Tecnologia na contabilidade com Adão Lopes
Tecnologia na contabilidade com Adão Lopes
A contabilidade mudou muito nos últimos anos. A inserção de novas tecnologias nesse mercado alterou o dia-a-dia, processos, profissões, carreiras e o relacionamento das empresas com sua rotina fiscal. Compreender como essa mudança começou e como ela se desenvolve é essencial para profissionais da área e empresas que buscam um melhor atendimento. É preciso estar ciente do que hoje é possível, principalmente se o objetivo é o de aproveitar as oportunidades escondidas nesse mercado. Carreiras novas estão se desenvolvendo e dando resultado.
Para discutir um assunto e traçar um retrato desse cenário o Jornal do Comércio do Ceará entrevista o Mestre em Tecnologia e fundador da Varitus Brasil, empresa especializada em tecnologia para gestão fiscal, Adão Lopes. A entrevista você confere abaixo:
JCCE – Quando a tecnologia começou a mudar, efetivamente, as rotinas de escritórios de contabilidade?
A Lopes – Sabemos que a tecnologia da informação e comunicação vem mudando todas as áreas de conhecimento, bem como seus processos. Antes da década de 1980 a ela já trazia benefícios operacionais de escrituração fiscal, porém os custos eram fora de alcance para a maioria das empresas.
Nessa época, tecnologia era comum, dentro dos escritórios de contabilidade, apenas para digitar folha de pagamento e livros fiscais. Isso ocorria nas empresas maiores, porém a pequena empresa ainda tinha tudo feito manualmente. Com a abertura de mercado e a privatização das telecomunicações, os computadores e a comunicação tornaram-se mais acessíveis para todas as empresas inclusive os escritórios menores de contabilidade.
Apesar disso, os softwares ainda eram caros, já que a mão de obra qualificada ainda estava restrita aos grandes centros. Foi só em tempos mais recentes em que adquirimos equipamentos, softwares e profissionais bem mais próximos das empresas menores, portanto a adoção de novas tecnologias tornou-se essencial no ganho de produtividade e competitividade. A mudança é recente e ainda em andamento.
JCCE – As mudanças foram bem aceitas logo de início, ou isso gerou algum conflito, tanto de gerações, quanto por receio de perda de emprego?
A Lopes – Toda adoção de nova tecnologia traz desconforto. A própria mudança traz desconforto. Ela atinge a capacitação e função do profissional dentro das empresas. O antigo guardador de livros e digitador, quase que extintos hoje, tornaram-se consultores, auditores e analistas de negócios, muito mais próximo da inteligência humana, deixando de lado, cada dia mais, processos e tarefas repetitivas.
As empresas procuram automatizar tarefas rotineiras, e empregar pessoas que tenham condição de mudar o negócio, o processo, o sistema, alterando o cenário. É por isso que cada vez mais se fala de novas possibilidades, como por exemplo, a IoT (Internet ofThings).
JCCE – Os contadores, hoje, são formados para lidar com essas mudanças?
A Lopes – Sim, já há algumas décadas a formação deste profissional vem mudando, só que isso não é exclusivo do contador. Tenho exemplos de amigos advogados que somente tiveram durante toda sua vida profissional uma única máquina de escrever, e tiveram que evoluir em sua profissão, incluindo muito mais do que novas tecnologias, mas também novos conhecimentos. Hoje um advogado tem de entender de certificação digital entre outros assuntos tecnológicos, só para citar um exemplo.
Para o contador a mudança foi ainda mais drástica, dele é exigido que toda sua escrituração fiscal seja digital. Estamos na fase de implantação e mudança de cultura, em breve a maioria dos profissionais vão dizer: “não sei como conseguíamos trabalhar daquele jeito no passado”, assim como vemos jovens profissionais dizerem que não sabem como conseguíamos viajar sem um GPS atualizado online e conectado em uma rede. Toda mudança está refletida nos cursos de formação de hoje, e está se enraizando aos poucos.
JCCE – E o mercado de trabalho, como está?
A Lopes – O mercado de trabalho para o administrador e contador é crescente, muito mais pensando em um consultor e auditor, do que em pessoas de operação. Trabalhos operacionais serão feitos por jovens e processos automatizados, profissionais experientes faram o trabalho consultivo e de auditoria inteligente.
JCCE – É possível lidar com a contabilidade de um modo “clássico”, ou analógico, hoje em dia? Por quê?
A Lopes – Impossível! As exigências são digitais, os documentos são digitais, a escrituração é digital, a abertura de uma empresa e a maioria de certidões já são acessadas através de um certificado digital. Sem isso a empresa fica ilegal.
JCCE – E quanto ao ROI? O quanto disso traz benefício para a empresa?
A Lopes – Tecnologia só deve ser implementada quando gera ROI (ReturnonInvestment), isso em todas as áreas. Alguns podem até dizer que a implantação da tecnologia na contabilidade vem sendo adotada por uma exigência governamental e somente traz custos e burocracia, no meu entendimento não.
Acredito que os processos serão melhorados e se tornarão mais produtivos. Entendo que toda mudança exige esforço financeiro e cultural. Porém há ganho em mais segurança para os dados vitais do negócio, redução de custos, melhoria de processo. Tudo isso traz retorno de investimentos.
JCCE – O que teve de mudar na mente do empresário e contador que encarou essa época transitória?
A Lopes – Que a mudança vai beneficiar a todos, desde o meio ambiente que vai receber menos resíduos, nos profissionais que serão mais estratégicos e menos operacionais e nas empresas que serão mais produtivas. Também sabemos que os que não investirem em treinamento e na mudança de tecnologia desaparecerão através de uma seleção natural.
JCCE – Há algo que efetivamente piorou com essas mudanças?
A Lopes – Sim a exigibilidade de investimento imediato em novos equipamentos, softwares, treinamento, profissionais, etc. Se podemos apontar algo como um fato ruim é isso. As coisas foram rápidas e talvez o momento de recessão e a exigibilidade de investimento seja o fator ruim, muito pela falta de tempo financeiro para investimento.
JCCE – O que veio como vantagem? Enumere algumas.
A Lopes – Capacitação continua das pessoas.
Agilidade dos processo.
Menos erros humanos.
Barateamento dos equipamentos e software pelo auto volume de adoção.
Facilidade de acesso as tecnologias.
JCCE – O que você acredita que vai mudar nos próximos anos? Qual o caminho da contabilidade?
A Lopes – Teremos muito mais mudanças acontecendo e já vemos sinais de movimentação. Alguns exemplos são o fim dos antigos EDIs, caros e burocráticos, as integrações entre sistemas através de webservices com muita facilidade e em auto nível, e Notas Fiscais de Serviços Eletrônicas se unificando para todo Brasil.
O mais importante é que estamos no caminho certo de ter uma cultura de inovação arraigada nos escritórios contábeis. Isso traz ganho de produtividade e competitividade. Acredito que a nova geração já começa sua inserção no mercado pensando diferente. As empresas já nascem com maior ganho de produtividade e recursos, integração e menos trabalhos manuais. Assim há menos erros e mais satisfação para o cliente final.