Startups enfrentam melhor a crise do coronavírus que pequenos negócios tradicionais
Pesquisa do Sebrae, em parceria com Finep, também mostra que 13% desses pequenos negócios inovadores tiveram aumento de faturamento apesar da pandemia
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae mostrou que o nível de inovação dos pequenos negócios fez toda diferença na dimensão do impacto econômico causado pela pandemia do novo coronavírus. Enquanto 87% dos pequenos negócios convencionais registraram queda de faturamento durante a crise, as perdas foram menos significativas entre as empresas essencialmente inovadoras (startups), onde 68% dos negócios verificaram perda de receita. A mesma pesquisa apontou que 13% dos pequenos negócios inovadores conseguiram aumentar o faturamento apesar da crise. O resultado é bem superior ao percentual encontrado no universo geral das MPE, onde apenas 4% das empresas tiveram elevação da receita.
Os dados fazem parte da pesquisa online realizada pelo Sebrae, em parceria com a Finep, entre os dias 28 de maio e 03 de junho, com a participação de 833 startups. O levantamento mostrou ainda que, apesar dos impactos negativos nos negócios, as empresas inovadoras têm maior capacidade de se reinventar e por isso, 76% delas não demitiram funcionários, enquanto 36% das MPE tradicionais tiveram que demitir.
Outro diferencial positivo das startups identificado na pesquisa foi que elas também geraram mais empregos (16% delas contrataram funcionários). Segundo o coordenador estadual de startups do Sebrae/PR, Rafael Tortato, a pesquisa mostra que a inovação é um elemento essencial para que as empresas superem a crise e as startups trazem isso em seu DNA.
“As startups estão mais adaptadas aos processos digitais e com conhecimento prévio em inovação. Isso traz mais facilidade para oferecer produtos e serviços à distância e no atendimento remoto a clientes, seja por meio de aplicativos ou ferramentas próprias ou de tecnologias mais simples como o WhatsApp. Além disso, a estrutura mais enxuta e com menos custos também ajuda essas empresas nesse momento”, destaca.
Desde o início da pandemia, a startup Cria, de Maringá, no noroeste do Paraná, cresceu três vezes em faturamento e em número de clientes. No início do ano, eram 20 empresas atendidas, atualmente são 60. A spin-off Collection, que nasceu da Cria, também tem tido resultados expressivos, com a conquista de mais de 300 clientes nesses últimos meses.
Dos sócios Diogo Veluza Barros e Diego Locatelli Tadeu, a Cria oferece a solução de ambientes digitais principalmente para lojas de acabamentos. Por meio da plataforma, os clientes das lojas podem visualizar os produtos em um cenário virtual, sem ter que esperar um projeto. “Quando tive escritório de arquitetura, notei que a maioria das pessoas não tinha arquiteto. A ferramenta funciona como um projeto em que é possível aplicar no ambiente produtos disponíveis na loja”, explica Barros.
Com a pandemia, a plataforma, que roda online, decolou. Só neste último mês de junho, foram 30 negócios fechados com lojas de várias localidades do Brasil. A Collection, que funciona como uma biblioteca virtual de texturas para arquitetos, com produtos reais das principais marcas do mercado, também tem demandado mais trabalho. Por conta disso, a equipe da Cria, que antes era de cinco profissionais, aumentou para nove. “Antes da crise, enfrentávamos mais resistência de negócios tradicionais. Nesse contexto, as empresas estão precisando se adaptar”, pontua Barros.
Denny Mews, CEO da CargON, oferece soluções digitais para a área de logística. Crédito: Divulgação
A startup curitibana CargON, que atua na área de logística, possui um aplicativo e uma plataforma com bancos de dados de motoristas, soluções de digitalização de documentos, monitoramento de transporte e informações sobre cargas e viagens para transportadoras e indústrias.
Segundo o CEO, Dennys Mews, a empresa, que começou suas atividades em março, teve um faturamento inicial um pouco abaixo do projetado, por conta da queda de receitas das empresas. Mas, segundo ele, a CargON tem apresentado crescimento ao longo dos meses e aumentado o número de clientes que têm buscado se digitalizar. Atualmente, conta com 15 colaboradores e tem a previsão de seguir crescendo.
“Com a pandemia, muitas empresas têm procurado digitalizar seus processos para ter mais segurança em seus transportes, especialmente para terceirizadas e agregados, além de reduzir custos em um momento de crise. Elas procuram otimizar seus processos e diminuir burocracias internas com a digitalização e isso veio de encontro àquilo que oferecemos aos nossos clientes”, explica.
Perfil das startups entrevistadas no Brasil
– 58% possuem mais de 4 anos de existência no mercado em segmentos bem variados. Os segmentos de atuação que mais se destacaram na pesquisa foram: healthtech (11%), martech e edtech (9%), fintech e agritech (8%)
– 90% são pequenos negócios, principalmente em fase de operação/comercialização.
Confira abaixo outros dados da pesquisa do Sebrae, em parceria com a Finep
– 76% das startups tiveram impactos negativos nos negócios em decorrência da pandemia, sendo que 68% sofreram queda no faturamento.
– 13% das startups tiveram aumento no faturamento da empresa, apesar da crise.
– A capacidade de se reinventar das startups fica evidente quando 76% das startups não demitiram funcionários. Além disso, 16% tiveram oportunidade de contratar mais funcionários recentemente, principalmente porque ajudam na digitalização forçada dos negócios tradicionais.
– 26% tem caixa para sobreviver por 30 dias e 29% tem caixa para sobreviver por mais de 90 dias.
– 85% necessitam de crédito, principalmente para finalidade de capital de giro e para o desenvolvimento de produto, serviço ou processo novo.
– 52% das startups já tentaram crédito em intuições financeiras. Dessas, somente 9% conseguiram, 30% estão aguardando resposta e 61% não conseguiram.
– Os principais motivos de não terem conseguido crédito foram: falta de garantia real; restrição de CPF de sócio; juros muito altos e baixo score/baixo faturamento.