dos Tesouros Vivos da Cultura e que vai muito além do saber/fazer que se deseja salvaguardar e reconhecer. Buscamos promover não apenas a valorização de Mestras e Mestres e seus fazeres, mas sim, possibilitar por meio do contato com estas/estes a singeleza de um mundo necessário hoje, de uma vida amorosa e afetuosa que nos abrace junto à mãe natureza, promotora de toda a vida e possibilitadora da permanência da vida humana. Além de ser uma oportunidade ímpar de vivenciar a diversidade cultural tradicional, esse encontro permite o compartilhar e o sentir de vidas humanas que se doam por meio desse contato com os guardiões das memórias ancestrais do nosso e de muitos povos irmãos.
Muito além do saber, do rito e da brincadeira está/estão formas de vidas compartilhadas, vidas que se reinventam, que resistem com o que tem. Produzem a partir do que a natureza lhes possibilita ou refazem o que precisam com o que está a mão. Numa rede de cooperação mútua e solidária vão tecendo sonhos e construindo realidades mais amorosas e colaborativas. A forma como entendem o mundo, sua cosmovisão está comumente interligada à natureza, a terra mãe que lhe dá abrigo. Independente de estar em territórios do campo, no urbano ou em zonas periféricas seu entendimento é que tudo é aproveitável, pois para estes é considerado pecado o desperdício de objetos, artefatos, comida e vida. Assim vão criando, produzindo saberes, fazeres traçando tramas de receber e dar para aproveitar o que o cosmos lhe doa de graça.
Nossa proposta prioriza sim os Tesouros Vivos, suas expressões culturais, mas principalmente deseja fortalecer a compreensão destes como mulheres/homens sementes de memórias vivas, de lógicas melhores que priorizam amores e afetos que necessitam ser alimentados, plantados no coração humano e principalmente de nossas crianças que poderão dar prosseguimento. Nosso símbolo será a flor semente/semente flor, especialmente a flor do jenipapo fazendo uma ligação com o povo Jenipapo-Kanindé, cuja aldeia está em Aquiraz, território do evento.
Nossos lugares serão marcados, sinalizados por plantas, flores e rosas brasileiras demarcando espaços de amor em saberes que serão compartilhados em momentos sementes como: Cortejos, Acolhida aos Mestres e Mestras, Feira de artesanato e gastronomia familiar; Valores do meu lugar – ações de povo semente; Programação artística noturna (transmissão de saberes em aula/show/espetáculo); Rodas de trocas – terreiros de afetos; Caminhada nativa sob a flor do Jenipapo (transmissão de saberes do povo Jenipapo Kanindé, Tremembé, Tapeba e Pankararu na Lagoa da Encantada); Seminário Interdisciplinar de Patrimônio Imaterial; Residência uma experiência entre afetos e arte; Fins de tarde no Museu Sacro São José de Ribamar; Roda Semente (Transmissão de saber para gente miúda); Oficina o saber dos encantados e Oficina a Nau Perdida em busca de afetos – memórias vivas do vivido.
O patrimônio Intangível, aos bens imateriais exige uma relação de conhecimento e uso contínuo por parte da comunidade para sua salvaguarda. Ao pensar na Tradição como repasse de uma geração a outra, podemos associar a salvaguarda do bem intangível como uma metáfora ao ciclo de vida da planta, pois esta começa com uma semente que vai germinar e produzir uma “muda” ainda pequena e imatura, mas que necessita ser regada, cuidada, zelada para crescer até a idade adulta, trazer suas flores e depois seus frutos que dão suas sementes e que após ser plantada de novo volta a um novo começo, e eis que a vida se repete de forma nova inovada no contexto do tempo que lhe dão.
Assim é a tradição, o repasse do saber que como semente é lançada e a partir de quem dela cuida se transforma em árvore/flor/fruto/semente em um desenrolar infinito. Essa é a nossa proposta, que esse evento (que não é o único, sabemos) possa ser essa semente salvaguarda plantada no coração de cada um, que isso possa povoar suas casas, suas vidas, no uso do saber com seus filhos, familiares e amigos, pois somente isso garante a salvaguarda do Patrimônio Intangível. O Registro serve para guardar a memória e tornar isso história, no entanto, somente o USO no seio da comunidade promove a salvaguarda do bem intangível!
O evento Mestres do Mundo é semente em uso lançada a cada ano, como um fruto que se dá a todos, na esperança de ao saboreá-lo e conhecer tudo o que nele está contido, seja possível fazer geminar em cada vida que deste se aproxima, os saberes ali compartilhados, vividos, sentidos, compreendidos. Que os saberes e seus Mestres possam se espalhar numa caminhada de amor e afeto entre todos para possibilitar o sentido na vida do que realmente vale a pena “pois quem vive cirandando o amor de novo sente” e o mundo hoje mais que tudo precisa de amor, de sementes de afetos a partir destes simples saberes.
Venha viver tudo isso conosco!
Lourdes Macena
Profa. Dra. IFCE
Curadora