Tecnologia e Educação – qual é a distância que as separa?
Milena Fiuza*
Atualmente, percebemos a presença intensa de elementos tecnológicos que possibilitam um novo pensar, novos caminhos para construção do conhecimento. Tal constatação provoca muitos questionamentos por parte de vários segmentos sociais, inclusive dos professores, que vivem na constante oscilação entre dois pólos – de um lado a desconfiança quanto à legitimidade do sucesso tecnológico educacional e, de outro, expectativas exageradas que fogem à realidade, uma vez que se acredita que estes elementos tecnológicos, por si só, possam resolver os problemas do sistema educativo.
O debate educacional quanto aos impactos das mídias carece de um referencial crítico, pois tanto uma concepção fatalista como a utópica afastam a análise das tecnologias educativas de seu contexto sociocultural. Um novo projeto tecnológico necessita atender à realidade na qual estamos inseridos, não apenas canalizar esforços em inovações pedagógicas que, muitas vezes, traduzem-se na mera incorporação de “arranjos tecnológicos”.
As diversas e, muitas vezes, superficiais discussões sobre o uso das tecnologias no âmbito educacional, sem dúvida, acontecem na tentativa de superar salas de aula cada vez menos atrativas e alunos cada vez mais desinteressados de seu modelo clássico tradicional, baseado na homogeneização: tudo para todos ao mesmo tempo – mesma aula, mesma data da prova, mesmo conteúdo cobrado – parece evidente que a escola como lugar “fechado” e exclusivo de aprendizagem tem seus dias contados.
Até alguns anos atrás, estudar diariamente a milhares de quilômetros da escola, mantendo contato permanente com professores e colegas, parecia uma tarefa impossível de ser executada. Hoje, em um mundo conectado, a educação a distância (EAD) passou a fazer parte da vida das pessoas, aliando novas teorias sobre como se aprende por meio de equipamentos que permitem reduzir distâncias.
Renovada pelas novas tecnologias da informação e das comunicações, a EAD, além de ampliar e democratizar o acesso aos diferentes níveis de ensino, enriquece a educação presencial, oferece às empresas e aos profissionais meios de atualizar o conhecimento e estende os espaços educacionais, proporcionando autonomia ao cidadão para aprender continuamente, já que o ambiente virtual proporciona espaço para interagir, questionar e discutir.
Entretanto, esse novo cenário desperta uma série de questionamentos. Pode-se falar de fato em educação a distância ou apenas em ensino a distância? A metodologia utilizada para ensinar via internet está sendo adequada a esse novo meio? O ensino a distância poderá substituir a escola tal como a conhecemos hoje? Entre as diversas indagações, encontramos duas questões que certamente despertam muitas discussões: o papel do professor e o processo avaliativo.
Os educadores precisam apropriar-se dos recursos digitais e explorar suas potencialidades. Se conseguirem libertar-se do receio de criar e admitirem suas limitações, essa apropriação pode ser rápida e facilitada, já que os alunos serão os melhores parceiros e colaboradores de todo esse processo de mudança. Na EAD, a ruptura consiste em que sejam alcançados processos cognitivos múltiplos e diferenciados para facilitar os entendimentos complexos.
A grande aventura que se vive nas salas de aula é dotar a informação de sentido, reconhecer sua importância, transferir modos de pensar de um campo a outro, visando a expandir os conhecimentos e permitir atuar de forma cada vez mais inteligente. E com base neste referencial que a avaliação precisa ser elaborada.
A avaliação no contexto tradicional é restrita ao final do processo, caracterizando-se por ser massificadora, excludente, instrumento de pressão e controle para o professor. Dentro da EAD, existem alternativas para essa tensão e angústia causadas pelo procedimento avaliativo: a avaliação ocorre ao longo dos processos; é diversificada, já que há muitos ambientes de interação; é mais centrada na pessoa e na prática de autoavaliação.
Essa maior “liberdade” nos processos de avaliação também resulta em inquietações. A legitimidade da EAD deverá ser conquistada por meio de estratégias inteligentes, que envolverão atividades online, acompanhamento personalizado e diferentes objetivos a serem alcançados, que não mais a assimilação e memorização de conteúdos. Com a EAD, são vencidos muitos fatores de exclusão educacional.
No entanto, é inegável que, mesmo vencidas as distâncias que nos afastam do conhecimento, ainda existem alguns obstáculos lançados pelas novas mídias, como o risco de ampliarmos o abismo entre as classes sociais. Precisamos, portanto, no futuro, de uma EAD pensada como parte das políticas instauradas a fim de equilibrar as desigualdades, e não como um instrumento para aprofundá-las. Eis o desafio.
*Milena Kendrick Fiuza é gerente pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.